OPINIÃO

SOBRE OS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA (3)

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ADMIRAÇÃO E REJEIÇÃO

           Os EUA costumam despertar sentimentos mais radicais do que simples rejeição. O terrível ataque de 11 de setembro de 2001, cometido por fanáticos religiosos muçulmanos, que mataram 2977 pessoas inocentes, foi comemorado em vários lugares do mundo. E não apenas entre as sociedades islâmicas. Vimos isso aqui em nossa aldeia. Bem disse o cientista Steven Weinberg (1933-2021), Prêmio Nobel de Física (1979): “Com ou sem religião sempre haverá gente boa fazendo coisas boas e gente má fazendo coisas más, porém, para que a gente boa faça coisas más, é preciso religião.” E também é preciso uma ideologia, deveríamos acrescentar. Mário Vargas Llosa, Prêmio Nobel de Literatura (2010), diz no livro “El Llamado de la Tribu”, que “o espírito tribal, fonte do nacionalismo, tem sido a causa, com o fanatismo religioso, das maiores matanças na história.” Ao que se saiba os terroristas suicidas que atacaram os EUA no fatídico 11 de setembro não eram pessoas más. Eles tinham certeza de estar agindo em nome de Alá, seu deus.

 UMA DEMOCRACIA E UM IMPÉRIO

           O mexicano Octavio Paz (1914-1998), Prêmio Nobel de Literatura (1990), notável pensador, escritor, poeta e diplomata, foi quem melhor compreendeu esse sentimento contraditório, de repulsa e admiração pelos EUA. Ser uma democracia e um império é uma das contradições principais dos Estados Unidos, diz Paz. Sua tradição político-democrática é uma das mais antigas e ininterruptas do mundo. Sua constituição tem mais de 200 anos. Essa tradição impede o país de ter uma ideologia imperial, como o comunismo de tipo soviético e do nacional-socialismo nazista. “É verdade que abusaram e abusam de sua força, mas também mostraram que sabem restringir-se e que são capazes de submeterem-se à razão. É um imperialismo sem uma ideologia hegemônica e universalista.” A América adquiriu seu papel de superpotência mundial quase que por casualidade, mais por seu poderio econômico do que por sua própria vontade, ao contrário de países europeus, a exemplo da Inglaterra e da Alemanha, que desejaram e conquistaram provisoriamente este papel na história.

 DEMOCRACIA EXEMPLAR

Apesar dos possíveis defeitos, hipocrisias e lacunas que se possa apontar ao sistema americano, sua democracia federalista tende a ser imitada por vários povos e instituições, como, por exemplo, a União Europeia. Jean-François Revel lembra que foram os europeus, e não os americanos, que inventaram e implantaram os dois regimes mais criminosos jamais impostos à espécie humana. E nas duas Guerras Mundiais, que na verdade foram mais europeias do que mundiais, os americanos tiveram de intervir a contragosto. E sua intervenção foi decisiva para preservar os regimes democráticos. E vale registrar que os EUA, em mais de duzentos e quarenta anos de sua história como país independente, não conheceram a menor das ditaduras, ao passo que a Europa as teve em coleções”. (Revel)

 GORBACHEV SOBRE OS EUA

           Mikhail Gorbachev (1931-2022), Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética, último líder comunista russo, se referiu em termos elogiosos à democracia americana. “Os Estados Unidos são uma sociedade aberta, na qual forças contrárias podem emergir e entrar em choque - uma pré-condição necessária para a solução dos problemas. Vi uma sociedade que não tem só poderio econômico e político, mas também a capacidade intelectual de analisar suas próprias condições e criar novas diretrizes. Fidelidade à democracia, seu amor à liberdade e seu espírito desbravador são qualidades que fizeram a grandeza dos Estados Unidos. (Jornal O Estado de São Paulo, 30/04/92 e 28/05/1992)

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