OPINIÃO

O dom do matrimônio

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Alguns fariseus provocam Jesus sobre o divórcio (Gênesis 2,18-24, Salmo 127, Hebreus 2,9-11 e Marcos 10,2-16). A pergunta é legalista e tem por objetivo colocar Jesus “à prova”. Esta atitude dos fariseus revela que querem apenas polêmica, pois já tem opinião formada e qualquer que fosse a resposta discordariam de Jesus. Afinal, não estavam interessados no aprofundamento do tema, mas apenas na confusão. Jesus não fica na provocação, mas aproveita a oportunidade para anunciar o plano original de Deus sobre o casal e a família.

A Exortação Apostólica Pós-Sinodal Amoris Laetitia – sobre o amor na família (AL) do Papa Francisco é fruto de dois Sínodos, realizados em 2014 e 2015. O Papa escreveu: “O caminho sinodal permitiu analisar a situação das famílias no mundo atual, alargar a nossa perspectiva e reavivar a nossa consciência sobre a importância do matrimônio e da família. Ao mesmo tempo, a complexidade dos temas tratados mostrou-nos a necessidade de continuar a aprofundar, com liberdade questões doutrinais, morais, espirituais e pastorais” (AL, nº 2). Assim como Jesus, a exortação Amoris Laetitia indica que o tema do matrimônio e da família não se restringe a uma questão legal e jurídica. Também o tema não pode ser tratado de forma superficial, preconceituosa e com respostas prontas.

           Numa sociedade plural convivemos com múltiplas compreensões sobre o tema em questão. Inspirado nas palavras do Papa Francisco, que fala em nome da Igreja, sublinho alguns elementos fundamentais do matrimônio católico. Jesus elevou o casamento como sinal sacramental, isto é, a relação de Jesus com a Igreja é o fundamento da relação dos esposos. “O matrimônio é uma vocação, sendo uma resposta ao chamado específico para viver o amor conjugal, como sinal imperfeito do amor entre Cristo e a Igreja. Por isso, a decisão de casar e formar família deve ser fruto de um discernimento vocacional” (AL, nº 72). Sendo o matrimônio um sacramento ele invoca a fé dos noivos e está enraizado no batismo.

           A primeira pergunta feita aos nubentes na celebração do Sacramento do Matrimônio é sobre a liberdade. Um ato para ser verdadeiramente humano e consciente precisa ser livre, isto é, sem coação, nem ignorância sobre a pessoa com quem vai estabelecer o vínculo, nem sobre as propriedades e finalidades do matrimônio católico. A grandeza e a complexidade da vida conjugal e familiar requerem uma preparação proporcional para os noivos, para que seja um ato livre deles. Eles precisam ser ajudados a descobrir o valor e a riqueza do matrimônio e se prepararem para viver as alegrias e tristezas da vida conjugal e familiar.

           Fundamentado nos ensinamentos de Jesus Cristo a Igreja anuncia como propriedades fundamentais do Sacramento do matrimônio a unidade e a indissolubilidade. “Portanto, o que Deus uniu o homem não separe!” “Não se deve entender primariamente como ‘jugo’ imposto aos homens, mas como um ‘dom’ concedido às pessoas unidas em matrimônio (...) A condescendência divina acompanha sempre o caminho humano, com a sua graça, cura e transforma o coração endurecido, orientando-o para o seu princípio, através do caminho da cruz” (AL, nº 62).

           As finalidades do matrimônio são o bem dos cônjuges e a geração e educação dos filhos. O primeiro beneficiado do matrimônio é o casal que forma uma comunidade de vida e amor partilhando todas as situações vitais. O amor do casal se abre para os filhos. “O amor rejeita qualquer impulso para fechar-se em si mesmo, e abre-se à fecundidade que se prolonga para além da sua própria existência. (...) o filho pede para nascer, não de qualquer maneira, mas deste amor, porque ele “não é uma dívida, mas uma dádiva”. Nesta compreensão a família é o santuário da vida, um lugar sagrado onde a vida é gerada e cuidada.

Dom Rodolfo Luís Weber – Arcebispo de Passo Fundo


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