Toda Sagrada Escritura usa muitas formas para ensinar. Em particular os ensinamentos de Jesus oferecem uma grande variedade de linguagens e entre elas estão as parábolas usadas com maestria, conforme a liturgia dominical (Ezequiel 17,22-24, Salmo 91, 2 Coríntios 5,6-10 e Marcos 4,26-34). Para anunciar o mistério do Reino de Deus se faz necessário usar todos os recursos metodológicos e linguísticos disponíveis. Também é preciso considerar a diversidade dos destinatários que assimilam de forma diversa o ensinado.
“A parábola é uma forma que, ao mesmo tempo, ilumina e vela a verdade; a coloca ao alcance das pessoas mais simples, mas, dizendo as coisas de modo indireto, a protege também de mal-entendidos e de instrumentalizações. [...] A parábola é um gênero literário caro aos orientais. Se trata de uma semelhança, ou de uma comparação, mas não de uma semelhança abstrata e cerebral, mas concreta, trata da vida vivida. Essa permite de fixar um ensinamento em imagens vivas que se imprimem nos olhos, na imaginação, na memória” (Cardeal Raniero Cantalamessa).
“O Reino de Deus é como quando alguém espalha a semente na terra”. Portanto, o ensinamento de Jesus é sobre o Reino de Deus. Sobre o senhorio de Deus e sua presença eficaz no mundo. A semente lançada na terra, todo percurso de germinar, crescer e amadurecer até a colheita apontam para o Reino de Deus. Jesus sugere várias semelhanças entre a semente e o Reino de Deus.
A semente, aparentemente sem vida e pequena, carrega dentro de si um potencial imenso. A presença de Deus no mundo não é ostensiva, normalmente é discreta e aparentemente ineficaz. Por outro lado, se constata por todos os lados fatos que revelam Deus agindo através dos gestos de caridade, solidariedade, de misericórdia, de oração, de formação de comunidades. Os ensinamentos de Jesus vão se concretizando nos mais diferentes lugares. Ensinamentos que as pessoas aprenderam, não se recordam quando e onde, mas se desenvolveram e agora produzem fruto.
Mas qual a minha parte para que sementes de Deus produzam frutos? Sim, o Reino de Deus precisa da colaboração humana, do seu empenho e do seu suor. Santo Inácio de Loyola dizia: “Aja como se tudo dependesse de ti, sabendo, pois, que na realidade tudo depende de Deus”. Em primeiro lugar, se faz necessário ser a terra que acolhe a semente, dar espaço para se desenvolver, não a sufocar, não a arrancar antes da hora.
A parábola ensina também sobre a esperança e sua parente próxima a paciência. Na bula “A esperança não decepciona” para o Jubileu de 2025, o Papa Francisco escreve: “Habituamo-nos a querer tudo e a querer agora, em um mundo onde a pressa se tornou uma constante. [...] A paciência foi posta em fuga pela pressa, causando grave dano às pessoas”. Na parábola Jesus ensina: “Ele vai dormir e acorda, noite e dia, e a semente vai germinando e crescendo, mas ele não sabe como isso acontece”. Humanamente desejamos que as ações de Deus aconteçam no tempo estabelecido por nós. Temos pressa e muita pressa. A reação pode ser de decepção e de frustração por não podermos colher os frutos das sementes semeadas e do nosso empenho evangelizador. Jesus alerta dizendo que o comando não está nas mãos humanas, mas em Deus. Portanto, é hora de reafirmar e fortalecer a virtude teologal da esperança e sua parenta próxima a paciência e confiar que as sementes do Reino de Deus desabrocharão na hora oportuna e darão os seus frutos.
Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo