OPINIÃO

Que em paz descanse, Maria Regina

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Nesse 1º de junho de 2024, haverá passado um ano da morte da bibliotecária e particular amiga Maria Regina Cunha Martins. Em intenção da sua memória, familiares e amigos estão convidando para uma missa na Catedral de Passo Fundo, às 18h, visando à celebração do primeiro aniversário da sua morte. Uma data, no caso de Maria Regina, emblemática, uma vez que, assim determinou o destino, aniversários de nascimento morte se confundem. Quando do passamento de Regina, em 2023, escrevi detalhes sobre a sua vida, nesse espaço de O NACIONAL, que, a nosso ver, sobre pessoas singulares como ela, nunca é demasiado reprisar.

Maria Regina Cunha Martins ficou conhecida em Passo Fundo como a bibliotecária da Embrapa Trigo e a mulher das causas sociais. Morreu em Porto Alegre, no dia 1º de junho de 2023, por ocasião do aniversário de 67 anos, vitimada por um melanoma.

Regina Martins nasceu em Porto Alegre, filha do casal Jaime Gomes Martins (falecido) e Lecy Tereza Cunha Martins, mas viveu a infância e a adolescência em Rosário do Sul, cidade que identificava como a sua terra natal. Depois, retornou à capital do RS, formando-se em Biblioteconomia na UFRGS, em 1978, e, após breve passagem pelas Faculdades Canoenses (atual ULBRA), ingressou na Embrapa, em 16 de junho de 1980, radicando-se em Bento Gonçalves, onde assumiu como bibliotecária da Embrapa Uva e Vinho (na época Embrapa UEPAE de Bento Gonçalves). Em julho de 1992, foi transferida para Passo Fundo, e comandou, com maestria, até a sua aposentadoria, em 9 de dezembro de 2019, a Biblioteca da Embrapa Trigo.

Infelizmente, os planos da Regina, para a vida após a aposentadoria, que incluíam uma longa temporada de viagens pela Europa, acabariam frustrados. Primeiro, de triste lembrança, sobreveio a pandemia da Covid-19 e, depois, a descoberta de um melanoma na perna, que deu início ao périplo das cirurgias, das imunoterapias, de hospitalizações, das viagens a São Paulo, até a derradeira participação num projeto internacional de melanoma, no Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre.

Sobre a personalidade de Regina Martins, sobressaiam-se traços de arroubo e paixão em tudo que se envolvia e, diga-se, sem qualquer sinal de arrefecimento, até a chegada da hora derradeira. Foi assim o seu entusiasmo e ativismo nas festividades alusivas à Embrapa e, especialmente, nas ações humanitárias que participava em Passo Fundo. Foi a primeira mulher a presidir o Rotary Clube Passo Fundo, em 1999, seguindo-se dois mandatos, em que se preocupou com o resgate da memória da organização e com a ampliação das ações comunitárias e com a impulsão do relacionamento internacional da entidade. Apoiadora incondicional da Liga Feminina de Combate ao Câncer de Passo Fundo, deu vida ao Caquito, o mascote do Centro Assistencial à Criança com Câncer (CACC), cujo personagem idealizou e vestia a fantasia, durante as campanhas de venda de tickets do Dia do McLanche Feliz. Além de participar, ativamente, da organização das tradicionais Festas das Mimosas, apoiadas pelo Clube Comercial, em benefício de entidades assistenciais.

Regina Martins incorporou, como poucos empregados, a cultura da Embrapa. Defensora incondicional da organização e da preservação dos acervos documentais das bibliotecas da Empresa. Sofria e lutava para que bibliotecas não fossem fechadas, tese defendida por aqueles que imaginam que tudo pode ser resolvido no mundo digital. O relatório que apresentou, quando da sua aposentadoria, sob o título “Biblioteca x Informação x Profissional bibliotecário” é, ao mesmo tempo, um libelo, contra o desvario dos que defendem o fechamento de bibliotecas, e um legado, deixado em testamento, para os que pensam o contrário. Deu destaque ao papel das bibliotecas como centro de documentação e dos bibliotecários como profissionais da informação. Conclamou por mais pessoal nas bibliotecas e mais verba para atualização de acervos. Afinal, frisou com a sua contumaz ênfase, “As bibliotecas armazenam a memória histórica, técnica e científica da Embrapa. Os acervos precisam ser preservados! Biblioteca é cultura, biblioteca é conhecimento, biblioteca é pesquisa!”. Que assim seja, Regina!

Nas exéquias de Regina Martins, realizada no Crematório Metropolitano, em Porto Alegre, não faltou emoção nas falas de despedida. Tampouco faltarão nessa missa alusiva à sua memória. Nas palavras do sacerdote que conduziu a cerimônia, era a “festa da cura”, que ela tanto queria celebrar, mas, no caso, a “festa da cura da alma”. Regina era uma pessoa muito intensa. No dia do seu aniversário, fazia questão de telefonar para os colegas e convidar para irem até a biblioteca e lhe darem um abraço. Invariavelmente, retribuía com uma fatia de bolo, uma xícara de chá ou um bombom. Por isso, espero que, no fatídico 1º de junho de 2023, alguém tenha conseguido dar o abraço que ela tanto reivindicava e que tenha, pelo menos, conseguido retribuir com “obrigada e adeus”.

Regina Martins deixou a prantear a sua memória, o marido João Carlos Haas, a mãe Lecy Tereza e o cachorrinho Tommy, além de irmãos, cunhados, sobrinhos, primos e uma legião de colegas e amigos. Requiescat in pace, Regina!

SUGESTÃO DO COLUNISTA: O livro “Ah! Essa estranha instituição chamada ciência” está disponível em versão Kindle na Amazon: https://www.amazon.com.br/estranha-instituição-chamada-ciência-Borgelatria-ebook/dp/B09Q25Q8H8

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