OPINIÃO

Tentações

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O primeiro domingo da quaresma relata as três tentações que Jesus sofre por parte do diabo (Deuteronômio 26,4-10, Salmo 90, Romanos 10,8-13 e Lucas 4,1-13). Tentações são meios empregados para obter algo, no caso o diabo tenta desviar Jesus de sua missão. Elas são colocadas no início de sua vida pública, porém acompanharam-no em toda missão. As tentações são possíveis porque feitas a quem é livre, a quem pode dizer sim ou não. As que são feitas a Jesus resumem o que se passou na sua vida, e ao mesmo tempo, sinalizam as turbulências fundamentais que são comuns à condição humana. Na oração do Pai Nosso Jesus incluiu o pedido “não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal”.

Na primeira tentação o diabo diz: “Se és o Filho de Deus, manda que esta pedra se mude em pão. Jesus respondeu: “A Escritura diz: ‘Não só de pão vive o homem”. Com esta palavra de Jesus não quer opor o pão à palavra, os valores materiais aos valores espirituais ou a vida terrena à vida espiritual. O próprio Jesus multiplicou pães e peixes e pediu que os discípulos dessem de comer. 

Porém a vida humana não se reduz e nem se explica somente na luta pela sobrevivência. O tentador quer resumir a vida ao pão, mas Jesus abre um horizonte. O ser humano é mais e precisa de mais para a vida ser humana. Precisamos de que afinal para saciar a condição humana? A título de exemplo, podemos citar as relações interpessoais, a cultura, a arte, a espiritualidade. Jesus deu um exemplo, quando na última ceia toma o pão e diz “comei, este pão que não é só pão; que é o meu corpo, o dom inteiro da minha vida entregue por vós”.

Na segunda tentação o diabo levou Jesus para mostrar-lhe “todos os reinos do mundo, e lhe disse: Eu te darei todo este poder e toda a sua glória [...] se te prostrares diante de mim em adoração, tudo isto será teu” Jesus respondeu: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás”. A tentação trata do poder. “O culto do poder, faz do poder um ídolo, qualquer que seja. Torna o domínio e a posse a suposta fonte de felicidade e de sentido, reduzindo a esses o horizonte de significação da vida. Um cristão tem sempre de perguntar-se não apenas “o que faço do poder que tenho ou que me foi confiado?”, mas também “o que é que o poder fez de mim?” (Cardeal José Tolentino de Mendonça). Jesus não se ajoelhou diante de Satanás, mas ajoelhou-se voluntariamente diante dos discípulos para lavar-lhes os pés. 

Depois Jesus foi conduzido ao alto do Templo e o tentador propõe. “Se és Filho de Deus, atira-te daqui abaixo! [...] Jesus, porém, respondeu: “A Escritura diz: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus”. Tentar a Deus é colocá-lo à prova. “É como se Deus tivesse de submeter às condições que consideramos necessárias para podermos acreditar nele. Se ele não cumpre essa proteção prometida, do modo que nós desejamos ver cumprida, as certezas da nossa fé vacilam. Se ele não satisfaz imediatamente as nossa múltiplas sedes ficamos logo atordoados sem saber se ele está no meio de nós ou não”. (Cardeal José Tolentino de Mendonça). Madre Teresa de Calcutá tinha clareza que não podia tentar a Deus, por isso dizia: “Quero amar a Deus por aquilo que ele tira”. 

Se Jesus sofreu tentações no começo do ministério e que o acompanharam por toda sua vida, assim também os seus seguidores terão uma vida acompanhada de questionamentos e provocações. De Jesus temos o exemplo onde alimentar-se para poder responder com serenidade e manter-se fiel na vida cristã. Jesus foi ao deserto para estar na companhia do Pai e do Espírito Santo. Trata-se da vida de oração do cristão. Jesus dialoga com o tentador a partir da Escritura e esta deve ser a fonte inesgotável para o cristão, como diz a carta aos Romanos: “A palavra está perto de ti, em tua boca e em teu coração”. 


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