OPINIÃO

CIÊNCIA (Primeira Parte)

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Motivo de orgulho da humanidade

Steven Pinker, no livro “O Novo Iluminismo: em defesa da razão, da ciência e do humanismo”, afirma que a ciência (conhecimento) é um campo de realização de que podemos nos orgulhar tranquilamente diante de qualquer tribunal. Embora nossa ignorância seja imensa – sempre será -, graças à ciência podemos explicar muita coisa sobre a história do universo, sobre as forças que o fazem funcionar, as coisas de que somos feitos, a origem dos seres vivos e o mecanismo da vida, inclusive de nossa vida mental. Nosso conhecimento é espantoso e cresce a cada dia. Quando Watson e Crick descobriram a estrutura do DNA eles não poderiam sonhar que um dia o genoma de um fóssil de neandertal de 38 mil anos seria sequenciado e se descobriria que continha um gene ligado à fala e à linguagem.

 

Melhorias extraordinárias na saúde

Talvez seja na saúde que a importância da ciência revela de maneira mais clara sua extraordinária capacidade de melhorar a nossa vida. A ciência, diz Pinker, nos concedeu o dom da vida, da saúde, da riqueza, do conhecimento e da liberdade. Graças ao conhecimento científico a varíola foi erradicada, uma doença dolorosa e desfigurante que matou 300 milhões de pessoas só no século 20. Vale repetir: a varíola matou 300 milhões de pessoas apenas no século 20. Outros milhões morreram ao longo da história.

 

A mais devastadora causa de mortes

Doenças infecciosas provocavam epidemias que matavam milhões, dizimavam populações inteiras. Um exemplo é a febre amarela, uma doença viral transmitida por mosquitos. Pinker cita o caso de uma epidemia em Memphis (1878): os doentes haviam “se arrastado para bairros deformados, e seus corpos só foram descobertos mais tarde pelo fedor de carne em decomposição (...) Uma mãe foi encontrada morta com o corpo esparramado na cama (...) vômito preto como grãos de café respingado por toda parte (...) os filhos rolando no chão, gemendo”. Epidemias levadas pelos primeiros europeus devastaram os povos que não tinham imunidade na América, na Austrália e nas ilhas do Pacífico.

 

Homens ricos e poderosos também morriam

Em 1836, Nathan Meyer Rothschild, então o homem mais rico do mundo, devido a um abcesso infectado. Além dos ricos, homens poderosos também morriam. Vários monarcas britânicos foram abatidos por disenteria, varíola, pneumonia, tifo, tuberculose e malária. Rothschild morreu antes de surgir a teoria microbiana e, por conseguinte, antes de qualquer noção da importância da higiene e da limpeza. E assim morreu o homem que podia comprar qualquer coisa, vítima de uma infecção banal, facilmente curável hoje em dia para quem procurar um médico, um hospital ou um farmacêutico.

 

A batalha contra as doenças

A humanidade sempre lutou contra as doenças. Mas faltava o conhecimento trazido pela ciência. A luta era feita com orações, benzeduras, rituais, sacrifícios, sangrias, ventosas, metais tóxicos, homeopatia. O sofrimento, a ignorância e a boa-fé das pessoas ofereciam oportunidades para os charlatães - ainda oferecem. A partir do século 18 a batalha começou a virar, principalmente graças à invenção da vacina. Esse processo foi acelerado no século 19 com a aceitação da teoria que os germes causavam doença. Procedimentos como a lavagem das mãos, obstetrícia, controle de mosquitos e a proteção da água potável por sistemas públicos de esgoto e água encanada clorada salvaram bilhões de vidas.

 

Heróis na batalha contra as doenças

Steven Pinker vê um significativo desrespeito pela ciência entre os políticos de direita nos Estados Unidos (O Novo Iluminismo, p. 89). Também registra um certo descaso que parecia não existir no seu tempo de menino quando a literatura infantil costumava se referir às biografias heroicas dos pioneiros da medicina como Edward Jenner, Louis Pasteur, Joseph Lister, Alexander Fleming entre outros. Esse desrespeito e desconhecimento também se vê aqui entre nós. Não é pequeno o número de gente que trabalha na área da saúde que desconhece quem foi Edward Jenner (1749-1823), inventor da mais formidável arma contra a doença, a vacina. Conheci gente do métier que não sabe como surgiu a vacina e nem o porquê da vacina se chamar vacina. E o que parece pior: fazem campanha contra a vacinação.

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