Trump ganhou no voto popular, no colégio eleitoral, em todos os “estados pêndulo”, com maioria no senado e vai fazendo também maioria na câmara. Não é uma vitória isolada, mas sim um renascimento dos conservadores, após o desastre Biden. A sociedade quer resultados econômicos, empregos e uma política externa condizente com os EUA e estão cansados das pautas identitárias e da falta de compromisso dos democratas. No âmbito da política externa, os democratas acumularam equívocos, seguindo uma linha de confronto com as autocracias, deixando a estratégia muitas vezes de lado. Uma saída desastrosa do Afeganistão e a perda de controle no Oriente Médio. Financiamento de uma guerra de atrito na Ucrânia e confronto ideológico com a China. Evidências que motivaram os americanos a reavaliarem a política externa, uma pauta que sempre esteve presente nos pleitos americanos. Os EUA perderam a sua liderança e, na tentativa de manter algum controle residual, perderam-se no caminho. Assim, o desafio que Trump recebe em suas mãos é grande e pode ser definidor no aspecto da política internacional, como avaliamos na coluna da semana passada, a agenda geopolítica será turbulenta. E nela estará o Brasil.
Brasil
Logo que Trump era anunciado como o novo presidente, já se especulava como se daria no futuro a relação dos EUA com o Brasil. Acredito que a resposta esteja muito mais no comportamento do governo brasileiro daqui para frente. A relação comercial do Brasil com os americanos é bem assentada, mas uma política externa mal-conduzida é sempre um risco a se considerar. E, nesse caso, cumpre lembrar que o governo brasileiro se tornou subserviente ao eixo das autocracias encasteladas no BRICS, cujo objetivo é também o de desdolarizar a economia global, além de causar fricções no regime ocidental. A ameaça é mais no campo da narrativa do que factual, todavia ela faz uma importante diferença. A política externa de Lula ao aliar-se com ditaduras deprimentes e adotar o discurso da desdolarização, bem como o antigo antiamericanismo infantil, cria um grande risco às relações comerciais do Brasil com os EUA. Trump chegou a afirmar que partiria para sanções econômicas com os países que porventura viessem a defender a desdolarização da economia global. Atualmente, os EUA são o segundo principal parceiro comercial do Brasil, tomando destaque a indústria de transformação. Washington tem perdido a sua influência estratégica na América Latina para Pequim. Isso pode levar a política externa do governo a querer uma aproximação ainda maior com a China, se continuar a defender o seu antiamericanismo infantil.
Mundo
Maior apoio às ações de Israel no Oriente Médio e redução na ajuda militar à Ucrânia. Uma questão com forte peso nas eleições americanas foi a ajuda desmedida à Zelensky. Já era uma preocupação do congresso e agora passará a ser também do executivo. Em termos mundiais, também se espera uma redução no apoio à OTAN, que tem fortalecido os seus tentáculos e uma forte crítica ao sistema multilateral vigente. A guerra com a China será mais tarifária do que ideológica. O desafio de Trump será o de tentar reconstruir o prestígio americano de outrora. Se conseguir colocar um fim na guerra na Ucrânia, já começaria bem, mas ali a situação é delicada.