OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Os tanques ucranianos avançam pelo território russo, em Kursk. Kiev afirma já ter o controle de cerca de mil quilômetros quadrados na região. Desde o início da guerra, a Ucrânia, até o momento, vinha desdobrando a sua defesa diária. O cenário em Kursk modifica esta lógica e traz uma nova estratégia, que pode ser demasiadamente arriscada, uma vez que amplia ainda mais a futura extensão dessa guerra de atrito, onde a exaustão é a essência. Enquanto o avanço ucraniano pode ser uma nova estratégia para tirar a atenção de regiões como a de Donbass, também pode ser uma manobra arriscada, na medida em que vai demandar ainda mais do exército. Aí Putin poderia estar “permitindo” o avanço para verificar um possível esgotamento militar ucraniano. Há de se considerar que o exército russo é muito maior e que Putin ainda possui uma grande reserva de munições. Outra questão que pode ser levantada seria a de considerar a ação como uma medida de barganha futura em possíveis negociações, mas ainda é cedo para tirar alguma conclusão, pois, ainda é esperada uma reação russa, mesmo que seja deixar Kiev esticar a corda, para que a Ucrânia acabe amarrada, na ousada operação. No contexto das guerras de atrito, em algumas ocasiões, novas operações como estamos vendo no caso de Kursk, geralmente são conduzidas para dar novos motivos às tropas – desgastadas por um conflito sem perspectiva de acabar.

A posição do Ocidente

 As potências ocidentais ainda adotam um certo resguardo no tocante ao avanço ucraniano no território russo, já que pode representar o clamor de Zelensky para aumento do apoio ocidental em termos de recursos e equipamentos militares. O panorama da guerra vem mudando desde que há uma mudança da posição dos países ocidentais, que aos poucos, vão liberando o uso das armas contra a Rússia, no campo de batalha. Todavia o avanço militar está sendo observado pelos EUA, com uma relativa cautela. A manobra de Zelensky, de certo modo, é um cálculo antecipatório às eleições americanas, pois, caso Trump seja o vencedor do pleito, a ajuda militar americana entraria em uma nova fase, mais módica.

 Quanto tempo vai durar a incursão?

 Vai depender do fôlego das tropas ucranianas, da ajuda ocidental e da reação russa. Aqui devemos lembrar que, lá no início da guerra, mesmo com um exército grande e uma estratégia ousada, Putin teve de recuar, principalmente pela péssima logística no campo de batalha, suprimentos etc. No geral, não se concebe, em termos estratégicos, que Kiev queira avançar em termos significativos, o que seria muito arriscado, mas ao menos passou uma mensagem clara de que a Rússia não é intocável, muito pelo contrário. As potências ocidentais tentarão desescalar, pois, sabem que há um risco considerável de serem arrastadas ao conflito. A manobra de Zelensky vai obrigar um reagrupamento das tropas russas, abrindo espaço para novas ações como essa em Kursk, em outras regiões, dada a fragilidade russa atual, com grande déficit na área da inteligência. Todavia, Putin é um especialista em cansar o inimigo, uma vez que tem um grande exército. Assim, Moscou está a analisar o real fôlego ucraniano para conseguir manter uma operação do gênero, levando as tropas ucranianas à exaustão em uma zona de risco para o apoio ocidental. 

 

 


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