OPINIÃO

Deus faz bem todas as coisas.

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“Ele tem feito bem todas as coisa: aos surdos faz ouvir e aos mudos falar”, exclamam os seguidores de Jesus ao vê-lo curar um surdo. (Isaías 35,4-7, Salmo 145, Tiago 2,1-5 e Marcos 7,31-37). Os textos bíblicos sublinham a atenção de Deus voltada principalmente para aquelas pessoas que não têm perspectiva de mudar a sua situação pelas ações humanas. São citados os cegos, surdos, aleijados.

O evangelista Marcos narra que Jesus vai para um território estrangeiro e apresentam a ele “um homem surdo, que falava com dificuldade, e pediram que Jesus lhe impusesse a mão”. A forma como Jesus se relaciona com o surdo é muito significava e faz pensar. Em primeiro lugar, “afastou-se com o homem, para fora da multidão”. Em outras oportunidades Jesus age da mesma forma. O dom da saúde física e da fé é fruto de um encontro profundo com Cristo, que, frequentemente, pode ser impedido pela dispersão entre a multidão e pela interessada instrumentalização do milagre por parte das pessoas.

A seguir Jesus “colocou os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou a língua dele. Olhando para o céu, suspirou e disse: “Efatá!” O gesto da mão de Jesus, que percorre os ouvidos e a língua do doente e sofredor, é iluminado com a palavra aramaica efatá, abre-te! A palavra de Cristo é eficaz e determinante, as fronteiras da dor e da miséria são abertas, como anunciara o profeta Isaías. “Dizei às pessoas deprimidas: “Criai ânimo, não tenhais medo [...] descerrarão os ouvidos dos surdos”. São Marcos registra que Jesus “suspirou”, antes de falar. Com isto destaca a profunda e sofrida participação dele no mal pelo qual são atingidas as pessoas que lhe suplicavam socorro. Cristo se envolvia inteiramente com todas as situações de sofrimento que se apresentavam no caminho.

O surdo-mudo, graças à intervenção de Jesus, “abriu-se”; antes estava fechado, isolado, para ele era difícil se comunicar; a cura foi-lhe uma ‘abertura” aos outros e ao mundo, uma abertura que, partindo dos órgãos de audição e da palavra, envolveu toda a sua pessoa e a sua vida: finalmente pode comunicar-se e relacionar-se de modo novo e melhor. A cura também tem um sentido simbólico. Todos sabemos que o fechamento do homem, o seu isolamento, não depende só dos órgãos dos sentidos. Existe um fechamento interior relativo ao núcleo profundo da pessoa, que a bíblia chama “coração”. É isto que Jesus veio “abrir”, a libertar, para tornar capazes de viver plenamente a relação com Deus e com os outros. Efatá – abre-te é síntese da missão de Jesus.

A Carta de São Tiago aborda outro tema que precisa ser superado na comunidade: a discriminação de pessoas. Cita o exemplo do tratamento diferenciado dado a pessoas ricamente vestidas e o tratamento dado a pessoas com “roupa surrada”. A discriminação acontece porque “vos tornastes juízes com critérios injustos”. O fundamento para todos serem tratados com dignidade é “a fé que tendes em nosso Senhor Jesus Cristo glorificado”. Deus deu atenção a todas as pessoas de forma igual e destinou o seu ensinamento a todos.

A exortação de Carta de São Tiago sobre as discriminações tem valor perene. Cada um de nós, as instituições, países, também a Igreja, podem ser e são fonte de acepção de pessoas pelos mais diferentes motivos. Reafirmar cotidianamente a igualdade em dignidade de todas as pessoas é uma necessidade fundamental. O Catecismo da Igreja Católica, no nº 1934-1935 ensina: “Criados à imagem do Deus único, dotados de uma mesma alma racional, todos os homens têm a mesma natureza e a mesma origem. Resgatados pelo sacrifício de Cristo, todos são convidados a participar da mesma felicidade divina; todos gozam, portanto, de igual dignidade. A igualdade entre os homens é essencialmente respeito à dignidade pessoal e aos direitos que daí decorrem. “Qualquer forma de discriminação nos diretos fundamentais da pessoa, seja ela social ou cultural, ou que se fundamente no sexo, raça, cor, condição social, língua ou religião deve ser superada e eliminada, porque contrária ao plano de Deus”.

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