OPINIÃO

Teclando - 19/06/2024

O tempo e as páginas

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O tempo e as páginas

Medimos o tempo em frações de um segundo ou mesmo em milênios. Independente das escalas, são esses intervalos que mensuram a nossa existência terráquea, a duração, permanência ou passagem de algo. É através do tempo que marcamos a idade dos seres humanos e daquilo que é feito pelas mãos do homem. O tempo vivido é sempre motivo de muito orgulho e efusivas comemorações. Não é diferente em relação ao O Nacional, que, hoje, fecha a marca de 99 aninhos. Porém, em se tratando de um Jornal com suas bem-conhecidas e enaltecidas peculiaridades, o tempo também exerce uma medição de valores.

E valores não são adquiridos ali numa esquina, pois exigem berço, boa criação, nutrição material e espiritual, saúde ética e cuidadosa conservação permanente. Então, hoje, a festa de 99 anos não é apenas de uma publicação. Comemoramos um período da existência de um conjunto de princípios. Além de o palpável, está o imaterial que os valores desenharam ao passar do tempo. E não falo apenas em relação a esse conhecido perfil de O Nacional. Esses traços vão muito além, pois o Jornal age como um satélite natural da sociedade. Atua como um neurotransmissor ao absorver e repassar informações.

É, ainda, agente de criação, pois nunca esteve limitado apenas à função de veicular. Desde sempre, O Nacional também é protagonista da evolução socioeconômica de Passo Fundo e região. Ser personagem da própria história que escreve é um predicado que muitos tentam e pouquíssimos podem ostentar. Ora, são 99 anos e sequer ouso calcular volumes de papel, tinta ou exemplares. Bem mais adequado é somar valores e condutas. Isso, sim, é um privilégio!

Seu Múcio

Aproveitando o gancho, lembro-me que manuseei uma edição de O Nacional pela primeira vez lá em 1976. Fazia vestibular e vários exemplares estavam na recepção do Turis. Nos meses seguintes, encontrava ON na mesinha de centro do Diretório Acadêmico da Faculdade de Direito. Depois, em 1979, sob o crivo do Padre Paulo Farina, vim de mala e cuia do antigo 8º Distrito (Erechim) para Passo Fundo. No mesmo ano, o Guaraci Teixeira, redator-chefe da Planalto, convidou-me para acompanha-lo numa visita a O Nacional. Era uma recepção alusiva aos 54 anos do Jornal. Fui apresentado ao Seu Múcio, o qual entrevistei, e sua equipe. Naquele momento compreendi a dimensão de Passo Fundo.

Na vitrine

O bom vínculo entre a Rádio e o Jornal permitiam um relacionamento mais próximo entre as equipes. E logo estávamos todos saboreando um parmegiana de caçarola na Cantina Nápoli. Ou, em extremo sacrifício, tomando um chope da Brahma com bolinho de bacalhau no Gageiro. Havia a reciprocidade de um cavalheirismo entre os dois veículos. Até escrevi artigos para ON, que citávamos em nossa programação. As amizades aumentaram e fiquei muito próximo ao Jornal. Como presente, pude participar das rodadas de fim de tarde que reuniam a nata pensante, pois da Redação de O Nacional fervilhavam histórias e novas ideias. Enfim, senti-me um passo-fundense. E, cá entre nós, ali foi a minha vitrine pessoal e profissional.

Na redação

Argeu Santarém, parceiro de muitas lidas, sugeriu ao Celestino Meneghini, que era o editor-chefe, que eu fosse contratado. Múcio Filho, ou simplesmente Mucinho, que já comandava O Nacional, deu bobeira e me contratou. Na redação, sentava-me na primeira mesa à frente do Santa e do Meneghini. As minhas dúvidas ortográficas recebiam duas didáticas elucidações: o ex-seminarista Meneghini respondia em latim, enquanto Santarém não perdoava com irônicas ou sarcásticas respostas. Uma aula! Em seguida, a Fátima Trombini assumiu como nossa editora já abrindo uma nova fase editorial.  

Os jovens

Após um breve hiato, voltei a O Nacional nos anos 1990. Com a Zulmara Colussi no comando, enfrentei uma reciclagem para me adaptar à redação informatizada. Aliás, a primeira no Interior do RS! Mais tarde, assumi a condição de editor de ON, posto que sempre considerei como o topo da mídia passo-fundense. Chegou a nova safra de jornalistas, ainda acadêmicos da primeira turma de Jornalismo da UPF. Não cito nomes, pois depois dos 40 a memória pode negligenciar. Foi a melhor troca de experiências profissionais que eu já tive. Gurizada excelente, pessoas queridas com quem muito aprendi.

Vaivém

Após bate e volta à SC, mais uma vez me aceitaram no Jornal. A Zulmara estava de volta ao comando e fui acolhido por uma nova e receptiva galera. Hoje, nosso chefe é o Gerson Lopes, um camisa 10 clássico na bola, nas lentes e nas letras. E paro por aqui, por falta de espaço e excesso de orgulho em vestir essa camisa.

Centenário

Faça os cálculos. Se hoje O Nacional completa 99 anos, então, faltam _ _ _ dias para o Centenário.

Trilha sonora

Elis Regina – O Primeiro Jornal

 

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