Passamos por uma era de instabilidade geopolítica, depois de algumas décadas de relativa estabilidade. Guerras por territórios ressurgem, com a invasão russa na Ucrânia. Um eixo autocrático emerge com o objetivo de esculhambar com a ideia de Ocidente. A China busca projeção a partir de uma diplomacia agressiva e há o risco de Taiwan. Ameaças da Coreia do Norte. Um novo Oriente Médio e uma guerra em Gaza sem previsão de término, assim como a guerra na Ucrânia. Ameaça nuclear ressurge. Europa ameaça um jogo perigoso na Ucrânia, tudo o que Putin precisava. O risco climático surge como uma ameaça também geopolítica. A “Guerra Fria” tecnológica entre EUA e China desponta. Para este ano ainda, eleições nos EUA e no Reino Unido. Esses são apenas alguns exemplos da atual instabilidade. Torna-se necessário investigar as suas causas e projetar os delicados cenários.
Causas
Creio que o primeiro grande motivo da presente desordem geopolítica seja o déficit de lideranças no Ocidente. Já tivemos um Churchill, um Reagan etc. Hoje temos Biden e Macron, entre outros. A dificuldade dos líderes atuais em impor a agenda internacional, sem dar espaço às aventuras de um eixo autocrático, abriu um espaço de atuação. Putin se sentiu livre para invadir a Ucrânia. O Irã e os seus braços armados também. Assim como a China conduzindo exercícios militares de grandes proporções na ilha de Taiwan. Enquanto o eixo das ditaduras busca projetar a sua realpolitik, o Ocidente perdeu tempo com outras pautas. Abriu-se uma janela de oportunidade. O segundo grande motivo é a completa falência do sistema multilateral e das organizações internacionais. As operações de paz, em grande medida, falharam. Funcionários das Nações Unidas estiveram envolvidos na invasão dos terroristas em Israel. Um Conselho de Segurança defasado, onde o poder de veto consegue trancar a pauta, conforme os interesses das potências, entre elas a China e a Rússia (eixo autocrático). O sistema multilateral acabou e a partir daí emerge um mundo de cada país por si próprio, com a forte contestação do eixo autocrático.
O que esperar
Enfim, o que podemos esperar para este ano? Duas grandes guerras sem fim, na Ucrânia e em Gaza. Futuro incerto do Leste Europeu e do Oriente Médio. As eleições americanas irão marcar uma importante mudança no contexto geopolítico, com o favoritismo de Trump. O eixo autocrático buscará novas ações para esculhambar o Ocidente. As eleições no Reino Unido também podem marcar um novo tom, com a possibilidade dos conservadores saírem do poder e uma possível revisão do Brexit. Os exercícios militares chineses em Taiwan vão tomar proporções ainda maiores. A parceria “sem limites” entre a Rússia e a China se fortificará. As ameaças norte-coreanas dobrarão, a ditadura que é a personagem cinematográfica do eixo autocrático. A política externa brasileira vai adentrar no isolamento. Os grandes líderes ocidentais já ignoram Lula, cuja ideia é a de se aproximar do eixo autocrático, achando que o Brasil tomaria lugar de liderança em uma nova configuração da geopolítica. Uma nova era geopolítica busca se estabelecer. Nela, será indispensável a revisão da realpolitik, em substituição ao falhanço multilateral. Precisaremos de líderes fortes, com brios, para que o Ocidente não esteja em xeque.