Com tanta gente apontando os defeitos da democracia americana e o declínio dos EUA, parece interessante ver algumas opiniões sobre essa sociedade e sua importância para a civilização humana. Mário Vargas Llosa, escritor peruano e Prêmio Nobel de Literatura, é um dos que afirmam que os EUA têm muitos defeitos, mas não se deve desconhecer sua história de contínuo e inelutável progresso da liberdade e da igualdade e de quanto as democracias modernas devem ao seu exemplo histórico. A América foi e ainda é um farol de esperança para milhões de pessoas, basta ver o problema da imigração.
OS ESTADOS UNIDOS VISTO POR CARL SAGAN
Carl Sagan (1934-1996), admirável cientista e humanista, defensor convicto do ceticismo e do uso do método científico, lembra e exalta a contribuição americana para o mundo moderno. Sagan tinha profunda admiração pelos revolucionários americanos, os chamados “pais fundadores” (fouding fathers). Criaturas do Iluminismo europeu (séculos 17 e 18), eram estimulados pela ciência e suas implicações filosóficas. Tinham boa educação, eram estudiosos da história. “Conheciam a falibilidade, a fraqueza e a corruptibilidade humanas. Escreviam seus próprios discursos. Eram realistas e práticos e, ao mesmo tempo, motivados por princípios elevados. Não verificavam as pesquisas de opinião para saber o que pensar... Sabiam o que pensar. Tinham familiaridade com o pensamento de longo prazo, planejando um futuro bem mais distante do que a próxima eleição. Eram autossuficientes, não precisando das carreiras do político e lobista para ganhar a vida. Eram capazes de revelar o melhor em nós. Tentaram determinar um rumo para os Estados Unidos a longo prazo – muito menos pelo estabelecimento de leis do que pela imposição de limites aos tipos de leis que podiam ser aprovados. Reconheciam o parentesco do método científico e o procedimento democrático, como o livre exame, a livre troca de informações, o otimismo, a autocrítica, o pragmatismo e a objetividade.
“UMA IDEIA EMOCIONANTE, RADICAL E REVOLUCIONÁRIA”
A ideia, ainda revolucionária em nosso tempo, “é que as nações não devem ser governadas pelos reis, nem pelos padres, nem pelos chefões das grandes cidades, nem pelos ditadores, nem por um conluio militar, nem por uma conspiração de facto dos ricos, mas pelas pessoas comuns, trabalhando juntas.” Thomas Jefferson, numa carta redigida alguns dias antes de sua morte (1826), anotou que “a luz da ciência” tinha demonstrado que “a maioria da humanidade não nascera com selas nas costas, nem uns poucos privilegiados de botas e esporas”. Estudioso da história, achava que os ricos e poderosos vão roubar e oprimir, se lhes for dada metade de uma chance. “Jefferson ensinou que todo governo degenera, quando fica entregue apenas aos governantes, porque estes – pelo próprio ato de governar – abusam da confiança pública.”
NÃO SOMOS ANJOS: PRECISAMOS DE FREIOS
James Madison (1751-1836), um dos “Pais Fundadores”, também conhecido como “Pai da Constituição”, expressou de forma notável a necessidade de o governo ser limitado, constitucional. “Se os homens fossem anjos, nenhum governo seria necessário. Se os anjos governassem os homens, nem controles externos nem internos sobre o governo seriam necessários. Ao estruturar um governo que deve ser administrado por homens sobre homens, a grande dificuldade está nisto: você deve primeiro habilitar o governo a controlar os governados; e em seguida, obrigá-lo a controlar a si mesmo.”
UMA LEITURA NECESSÁRIA
O Mundo Assombrado Pelos Demônios: a ciência vista como uma vela no escuro, livro de Carl Sagan, é leitura necessária nestes tempos estranhos que vivemos, de negacionismo, de gente que acha que a Terra é plana, que ditadura é melhor do que democracia, que vacinas não funcionam e que Bill Gates inseriu microchips nelas.