OPINIÃO

Tendências políticas segundo Fernando Pessoa (2)

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Vimos que o grande poeta português divide as tendências políticas de uma sociedade em três categorias: os indiferentes, os equilibrados e os desequilibrados. Os indiferentes seriam as crianças e as mulheres. Os equilibrados, os conservadores e os liberais. Os desequilibrados, os reacionários e os radicais.

 Os desequilibrados: reacionários e radicais

           Os reacionários e os radicais parecem opostos na aparência e na intenção, mas, na realidade, são complementares e idênticos. “Sua força desintegrante dos povos e das civilizações permite constatar a absoluta identidade de psiquismo, flagrante sobremaneira pela concordante oposição à parte progressiva e equilibrada que é a base da vida sã da sociedade.”

 “Ao passo que conservadores e liberais aceitam os moldes gerais da sociedade, os reacionários pretendem estupidamente conservar não só todos os moldes sociais instituídos, mas a vida social inalterável sempre nesses moldes.” Pretendendo manter um estado de coisas impossível, os reacionários “veem-se constrangidos pelo seu psiquismo a empregar a força e a violência para entravar o inevitável progresso social”.

 Os radicais são aqueles que manifestam um “desprezo completo pelos moldes sociais” (leis, instituições). Enquanto “conservadores e liberais lutam eleitoralmente”, os radicais, assim como os reacionários, também se veem constrangidos a usar a violência, uma vez que pretendem mudar as regras jurídicas e as instituições sociais para atingir seus objetivos. Aqui, entre nós, vimos uma mistura de reacionários e radicais pedindo intervenção militar para anular o resultado da eleição presidencial, fechar o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal.

 Partidos Constitucionais e Partidos Revolucionários

A classificação das tendências políticas feitas por Fernando Pessoa pode ser sintetizada em duas distinções: partidos constitucionais e partidos revolucionários. Os partidos constitucionais seriam aqueles que Pessoa chamou de “equilibrados”, agremiações que participam da vida política obedecendo as regras do jogo (constituição, leis, instituições). São os partidos dominantes nas democracias modernas (regimes constitucionais-pluralistas). Os partidos revolucionários não aceitam as regras do jogo, e nem o pluralismo existente nas sociedades humanas. Defendem a violência para atingir seus objetivos. Os partidos comunistas e o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (nazista) são exemplos históricos bem representativos dessas tendências. Os comunistas pretendem abater as democracias liberais e instituir a chamada “ditadura do proletariado”. Os nacionais-socialistas, liderados por Hitler, usaram a violência para aniquilar a República de Weimar. O resultado dessas duas experiências históricas foi terrível: centenas de milhões de mortos, sofrimento e destruição.

 Reacionários e radicais ameaçam a democracia

   Partidos conservadores e partidos liberais aceitam as mudanças realizadas conforme as regras do jogo, isto é, de acordo com as leis e os dispositivos constitucionais. Partidos reacionários e radicais usam ou estão dispostos a usar a violência para atingir seus fins. Não veem a si mesmos como contendores de um jogo de toma lá dá cá, mas como partidários de uma poderosa luta entre a verdade divina ou histórica. Os partidos constitucionais, ao contrário, fortalecem a democracia. Consideram que sua função fundamental é ganhar votos nos períodos eleitorais. É o caso dos partidos de fala inglesa e da Escandinávia, além da maioria dos partidos centristas e conservadores” (Lipset)

 Luz na Caverna

           Fernando Pessoa, Páginas de Pensamento Político I – 1910-1919. Coletânea de textos editada pela Publicações Europa-América (Lisboa, 1986).

           Seymour Martin Lipset. El Hombre Político: las bases de la política. Madrid, Editorial Tecnos, 1987.

 

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