OPINIÃO

LUZ NA CAVERNA 28: Os livros iluminam nossa caverna e diminuem nossa cegueira.

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Steven Pinker (3) – A negação da natureza humana

 

           Steven Pinker, como já vimos, é um dos mais respeitados nomes da ciência cognitiva e dos estudos da linguagem aplicados à neurociência. Seus livros, ensaios e palestras (veja no Youtube) têm grande aceitação na comunidade acadêmica, científica e no público em geral. No livro “Tábula Rasa: a negação contemporânea da natureza humana”, Pinker enfrenta o debate “natureza versus criação". Ele diz ter ficado perplexo ao perceber que certos temas, já demonstrados pelas evidências científicas e, até mesmo, pelo senso comum, ainda são rejeitados pela comunidade acadêmica. A ideia de escrever o livro, diz Pinker, partiu das assombrosas e despropositadas afirmações acerca da maleabilidade da psique humana. Afirmações “despropositadas” como a de que os meninos brigam e lutam porque são incentivados a isso, que as crianças gostam de doce porque os pais os usam como recompensa por comerem verduras.

 

Um livro extraordinário, instigante, erudito e muito persuasivo

Publicado em 1992 nos EUA” (The Blank Slate) e em 2004 no Brasil, “Tábula Rasa” logo tornou-se um bestseller. Apesar de enfrentar temas científicos complexos, Pinker faz isso com uma linguagem muita clara. Ele mostra que a ideia da “tábula rasa”, tão comum na história das chamadas ciências sociais, é equivocada. Nosso comportamento tem causas naturais e, portanto, universais. Nossos traços comportamentais são encontrados em todos os humanos, independente das diversidades culturais. Nosso comportamento também é determinado pela natureza, pela nossa herança biológica evolutiva, e não apenas pela cultura em que vivemos

 

Tábula rasa

           “Tabula rasa” significa “tábua raspada”, e tem o sentido de “folha de papel em branco”. O conceito de tábula rasa, como metáfora, foi usado desde a antiguidade para indicar uma condição em que a consciência é desprovida de qualquer conhecimento inato, tal como uma folha em branco a ser preenchida. Quando nos referimos à ideia da “tábula rasa” o nome mais lembrado é o de John Locke (1632-1704), filósofo inglês, conhecido como “pai do liberalismo político”. Para Locke as pessoas nascem sem conhecimento algum e todo o processo de conhecer, de saber e de agir é aprendido por meio da experiência.

 

Tábula rasa: uma face benigna e outra sinistra

A concepção de Locke “minava os alicerces da realeza hereditária e da aristocracia, cujos membros não podiam arrogar-se mérito ou sabedoria inata se suas mentes haviam começado tão vazias quanto as de qualquer outra pessoa. Também se contrapunha à instituição da escravidão, já que com ela não se podia mais conceber uma inferioridade ou subserviência inata dos escravos”.

Entretanto, apesar dessa face humanista, a ideia da tábula rasa teve - ainda tem -efeitos perversos. Sobre isso vale citar literalmente o que diz Pinker: “A ideia romântica de que todo mal é produto da sociedade justificou a libertação de perigosos psicopatas que logo em seguida assassinaram pessoas inocentes. E a convicção de que a humanidade poderia ser reestruturada por gigantescos projetos de engenharia social gerou algumas das maiores atrocidades da história.”

 

Práticas antidemocráticas contra a natureza humana

           Práticas da direita antidemocrática são perversas: eugenia, discriminação racial, étnica e sexual, justificação de castas, genocídios. As da esquerda antidemocrática são igualmente ruins. A ideologia de que ideias dissidentes não refletem o funcionamento de mentes racionais, mas sim ideias arbitrárias e alienadas, justificou a opressão, a violência e as execuções na Rússia comunistas, os quase cinquenta anos de violenta repressão na China, os campos de extermínio de Pol Pot no Camboja.

 

Três dogmas equivocados sobre a natureza humana

Armado com implacáveis evidências, Pinker ataca três dogmas fortemente arraigados na cultura ocidental:

1 - a ideia de que a mente de um recém-nascido é uma "tábula rasa" a ser preenchida pelos pais e pela sociedade;

2 - a concepção de que o homem em seu estado primitivo é um bom selvagem;

3 - e a crença de que a alma imaterial dotada de livre-arbítrio é a única responsável pelas ações do indivíduo.

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