Bem depois de 2001
Minha paixão pelo rádio começou desde que eu ouvi o som de uma enorme eletrola que tínhamos na sala de casa. Para os mais novos, eletrola era um móvel com um receptor de rádio e um toca-discos. Logo, havia um rádio também na cabeceira da minha cama. À válvula, obviamente. O que ouvia nas emissoras locais estava bem mais próximo da minha cabeça, pois eram nomes, marcas e ruas que já conhecia.
Porém, a inquietude de um menino (sim, de acordo com Mamãe, fui um menino lindo) não deixa o ponteiro de sintonia num mesmo lugar. Logo, descobri a Rádio Guaíba. Era uma programação para gente grande, lembrava a sobriedade de uma fatiota em vozes bonitas e bem entonadas. Como todo piá quer ser como um adulto, então eu escutava a Guaíba como se fosse um senhor de gravata. É claro que fui pego pela armadilha da qualidade, uma marca dos veículos da velha Caldas Júnior.
Não entendia bulhufas daquilo que as maravilhosas vozes diziam. Porém, o estilo Guaíba influenciou na minha dicção, na maneira de entonar e ditou parte do meu vocabulário. O guri cresceu um pouco e, já no estilo frangote, apreciava alguns programas. Um dos mais marcantes foi “2001”, onde o esmero na produção de Flávio Alcaraz Gomes ganhava vida na sonoplastia de Fernando Veronezi. O futuro estava no título e na pauta.
Na abertura, ouvíamos que era algo para acontecer “antes de 2001”. E no encerramento, o mistério ficava para “depois de 2001”. Certamente, o 2001 cravou na minha cabeça. Hoje, quando vejo que amanhã será 2025, ainda penso naquilo que as ondas do rádio prognosticavam para bem antes ou bem depois de 2001. Então, agora, desejamos feliz 2025. Isso, é claro, bem depois de 2001!
Desejos
Troca de ano enseja desejos. Então, vamos lá. Tomara que em 2025 tenhamos o pleno cumprimento das leis ambientais. Que os malditos alto-falantes desapareçam das ruas e das portas das lojas. Que os carros com descarga barulhenta, caixas de som na caçamba e outras irregularidades sejam devidamente fiscalizados. Ah, é claro, que tirem de circulação as insuportáveis e irregulares bicicletas motorizadas. Também não podemos nos esquecer de que não faria nenhum mal proibir que enormes caminhões atravessem a cidade, afinal, temos caminhos perimetrais que circundam Passo Fundo.
Previsões
Não sou o Pai Magno e nem jogo búzios, mas também faço as minhas “previsões”. Elas têm como base um passado conhecido, o que ocorre agora e a obviedade pela frente. Então prevejo que continuarão prometendo o asfaltamento da Transbrasiliana, a duplicação do trecho Passo Fundo – Marau, a volta do Trem Húngaro, um novo presídio, o fim do vento de través no aeroporto, a vinda do Coelhinho da Páscoa e, depois, a chegada de Papai Noel. No Coelhinho e no Papai Noel eu jogo as minhas fichas.
Golpes
Será que em 2025 ainda teremos a aplicação de novos ou tradicionais golpes? Olha, de tempos em tempos surgem as famosas “correntes milionárias” que, habitualmente, pegam a mesma turma. As correntes até mudam de nome e, agora, vestem a capa da megalomania. Para 2025, prometem absurdos bilionários onde o nome do golpe está na ponta de largada e de chegada. Ah, bons tempos em que a vigarice era mais humilde e apenas passava umas chiquitas.
De graça
Em 1970, Flávio Cavalcanti comandou um dos primeiros programas de TV via Embratel para todo Brasil. Além das atrações e participações, habitualmente tinha um momento em que ele dava um recado. Dizia “li não sei onde e dou de graça para vocês”. Repicando o estilo de Flávio Cavalcanti, tenho essa que também dou de graça. “Pobre de barriga cheia incomoda rico de cabeça vazia”.
Pastelaria
Com ardor, clamo pelo fim do fedor. Pela Lei, clamo pelo seu cumprimento. O fedor da pastelaria aqui embaixo está cada vez pior. Insuportável. Então, entre os meus efusivos desejos, está a esperança de que em 2025 a Lei seja cumprida à risca. Se a regra vale para uns, deve valer para todos.
Centenário
Hoje termina 2024. Amanhã será 2025, ano do Centenário de O Nacional. Então, a partir de hoje, faltam 170 dias.
Trilha sonora
John Lennon – Imagine