CREDULIDADE, CETICISMO E CIÊNCIA (Terceira Parte)
Ceticismo
O ceticismo define a atitude de questionamento para com o conhecimento, fatos, opiniões ou crenças estabelecidas. É uma atitude fundamental para o desenvolvimento da ciência. É o primeiro passo em direção à verdade, segundo Diderot (1713-1784), filósofo francês, um dos criadores da Enciclopédia e personagem notável da revolução científica e cultural do século 18, conhecida como Iluminismo. “Se um homem começar com incertezas, terminará com dúvidas; mas, se se contentar em começar com dúvidas, terminará com certezas”, escreveu Francis Bacon (1561-1626), filósofo empirista, cientista e ensaísta inglês.
Ceticismo absoluto e relativo
O ceticismo pode ter alguns graus de intensidade. O ceticismo absoluto revela que não é possível conhecer a verdade. Assim, tudo é considerado uma ilusão. O ceticismo relativo, próprio da ciência, não nega a possibilidade de conhecer a verdade, negando apenas em parte a possibilidade do conhecimento. Ele indica uma atitude baseada no método científico, que questiona a verdade de uma hipótese ou tese científica, tentando apresentar argumentos que a comprovem ou a neguem. Esse ceticismo sabe que nossos sentidos tendem a nos enganar. Se a aparência e a essência das coisas se confundissem não haveria ciência. Um exemplo: durante muito tempo nossos antepassados acreditaram que a Terra era o centro do universo, porque viam que o sol e as estrelas pareciam girar em torno de nosso planeta.
Ceticismo e dogmatismo
Segundo o filósofo Immanuel Kant (1724-1804), o ceticismo é o oposto do dogmatismo. Enquanto o dogmatismo indica uma crença numa verdade absoluta e indiscutível, o ceticismo é próprio de uma atitude de dúvida em relação a essas verdades ou à capacidade de solucionar definitivamente questões filosóficas.
Quando nasceu a ciência
No livro “O Sonho da Razão: uma história da filosofia ocidental da Grécia ao Renascimento”, Anthony Gottlieb afirma que “a ciência ocidental foi criada quando um punhado de pensadores gregos cometeu a impertinência de parar de falar de deuses e começar a procurar causas naturais dos acontecimentos”. Aristóteles classificava dois tipos de pensadores: os teólogos (theologi), para quem o mundo era controlado por impulsivos seres sobrenaturais, e os físicos (physici), ou naturalistas, que tentavam explicar um mundo aparentemente desordenado a partir de princípios mais simples e impessoais.
Num mundo em que ainda não havia ciência era preciso haver religião a fim de explicar o lugar do homem no universo.
Dúvidas
No livro Monsenhor Quixote, publicado em 1982, Graham Greene, retrata a história de Monsenhor Quixote, um padre católico, e Sancho, um ex-militante comunista. Embora com diferentes visões do mundo, desenvolvem uma profunda amizade. Numa determinada passagem, o padre Quixote diz para Sancho: “Estou repleto de dúvidas. Não tenho certeza de nada, nem mesmo da existência de Deus. Mas a dúvida não é uma traição, como vocês, os comunistas, parecem pensar. A dúvida é humana. Claro que eu quero acreditar que tudo é verdade…e esse desejo é a única coisa certa que eu sinto.”
Friedrich Nietzche (1844-1900) exclamou: “Ninguém entre aqui, se procura uma crença. (...) A necessidade de crer é o maior obstáculo para a veracidade. (...) Pensar é mudar: a serpente que não pode trocar de pele perece. O mesmo acontece com os espíritos aos quais se impede de mudar de opinião.”
Bertrand Russell (1872-1970), um dos mais influentes matemáticos, filósofos, ensaístas, historiadores e lógicos que viveram no século XX, disse que “o mal neste mundo é que os estúpidos vivem cheios de si e os inteligentes cheios de dúvida.”