Discos voadores, objeto voador não identificado (OVNI), ufos, luzes no céu... são diversos os nomes utilizados desde a Antiguidade para denominar fenômenos avistados no céu. Em comum, os termos referem-se a objetos ou situações de origem desconhecida para o observador, que já foram associados a fenômenos mágicos, religiosos e, a partir do final dos anos 1940, relacionados a viagens intergaláticas e visitas de seres de outros planetas.
Sabe-se que tais avistamentos possuem explicações plausíveis, não sendo encontrada nenhuma ligação a contatos extraterrestres. A percepção do caráter das observações, místicas, intergaláticas ou que são produtos da corrida espacial, são intimamente influenciadas pelas opiniões do contexto do observador.
Entre as décadas de 1940 a 1960, o tema viagens espaciais e visitas de seres de outro mundo era debatido por parte da imprensa internacional e brasileira, além de estar muito presente em produções cinematográficas. É nesse contexto que encontramos no jornal O Nacional, relatos sobre aparições cruzando o céu passo-fundense.
“Um disco voador evolucionou ontem sobre Passo Fundo!”, era uma das manchetes que estampavam a capa do jornal O Nacional de 25 de setembro de 1954. Segundo a reportagem, por volta das 11 horas da manhã um objeto circular voava pelo céu de Passo Fundo alcançando grande altura, movimentando-se para esquerda e direita, cima e baixo, desaparecendo e reaparecendo algumas vezes. A partir desse relato, encontramos várias vezes, pelos próximos meses, o tema dos discos voadores e suas origens nas folhas do jornal.
No dia 26 de novembro do mesmo ano, outra aparição é noticiada, com o título “Teriam cruzado discos voadores em Passo Fundo?”. A reportagem, baseada nos relatos daqueles que viram os objetos, descreve que por volta das 16 horas do dia anterior, esses discos andavam “a uma velocidade incrível. Um deles brilhava fortemente, com luz prateada, talvez devido ao reflexo do sol”. O evento reuniu inúmeras pessoas, em um dos canteiros da Avenida Brasil, a olharem atentamente para o céu, pois os discos estariam movimentando-se sobre a cidade a partir da Avenida em direção à rua Bento Gonçalves.
Apesar do repórter d´O Nacional não ter visto nada, não teria duvidado dos relatos já que afirmava que “este Brasil está mesmo se tornando um ponto preferido para as incursões desses estranhos aparelhos.” Essa não foi a única notícia sobre o tema na edição, pois uma das manchetes da capa foi “Disco voador de grande luminosidade, sobrevoou a Argentina”. Na edição do dia seguinte, 27, a notícia era de que discos teriam sido avistados sobrevoando Lagoa Vermelha.
Os relatos sobre aparições de discos voadores em outras partes do país ou até mesmo outros países, são comuns nas edições do jornal da época. Também era corrente que após essas notícias ou avistamentos em Passo Fundo, outras pessoas da região passassem a ver objetos desconhecidos no céu.
Na já citada reportagem de 26 de novembro, o repórter indaga: “Surge novamente a pergunta: teriam mesmo aparecido os discos voadores? O leitor o julgue. Nós, todavia, não duvidamos.” Nós também não duvidamos, mas as explicações são mais ordinárias do que a imaginação nos
faz crer. Ao mesmo tempo que a conjunção de avanços tecnológicos, Guerra Fria e corrida espacial impulsionavam a crença e a preocupação com a possibilidade de vida para além da Terra, tal contexto também explica a recorrência de avistamento dos objetos voadores. Para além de meteoros e fenômenos atmosféricos, os avistamentos poderiam ainda derivar de novas tecnologias testadas no céu. Muitas vezes, tratava-se de balões meteorológicos, aviões e satélites artificiais.
Respondendo ao título deste texto, e o de 70 anos atrás, sim, “discos voadores” possivelmente teriam cruzado Passo Fundo. Mas, dificilmente vieram de outras galáxias.