OPINIÃO

ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA – UMA DEMOCRACIA AMEAÇADA? (1)

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E agora, José?

 

           Alarme real ou falso? E agora, José, perguntaria o nosso grande poeta, Drummond de Andrade. O retorno Trump à liderança do governo, é, de fato, um risco à democracia ou é “choro de perdedor”? É cedo para saber o que isso significará. Como disse Hegel, filósofo alemão, a coruja de Minerva, a deusa da sabedoria, levanta voo ao crepúsculo, ao cair da noite. Como todo historiador deve saber, a realidade histórica só aparece quando ela completa seu processo de formação.

           Na imprensa, na ciência política, no mundo cultural dominava a ideia de que uma vitória de Donald Trump seria desastrosa para a democracia americana. Porém, como afirmar de forma conclusiva que o futuro governo de Trump será, de fato, um retrocesso democrático? Não são poucos aqueles que parecem achar que a democracia só funciona quando os nossos preferidos ganham. Vimos isso em nosso país.

 

A democracia americana está enferma?

 

Cientistas sociais têm afirmado que a democracia americana está gravemente enferma. Um deles é Erwin Chemerinsky, reitor da Faculdade de Direito de Berkeley, jurista muito influente. Diz ele que, independentemente do resultado desta eleição, seria prudente reconhecer que a democracia americana está em risco e que reformas profundas são necessárias. Segundo ele, nenhuma forma de governo dura para sempre. Por que acreditar que os EUA não podem ser vítimas das forças que acabaram com a democracia em outros países? Steven Levitsky, coautor do livro “Como as democracias morrem”, também manifestou preocupação, referindo-se ao seu país como uma “democracia defeituosa”.

 

Uma democracia desacreditada e um país dividido

 

Os críticos apontam que um dos sinais mais preocupantes indicando que a democracia americana está em sérios apuros é o nível de confiança dos americanos em seu governo e nos políticos em geral. Pesquisas estariam indicando que esse nível de confiança é um dos mais baixos de todos os tempos.

           Se as pesquisas e os analistas estiverem certos a sociedade americana nunca esteve tão dividida desde a Reconstrução (1865-1877), período de 12 anos após a Guerra da Secessão (1861-1865), uma terrível carnificina e odienta guerra civil entre os americanos. A forma como Trump governou o país foi aprovada, em média, por 87% dos republicanos, em comparação com apenas 6% dos democratas. Em agosto de 2022, cerca de 18 meses após a presidência de Joe Biden, seu índice de aprovação entre os democratas era de 78% e entre os republicanos apenas 12%.

 

Freios e contrapesos

 

           Os chamados “Pais Fundadores” (Founding Fathers) da república americana tinham consciência do que estavam construindo após se separarem da Inglaterra, na segunda metade do século 18. Uma das principais preocupações de gente do calibre de George Washington, Thomas Jefferson, Benjamin Franklin, John Adams, James Madison, Alexander Hamilton era evitar o despotismo político. Eles conheciam a teoria política de Montesquieu sobre a separação dos poderes. Daí terem criado um sistema consagrado na expressão checks and balances (freios e contrapesos), sistema em que os poderes legislativo, judiciário e executivo limitam-se reciprocamente. Em suma, estavam criando uma constituição que resistisse ao que os antigos gregos chamavam de demagogos, líderes políticos que sabiam como explorar as insatisfações e paixões populares e chegar assim ao poder.

 

Esperemos a Coruja de Minerva levantar voo

 

           Nos últimos tempos parece que os americanos julgam ser o fim do mundo se os adversários vencerem as disputas eleitorais. Não era assim num passado não tão distante. Ganhasse quem ganhasse, ninguém tinha medo do resultado das eleições, porque as instituições basilares do país e da sociedade permaneceriam as mesmas. Agora nos perguntamos se as instituições políticas americanas vão resistir a possíveis ameaças antidemocráticas. Todos, os que apostam que não e os que apostam que sim, têm o benefício da dúvida. Esperemos a coruja de Minerva levantar voo e iluminar o que aconteceu.


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