OPINIÃO

A mão invisível de Junior Edison Colla

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A mão invisível de Junior Edison Colla

Junior Edison Colla, o técnico agrícola que, nos últimos 48 anos, trabalhou no setor de produção de sementes da Embrapa, morreu em Passo Fundo, no dia 28 de maio de 2024. Tinha 73 anos e foi vitimado por um câncer, contra o qual lutou nos últimos tempos. Colla foi uma pessoa extremamente reservada, na vida pessoal e no ambiente de trabalho. Assim como viveu, saiu de cena: discretamente. Tudo leva a crer que, para ele, morrer trabalhando foi um prêmio e não um sacrifício.

Egresso da turma de formandos de julho de 1973, pelo Colégio Agrícola de Sertão, iniciou na Embrapa em 17 de maio de 1976. Permaneceu no mesmo posto de trabalho e, com o mesmo entusiasmo e dedicação de sempre, enquanto pode. Nunca se permitiu parar de trabalhar, apesar de há anos ter adquirido o direito à aposentadoria. Pelas suas mãos, sem que os usuários externos e nem mesmo alguns colegas de Empresa dessem-se por conta, passaram inúmeras cultivares de trigo, de cevada, de triticale, de aveia preta e de soja, lançadas pela unidade local da Empresa, sob a denominação das siglas CNT, BR, Embrapa e BRS. A “mão invisível” do Junior, no cuidado e organização do processo de produção das sementes oriundas dos programas de melhoramento genéticos vegetal, que, na ordem, transformam-se em semente genética e depois em sementes comerciais usadas nos campos de produção dos agricultores, foi fundamental.

Aroldo Gallon Linhares e Luiz Eichelberger, os pesquisadores, atualmente aposentados, com os quais Junior Edison Colla trabalhou a maior parte do tempo, durante a sua carreira na Embrapa, se unem em tributo à memória e de reconhecimento ao trabalho desse valoroso técnico agrícola. São sabedores que, ao longo dos anos, ele, com o esmero que lhe era peculiar, semeou, cuidou, purificou e colheu milhares de parcelas de trigo, de cevada, de triticale, de aveia preta e de soja. Nesse entremeio, muitas linhagens criadas pelos melhoristas da Empresa foram descartadas nos diferentes anos de avaliação, enquanto outras, sempre passando pelas suas mãos, nos últimos 48 anos, acabariam sendo levadas às lavouras, especialmente, no sul do Brasil. Aroldo e Luiz não dispensam adjetivos como competente, trabalhador, responsável, dedicado, amável no trato e de comportamento pessoal exemplar, quando a referência é o Junior Colla.

Para Junior Edison Colla, não havia tempo ruim para o trabalho. Inverno ou verão, nunca deixou de executar a programação da Empresa. Passou por diversas fases no setor de produção de sementes da Embrapa, sem nunca esmorecer. Desde o início, nos anos 1970, quando lidava com uma semeadora de sete linhas, recebida da Alemanha, via Projeto FAO, que tinha de ser rebocada por um trator pequeno, seguido de colheita manual com foices, passando pelo uso de protótipos de máquinas de plantio direto, até a chegada das máquinas modernas para semear e colher, em tempos recentes. Ainda, ao longo dos anos, colaborou na orientação de muitos estagiários que usufruíram da sua vasta experiência em produção de sementes.

O principal legado deixado por Junior Edison Colla na produção de sementes na Embrapa Trigo, reconhecidamente, foi a organização do controle de todo o processo, que incluiu a administração de uma câmara de conservação de sementes, onde eram armazenadas quantidades estratégicas de sementes de linhagens e de cultivares, com a finalidade de suprir demandas futuras. Eu mesmo, nos últimos 34 anos, me servi dos préstimos do colega Colla no fornecimento de sementes diversas para a realização de experimentos.

Também, nunca faltaram histórias que, hoje, fazem parte do anedotário local, sobre Junior Edison Colla. Eis uma contada pelo seu ex-chefe e amigo Luiz Eichelberger. “Consta que certa feita ele foi participar, pela Embrapa, de um dia de campo. Na região habitavam alguns familiares que ele não via há muito tempo. Foi procurá-los e se apresentou (os nomes são fictícios): - Sou filho da Dona Vira, onde encontro a tia Béti? - Morreu, disse uma senhora de idade avançada. – E a tia Rosa? - Morreu há dois anos, respondeu a senhora. - E a tia Maria, também morreu? - Essa não, retrucou a senhora, essa sou eu”.

Junior Edison Colla deixou, a prantear a sua memória, a esposa Odete, a filha Ana Carolina, o genro Rodrigo e as netas Alice e Laura. Requiescat in pace, Junior!

(Colaboraram com informações: Marli de Camargo, Aroldo Gallon Linhares, Luiz Eichelberger, Ivegndonei Sampaio e Jaisson Centenaro.)

SUGESTÃO DO COLUNISTA: O livro “Ah! Essa estranha instituição chamada ciência” está disponível em versão Kindle na Amazon: https://www.amazon.com.br/estranha-instituição-chamada-ciência-Borgelatria-ebook/dp/B09Q25Q8H8

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