OPINIÃO

STEVEN PINKER (2)

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O cérebro

Na definição de Pinker, “um cérebro é um instrumento de precisão que permite a uma criatura usar informações para resolver os problemas apresentados por seu estilo de vida. (...) Cada animal desenvolveu um mecanismo de processamento de informações para resolver seus problemas, e nós desenvolvemos um mecanismo para resolver os nossos. O cérebro esforça-se para colocar seu dono em circunstâncias como as que levaram seus ancestrais a reproduzir-se.”

 

O custo do nosso cérebro

O tamanho do nosso cérebro tem um alto custo. A pélvis da fêmea humana tem de acomodar um bebê com cabeça extragrande. Isso força os bebês humanos nascerem prematuros e incapazes, completando seu desenvolvimento fora do útero. Isso não acontece com os outros primatas. A pélvis maior das mulheres faz com que elas tenham um andar pivotante que as torna biomecanicamente menos eficientes do que os homens ao andar. Ao longo da história muitas mulheres morreram por causa do parto. Nossa pesada cabeça, balançando no pescoço, nos torna vulneráveis a danos fatais em acidentes como as quedas. O cérebro necessita de muita energia. Ele tem apenas 2% de nosso peso corporal, mas consome 20% de nossa energia e nutrientes. E aprender a usar o cérebro toma tempo. Passamos boa parte da vida sendo crianças ou cuidando de crianças.

 

Os benefícios de um cérebro grande superam os custos

Com nosso cérebro temos a capacidade de vencer as defesas de muitos outros seres vivos, como animais que vivem em tocas, animais velozes que podem ser emboscados, animais de grande porte que podem abater em grupos cooperativos. É esse cérebro que nos dá inteligência, isto é, a capacidade de usar conhecimento sobre como as coisas funcionam para atingir objetivos em face de obstáculos. Segundo Pinker, nossos ancestrais mais antigos e os grupos humanos caçadores-coletores viviam numa espécie de excursão de acampamento que nunca terminava, porém sem os sacos de dormir, canivetes suíços e macarrão al pesto desidratado. Vivendo da própria astúcia, grupos humanos desenvolveram complexas tecnologias e uma ciência popular.

 

Histórico do cérebro

O processo evolutivo, atua ao longo de milhares de gerações. O cérebro humano teria evoluído até a sua forma atual “em uma janela que começou com o aparecimento do Homo habilis, há 2 milhões de anos, e terminou com o surgimento dos ‘humanos anatomicamente modernos’, Homo sapiens sapiens, entre 200 mil e 100 mil anos atrás.” Esse é o chamado ambiente ancestral genético da espécie humana. Portanto, durante 99% da história da existência humana, as pessoas viveram da coleta de alimentos, em pequenos grupos nômades. Nosso cérebro está adaptado a esse modo de vida extinto há muito tempo e não às recentíssimas civilizações agrícolas e industriais. Ele não está perfeitamente sintonizado para lidar com multidões anônimas, escola, linguagem escrita, governo, polícia, tribunais, exércitos, medicina moderna, instituições sociais formais, alta tecnologia e outros recém-chegados à experiência humana. Nossa mente ainda parece estar adaptada à Idade da Pedra e não à era do computador, diz Pinker.

 

O cérebro foi moldado para a aptidão e não para a verdade

Nosso cérebro evoluiu para encontrar soluções para os desafios que a vida nos apresenta, para vencer as defesas das coisas no mundo natural e social. Ele foi moldado para a aptidão e não para a verdade. Por isso somos cientistas sofríveis. A mente humana não é equipada para dedicar-se à ciência e à matemática. Ela desenvolveu faculdades para dominar o meio local e sobrepujar em astúcia as plantas, os animais e outros humanos.

 

O cérebro, as crenças e a ciência

Pesquisas realizadas nos últimos anos mostram evidências de que nós precisamos de crenças e que nosso cérebro constrói uma ampla gama de justificativas para validar as crenças. As crenças surgem primeiro e os motivos vêm depois. Formadas as crenças, nosso cérebro subconscientemente busca evidências confirmatórias delas, acelerando o processo de reforço. A ciência é o melhor, ou o único instrumento para determinar se nossas crenças correspondem ou não à realidade.

 

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