OPINIÃO

Conservadores, Progressistas, Reacionários (2)

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Conservadorismo e Liberalismo

           “Tábula Rasa: a negação contemporânea da natureza humana”, escrito por Steven Pinker, é um livro extraordinário. Deveria ser lido por todos aqueles que pretendem ter uma melhor compreensão da natureza do comportamento humano. Segundo Pinker, as atitudes políticas conservadoras e liberais são, em grande medida hereditárias, embora tenham também raízes históricas e intelectuais. As duas filosofias políticas articularam-se no século 18 e seus alicerces podem ser identificados nas controvérsias políticas de milênios atrás na Grécia antiga.

 Conservadores e liberais: os equilibrados

           Como vimos anteriormente, Fernando Pessoa, o grande poeta português, chama os conservadores e os liberais de “equilibrados”, ao contrário dos radicais e reacionários aos quais chamou de “desequilibrados”. Conservadores e liberais agrupam-se em partidos constitucionais, isto é, que se submetem às “regras do jogo” (constituição, leis). Embora possam divergir em relação aos fins a serem alcançados, concordam com os meios a serem utilizados. Uma significativa expressão define a disputa entre conservadores e liberais: “dissenso em relação aos fins, consenso em relação aos meios”. Os conservadores podem ser chamados de direita democrática ou centro-direita; os liberais, de esquerda democrática ou centro-esquerda. As fronteiras entre essas duas tendências quase nunca são claras e bem definidas, estão sempre em processo de interpenetração. Nós mesmos, ora somos conservadores, ora somos liberais e, por vezes, também radicais e até reacionários.

 

Raízes do Conservadorismo

           Roger Scruton diz que o temperamento conservador é instintivo, mas o conservadorismo como filosofia política é um fenômeno moderno, surgido em decorrência de três grandes revoluções: a Revolução Gloriosa de 1688, na Inglaterra, a Revolução Americana, que terminou em 1783, e a Revolução Francesa de 1789. Entretanto, o conservadorismo é herdeiro de um legado filosófico muito antigo. Aristóteles (384 a.C.-322 a.C.), no livro A Política, já defendia o governo constitucional. Segundo ele, o governo da lei é melhor do que o governo dos homens, porque, ao contrário da letra fria e objetiva da lei, os humanos têm paixões e preconceitos. A tradição intelectual conservadora tornou-se parte integrante da civilização moderna, embora em várias partes do mundo o termo conservador seja mais frequentemente um insulto, como vemos aqui na América Latina e no Brasil.

 Conservador não é reacionário nem radical

           Em nossa cultura política é comum o reacionário ser chamado de conservador e o conservador de reacionário, num tom negativo e ultrajante. Na história da filosofia política conservadora, entretanto, especialmente na tradição inglesa, essa confusão não existe. O reacionário parece mais com o revolucionário. O conservador defende o governo da lei (rule of law), enquanto os reacionários e radicais defendem o desrespeito e a violação das leis e das instituições se julgarem isso necessário para atingirem seus objetivos. Vimos isso recentemente entre nós, líderes políticos e autoridades governamentais pregando o uso da violência (intervenção militar), e o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal. Em momentos históricos determinados os conservadores podem defender o uso da força para deter o avanço de reacionários e radicais que pretendem a supressão da ordem legal e constitucional. Mas esse apelo à força não é arbitrário, mas submetido às leis e à Constituição. O que também estamos vendo acontecer em nosso país.

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