As eleições americanas se avizinham e o resultado ainda é incerto. Mais incerta ainda é a geopolítica global. Independentemente de quem vencer as eleições, os desafios se somam, para além da necessária recuperação econômica interna. A eleição americana é um importante marcador geopolítico, com efeitos políticos, militares, econômicos e de investimentos. A atual política externa de Biden tem demonstrado uma série de fracassos acumulados. Os democratas não conseguiram lidar com questões prementes da política internacional e preferiram adotar uma agenda mais ideológica e inclinada ao confronto, do que a inteligência e a diplomacia. Assim, a política externa será um dos elementos definidores das eleições, se levarmos em consideração o sentimento de impotência por grande parte dos americanos, em relação à liderança global que os EUA gradativamente perderam na agenda internacional.
O dólar
Um dos desafios será a hegemonia do dólar. A onda crescente das autocracias, que utilizam o BRICS como um novo pólo de poder contestador do regime ocidental, desafiará a manutenção do dólar como moeda preferencial nas transações comerciais. Por mais remota que seja a substituição do dólar como moeda fiduciária global, a discussão intensificar-se-á, demandando alguma postura por parte de Washington, inclusive no campo sancionador.
Guerras
A emergência de guerras de grande proporção e, principalmente, a forma mais adequada de se lidar com elas, é outro grande desafio. A nova liderança deverá se deparar com o dilema do conflito na Ucrânia, verificando até que ponto as ajudas militares desmedidas serão suficientes para parar Putin. O reforço da OTAN deverá entrar na pauta, a se verificar o limite de seu crescimento, para que não reforce ainda mais a narrativa de Putin. O Oriente Médio também é um ponto de preocupação, no sentido de que Netanyahu tenha mais alinhamento com Washington, dada a parceria entre os países. Perder o controle sobre Netanyahu e suas ações é embarcar em uma zona perigosa e potencialmente desastrosa. Todas as guerras devem estar sobre o escrutínio do direito internacional. Por outro lado, sem ações contundentes e estratégicas, o terrorismo será um novo desafio.
Dissuasão
A dissuasão militar será um elemento indispensável. A narrativa nuclear ressurgiu com força no contexto dos novos conflitos. Somada à mentalidade soviética, surge a ameaça iraniana, cada vez mais perto de uma bomba. A dissuasão nuclear deverá tomar força e dependerá de uma liderança forte, capaz de demonstrar o equívoco que seria a utilização de armas nucleares, com ênfase às de caráter tático.
Agenda
Por fim, é necessário que os EUA retomem a capacidade de influenciar e pautar a política internacional, definindo a agenda global e refreando o apetite de líderes autocráticos que querem se aventurar em guerras e buscam instaurar a desordem no regime ocidental. Os EUA também deverão retomar a pauta dos investimentos e a influência em determinadas regiões, ameaçadas pela projeção chinesa. Para uma nova e desafiadora conjuntura é necessário repensar a liderança americana, a partir da força e da estratégia, para que o mundo não descambe à predominância das vontades de líderes autocráticos.