OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Tenho o costume de reiterar que é muito mais difícil terminar uma guerra do que iniciar uma. Isso se dá por uma série de fatores, sendo o mais relevante a complexidade de um processo de paz. Basta considerarmos que grande parte das missões das Nações Unidas para a reconstrução da paz, restaram ineficientes, como podemos ver de forma cristalina no caso do Haiti, entre outros. Para o restabelecimento da ordem, impõe-se que um modelo normativo-moral possa surgir e aqui é que começam as contrariedades, entre elas: como compatibilizar modelos culturais distintos, a estrita (ou não) observância do Direito Internacional, as formas mais adequadas de restituição etc. A partir da ótica da realpolitik e de um mundo considerado anárquico, torna-se difícil a integração de um modelo de paz com contornos morais e normativos. Essa dificuldade pudemos observar na “proposta de paz” de Putin à Ucrânia, que na verdade era um plano de rendição, exigindo a entrega de grandes porções territoriais, a não entrada da Ucrânia na OTAN, a entrega de todas as armas etc. – enfim, como uma nação que fora violada a partir do princípio da soberania e da integridade territorial iria se entregar assim, facilmente – só no delírio soviético de Putin, que rasgou por completo o Direito Internacional.

 Cúpula da Paz na Suíça

 Tomou lugar recentemente a maior cúpula para discussão de um processo de paz no caso Rússia versus Ucrânia, na Suíça, com participação massiva, mas incapaz de chegar a um consenso, nesta matéria de alta complexidade, cumpre dizer. Dos quase 80 países e organizações internacionais que participaram, não assinaram o documento final: México, Emirados Árabes Unidos, África do Sul e Arábia Saudita (países que por sinal mantêm laços comerciais importantes com a Rússia. O principal compromisso dialogado fora a questão da soberania e integridade territorial (e Putin não reconhece a Ucrânia como uma nação soberana). Para Zelensky, não haverá paz que se sustente, sem que a integridade territorial prevaleça. Na ocasião, os EUA comunicaram mais um pacote de ajuda militar à Ucrânia, de 1,5 bilhão de dólares. Os líderes dos países participantes agora cogitam convidar Putin para uma segunda edição, por mais que exista a questão da incompatibilidade, que é notária, visto o “plano de rendição” apresentado pelo Kremlin, que certamente não pode ser levado a sério.

 Algumas considerações

 Negociar um processo de paz, cuja base se fundamenta no Direito Internacional, para um líder de mentalidade soviética e expansionista, como Putin, é algo improvável. Já é tarde demais para Putin assumir que a sua guerra de atrito é um esforço inclinado ao insucesso, do ponto de vista tático e estratégico. Este é o problema de uma guerra de atrito como vemos na Ucrânia: um impasse, onde não haverá vencedores, se não, perda para todos os lados, em algo que pode se arrastar, sem qualquer previsão de término. Zelensky, por seu turno, também não quer admitir que o futuro é incerto para ambos, mesmo com a incerteza sobre futuros pacotes de ajuda. Terminar uma guerra é muito mais complexo do que iniciar uma. Por mais que os otimistas possam vislumbrar um plano de paz, não há qualquer indício de que isso possa ocorrer, justamente pelas visões diametralmente opostos, do Putin e do Ocidente.

 


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