OPINIÃO

Conjuntura Internacional

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Enquanto essa coluna é fechada, anunciava-se com entusiasmo um acordo de cessar-fogo entre Israel e os terroristas do hamas, bem como um recuo por parte do gabinete de Netanyahu, que até então não havia aprovado o aludido acordo. Sempre saliento que é muito mais difícil encerrar um conflito do que iniciar um, por isso, tenho repetido que eu só acredito no acordo quando ele realmente estiver em vigor e surtindo efeitos. Mesmo com o anúncio do acordo, Israel supostamente teria dado curso a uma ação militar em Gaza. O acordo (costurado pelos EUA, Catar e Egito) prevê algumas fases de negociação. Na primeira (cerca de seis semanas), haveria a libertação gradual dos reféns israelenses, de um lado, e prisioneiros palestinos, do outro. As demais fases compreenderiam a retirada das tropas israelenses de Gaza e o início do processo de reconstrução, com o retorno gradual dos palestinos. Já se vão mais de 15 meses do conflito, entre diversas tentativas de acordo. Essa última, em particular, trouxe uma nova característica. Trump, mesmo antes de tomar posse, conseguiu efetivamente participar das negociações, a partir de seu enviado ao Oriente Médio, que buscou fazer as costuras necessárias. Há muitos interesses em jogo e a dificuldade do gabinete de Netanyahu em aprovar formalmente o acordo vem de dentro, com importantes lideranças de seu governo que não concordam com os avanços.

 

Pressão interna 

Daí a dificuldade de Netanyahu em se posicionar de vez, de um lado, a pressão de Washington para que a negociação avance e os reféns israelenses sejam liberados, do outro, a pressão de alguns membros do seu gabinete, como o ministro de finanças, entre outros, que não concordam com possíveis avanços nas negociações, ameaçando inclusive deixar o governo. Para qual lado Netanyahu vai ceder? Trump e sua necessidade de demonstrar pragmatismo na resolução do conflito e as famílias israelenses que não suportam mais a demora na libertação dos seus ou a manutenção da unidade do seu governo e de seus ministros do gabinete, que estão a pressionar Netanyahu? Quero crer que a prioridade sejam os reféns israelenses, mas a política internacional, e principalmente Netanyahu, sempre surpreendem. O fato de uma incursão militar no mesmo dia em que se anuncia um acordo de cessar-fogo, já é um balde de água fria, seguida da indecisão do gabinete do governo israelense.

 

Próximos passos 

A questão é que mesmo que Netanyahu venha a concordar formalmente com o acordo, a complexidade do conflito não garante uma decisão estável. O processo demandará atitudes dos dois lados, como a libertação dos reféns israelenses e prisioneiros palestinos, em momentos que serão decisivos e operações de alta complexidade operacional estarão em curso. Na sequência da primeira fase, haveria a remoção das tropas israelenses, ainda não negociado por completo e, depois, na última fase, o processo de reconstrução de Gaza (o momento mais difícil) e o retorno gradual de palestinos ao território, que praticamente está devastado, o que demandaria uma articulação humanitária. Ainda temos meses pela frente, de avanços e retrocessos, na construção da paz de um dos conflitos mais complexos do mundo, enquanto isso, Trump assume o poder, pressionando uma resolução rápida.


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