A liturgia dominical tem por tema a vocação cristã (Isaías, 6,1-1.3-8, Salmo 137, 1 Coríntios 15,1-11, Lucas 5,1-11). Para crer e anunciar a Deus é preciso tê-lo conhecido. Para conhecer a Deus é necessário que ele se revele. Chegamos a Deus não pelo esforço da nossa argumentação e raciocínios, mas porque que ele se dá a conhecer. A revelação de Deus é ato soberanamente livre, é iniciativa sua, totalmente gratuita. O homem não tem poder sobre Deus. Os textos bíblicos, deste domingo, que falam de Isaías, Paulo e Simão mostram que a revelação, a vocação e a missão estão estreitamente unidas. Eles têm encontros similares com Deus que transformaram profundamente suas vidas.
Isaías tem uma visão majestosa de Deus, seguida de uma proclamação solene: “Santo, santo, santo é o Senhor dos exércitos: toda a terra está repleta de sua glória”. Simão e seus companheiros ficam espantados e com medo após a pesca extraordinária que aconteceu após terem obedecido a ordem de Jesus: “avancem para águas mais profundas, e lançai vossas redes”. Paulo confessa que Jesus morreu por nossos pecados, foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia e apareceu aos discípulos, a mais de quinhentos irmãos e por fim apareceu para ele “como a um abortivo”.
Nestes encontros Deus se dá a conhecer. É um encontro que não deixa indiferente a pessoa. Sentimentos, reações e exame de consciência são desencadeados imediatamente. Isaías, diante da majestosa visão de Deus, imediatamente diz: “Ai de mim, estou perdido! Sou apenas um homem de lábios impuros, mas eu vi com meus olhos o rei, o Senhor dos exércitos”. São Pedro “atirou-se aos pés de Jesus, dizendo: “afasta-te de mim, porque sou um pecador!” São Paulo tem ciência que “sou o menor dos apóstolos, nem mereço o nome de apóstolo, porque persegui a Igreja de Deus”.
Vemos nestas três experiências como o encontro autêntico com Deus leva o homem a reconhecer a própria pobreza e insuficiência, o próprio limite e o seu pecado. Mas, apesar desta fragilidade, o Senhor, rico em misericórdia e em perdão, transforma a vida do homem e chama-o a segui-lo. Isaías é purificado com uma brasa colocado em sua boca, acompanhada das palavras: “Assim que isto tocou teus lábios, desapareceu tua culpa, e teu pecado está perdoado”. Jesus diz a Simão: “Não tenhas medo!” Paulo reconhece: “É pela graça de Deus que eu sou o que sou”. A humildade testemunhada por Isaías, por Pedro e Paulo abriu as portas para que Deus purificasse suas vidas.
O caminho feito até agora abre espaço para uma nova etapa na vida de quem se encontrou com Deus, o envio missionário. Deus se deu a conhecer, purificou a pessoa, tirou os medos. Agora Deus propõe livremente uma missão. Propõe porque respeita a decisão de quem é perguntado: “Quem enviarei? Quem irá por nós?” “De hoje em diante serás pescador de homens”. Isaías respondeu: “Aqui estou! Envia-me”. Pedro e os outros três companheiros “levaram as barcas para a margem, deixaram tudo e seguiram a Jesus”. Paulo relata que “é isso, em resumo, o que eu e eles temos pregado”. Todo chamado é sempre uma livre proposta de Deus feita a um homem livre.
O modo como Deus tratou Isaías, Pedro e Paulo convida a não ficar concentrado nos limites humanos, mas manter o olhar fixo no Senhor e na sua surpreendente misericórdia, para converter o coração, purificar os lábios, segui-lo e anuncia-lo com liberdade. Pois, o “Senhor não vê como o homem: o homem vê a aparência, o Senhor vê o coração” (1Samuel 16,7).