OPINIÃO

Debate Criminal: Um segundo Olhar

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Ao olhar para uma notícia criminal somos naturalmente levados à condição de(a) vítima. “E se fosse comigo?”. “Poderia ser com minha filha família”. Quer dizer, é automática a sensação de que aquele injusto poderia acontecer conosco. É fácil colocar-se no lugar da vítima.

Por outro lado, é incomum que nos coloquemos como potenciais criminosos. “Eu? Eu, não! Jamais faria isso”.

O criminoso é sempre o outro. É uma questão cultural. 

Todavia, aos olhos da Lei, todos somos potenciais delinquentes. E isso não é motivo de ofensa. É apenas a constatação de que qualquer pessoa pode infringir normas criminais. É que a lei penal não tem (não deveria ter) partido, religião, gênero, etnia. Ela é universal.

Foi justamente isso que as águas das enchentes trouxeram à tona. Alguém imaginava que uma empresa de artigos para animais, com nome consolidado no mercado e faturamento de bilionário, poderia se ver envolvida em uma investigação criminal por maus-tratos a animais?

Não é a pretensão fazer juízo de valor sobre a “culpa” ou não da empresa. A questão é: será que os funcionários e os proprietários pensaram que em algum momento seriam possíveis suspeitos de crimes?

Acontece que, da noite para o dia, nos vimos literalmente mergulhados na maior catástrofe natural do estado, o que obrigou muitas decisões e condutas urgentes. Todas essas ações possuem o limite da Lei. E é por isso que qualquer pessoa está sujeita a prestar esclarecimentos a autoridades policiais ou judiciais.

O que quero dizer é que bastou um momento de exceção para que pessoas, que jamais se viram como delinquentes, tivessem suas condutas julgadas nas redes sociais como se criminosos fossem. O sistema é assim.

E se esse mesmo sistema te colocar como o inimigo da vez? Você, que sempre esteve no papel da vítima, como reagirá na condição de investigado?

Estou certo que você precisará de um advogado e desejará que respeitem a presunção de sua inocência, sem avaliações apressadas, nas redes sociais, sobre o seu caráter.

Pois é. Esse é o desejo de toda pessoa suspeita. Acontece que uma sociedade que só se projeta como vítima, jamais respeitará as condições do “outro”. Só entendemos quando sentimos na pele.

Como diria o personagem de um famoso filme brasileiro: “o sistema é fod*, parceiro”. Ele te ensina a ser a vítima e, quando menos você espera, te engole, vira sua vida de cabeça para baixo, tudo o que conquistou, com muito suor, é jogado fora, na velocidade e facilidade de um teclado de computador ou de um smartphone.

Por essa razão, o segundo olhar de hoje é sobre empatia, prudência e tolerância. Todos estão sujeitos a prestar explicações legais e todos possuem o direito de ser presumidamente inocentes, até a prova em contrário e que o devido processo legal seja finalizado.



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