O Tempo da Páscoa culminou com a festa de Pentecostes, que faz memória do envio do Espírito Santo prometido por Jesus que faz compreender tudo que foi ensinado por ele e orienta sempre para Deus e ao próximo. A liturgia da Igreja prevê nos próximos dias três solenidades: Santíssima Trindade, neste domingo; na próxima quinta-feira Corpus Christi e na semana seguinte a festa do Sagrado Coração de Jesus. Cada uma destas solenidades evidencia uma perspectiva do Mistério da fé cristã: ou seja, a realidade de Deus Uno e Trino, o Sacramento da Eucaristia e o centro divino-humano da Pessoa de Cristo. São aspectos do Mistério da Salvação, que num certo sentido resumem a vida de Jesus Cristo: o Natal, a pregação misericordiosa, a morte de cruz, a Ressurreição, a Ascenção e o dom do Espírito Santo.
A solenidade da Santíssima Trindade conduz o fiel a mergulhar na intimidade de Deus revelado por Jesus Cristo. Insistentemente Jesus afirmou que foi enviado pelo Pai, realizava a sua vontade, que era a imagem do Pai e que o Espírito Santo é enviado por ambos para continuar a mesma obra. Por fim, quando Jesus Cristo confia aos apóstolos a mesma missão que estava realizando, ordena: “Portanto, ide e fazei discípulos meus todos os povos, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, e ensinando-os a observar tudo o que vos ordenei! Es que estarei convosco todos os dias, até o fim do mundo” (Mateus 28, 19-20).
“Para quem tem fé, todo o Universo fala de Deus Uno e Trino. Desde os espaços interestelares até às partículas microscópicas, tudo o que existe remete a um Ser que se comunica na multiplicidade e variedade dos elementos, como numa imensa sinfonia. Todos os seres são ordenados segundo um dinamismo harmonioso que, analogicamente, podemos definir “amor”. Mas somente na pessoa humana, livre e racional, que este dinamismo se torna espiritual, se faz amor responsável, como resposta a Deus e ao próximo, num dom sincero de si. Neste amor o ser humano encontra a sua verdade e a sua felicidade” (Mensagem de Bento XVI, na Festa da Santíssima Trindade -11/06/2006).
O cristão crê e afirma que “Deus é amor” (1 João 4,8). É fonte de vida que se doa, se comunica sempre e “nele vivemos, nos movemos e existimos” (Atos 17,28). Diante disso, cada pessoa e, e com maior responsabilidade, cada cristão deve viver em relação para amar e ser amado. Neste tempo de catástrofes, focando particularmente o Rio Grande do Sul, percebemos que somente o amor salva, pois forma comunidade e nos faz responsáveis pelo outro. A opção pelo outro sempre deve ser livre e racional para ser verdadeiro amor. Cria-se comunhão, pois todos pertencemos uns aos outros. Não somos estranhos ou inimigos dos conhecidos ou desconhecemos, dos distantes ou dos próximos, mas somos todos irmãos.
O Papa Francisco, na carta ecncíclica Fratelli Tutti sobre a amizade social, escreve: “Desejo ardentemente que, neste tempo que nos cabe viver, reconhecendo a dignidade de cada pessoa humana, possamos fazer renascer, entre nós, um anseio mundial de fraternidade. Entre todos: Aqui está um ótimo segredo para sonhar e tornar a nossa vida uma bela aventura. Ninguém pode enfrentar a vida isoladamente; precisamos duma comunidade que nos apoie, que nos auxilie e dentro da qual nos ajudemos mutuamente a olhar em frente”. [...] Sonhemos como uma única humanidade, como caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz, mas todos irmãos (n. 8).”Cuidar do mundo que nos rodeia e sustenta significa cuidar de nós mesmos. Mas precisamos de nos constituir um ‘nós’ que habita a casa comum” (n.17).
A festa da Santíssima Trindade e todas as relações ajuda com o próximo, em tempos de catástrofes ou na rotina da vida, sejam de grande porte ou pequenas, são um apelo de conversão para o “nós”. O oposto que é o individualismo, a indiferença, a frieza agride e destrói.