OPINIÃO

Teclando - 05/06/2024

Meus grãos de areia

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Meus grãos de areia

Não bastassem as mortes e os estragos das águas de maio, agora ainda querem levar alguns pedaços paradisíacos que nos pertencem. Sim, vieram com essa cilada para privatizar trechos de praias. Interessante é que iniciam regularizando o irregular, um privilégio aos infratores. Vira e mexe, surgem propostas para abocanhar o que é de uso ou propriedade coletiva. São planos travestidos pela falsa modernidade. Colocam à mesa o verbo privatizar com os mais sórdidos argumentos. Sim, propostas imorais para abocanhar aquilo que não é seu. É de todos.

Há uma cobiça por obter vantagens com aquilo que é público. Isso em vários segmentos e nas mais inusitadas situações. Calçadas, que são passeios públicos, canteiros e praças atiçam o olho grande de aproveitadores. A praia é de todos e não privilégio para alguns. Lembro-me quando Brizola construiu a Linha Vermelha no Rio de Janeiro. A obra facilitou o acesso à praia para as pessoas que moravam nas favelas. E a turma desceu o morro, para indignação de narizes torcidos de madames que se achavam as únicas donas do pedaço.

Já a tentativa de usurpar a areia onde pisamos, como é de praxe, tem os interesses das cartas marcadas. Morei por 11 anos no litoral e conheço bem a ambição infinita de fugazes empreendedores. Utilizam a técnica do ‘se colar colou’. Projetam avançar 20 metros. Se não der, invadem 10 metros. Se bater fiscalização, recuam e, então, avançam nem que seja 5 centímetros. Mas invadem. Depois assinam termos de ajustamento etc. A argumentação vem rotulada de empreendedorismo e usa a muleta da geração de empregos.

Mas, cá entre nós, um bom empreendedor é ferrenho defensor da propriedade. Ora, então, por que não respeitar a propriedade coletiva? Isso é uma proposta de privatização ou de privataria? Então, se for assim, eu também quero o meu pedacinho de litoral. Pois bem, ao invés de avançar em direção ao mar, deveriam recuar por respeito à natureza e também para preservar seus próprios investimentos. Porque, como bem sambemos, logo, logo o mar irá reaver o que lhe foi usurpado. É a reação da natureza diante da ganância.

Na parada

As pessoas estão mais mal-educadas ou liberou geral? Na parada de ônibus aqui em frente, vejo, simultaneamente, cinco automóveis estacionados na área destinada aos ônibus. Sim, ocupam a metade do piso em concreto. E permanecem um bom tempo ali, como se não estivessem cometendo nenhuma irregularidade. O pior é que entre os cinco infratores, um dos automóveis está equipado com um alto-falante com apelos de evangelização para uma igreja. Com esse gesto grotesco, dificilmente conseguirão arrebatar mais ovelhas ao seu rebanho. Até porque o carro ficou mais de meia hora atormentando as pessoas. E os ônibus? Ah, os motoristas dos coletivos fazem o que podem para parar e manobrar em espaço reduzido. Já os imbecis dos automóveis que param em local proibido, não estão nem aí. Tudo bem. De fato, são mal-educados. Mas será que ninguém poderia coibir isso com uma boa dose de didáticos corretivos? Sim, as multas são educativas e machucam o bolso da idiotice.

Fraternidade I

A palavra fraternidade lembra união. Certamente, é pela união e harmonia entre as pessoas que a Igreja Católica através da CNBB, desde 1962, realiza a Campanha da Fraternidade. O tema deste ano é “Fraternidade e Amizade Social”. Independente de crédulos, a proposta merece ampla reflexão. O comportamento das pessoas altera-se a cada dia, incluindo novidades e excluindo antigos valores. Em alguns casos, entendo que estamos diante da imbecilidade travestida de modernidade. Entre baboseiras na garupa da tecnologia, vejo que a Campanha da Fraternidade é um apelo oportuno. Está na hora de valorizar a boa convivência e salvar as amizades sociais.

Fraternidade II

Enchente, tragédia e desespero. Um momento delicado que permite mensurar a sensibilidade das pessoas. Confesso que não esperava ver tamanha fraternidade dos brasileiros para com os gaúchos. Não falo em homens públicos, politicagem, ideologias ou promoções pessoais. Falo do sentimento que tomou conta das pessoas diante da tragédia. Essa conduta, sim, é sinônimo de fraternidade. E é essa fraternidade que aponta para a esperança. Há esperança de que nem tudo estará perdido enquanto houver sentimentos fraternos. É a fraternidade do abraço que ampara e da mão estendida que ajuda.

Centenário

A contagem não para: faltam 378 dias para o Centenário de O Nacional.

Trilha sonora

Eliana Pittman - Esse Mar É Meu


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