Justiça reabre um dos processos contra Adriano da Silva

O maníaco, acusado da morte de nove meninos na região, voltou ontem a Passo Fundo onde participou de audiência sobre o assassinato de Volnei Siqueira dos Santos, morto em julho de 2003

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Bruno Todero/ON

O recomeço de um drama. Esse foi o sentimento da família do menino Volnei da Siqueira dos Santos, assassinado em 2003, quando tinha 12 anos, ao ser convocada para uma nova audiência no Fórum de Passo Fundo, ficando novamente frente a frente com Adriano da Silva, o homem que teria matado e abusado sexualmente do garoto. Em outubro de 2007, o maníaco já tinha sido julgado e condenado pelo crime, mas o advogado recorreu da sentença alegando que houve cerceamento de defesa, que foi acatada pelo tribunal.

Com isso, o caso foi reaberto e uma nova audiência com as partes foi pedida. Agora, um novo júri popular poderá ser marcado pelo Judiciário. “Para mim isso tudo é muito difícil. O caso estava encerrado e agora vai começar tudo de novo”, disse o pai da vítima, José Pires dos Santos. Já a mãe de Volnei, Jenice da Siqueira Reck, lamentou ver o caso reaberto e disse que esperava que a Justiça apontasse quem matou o filho, se não o próprio Adriano.

As versões de Adriano
A audiência, marcada para as 15h50, iniciou com atraso de cerca de 15 minutos. Isso porque Adriano da Silva concedeu entrevista exclusiva a uma emissora de televisão, que teria negociado o contato com o advogado do réu, Inácio Guerreiro. Depois de ouvir uma testemunha, a mãe e o pai da vítima, o juiz Ricardo Artech Hamilton interrogou o próprio Adriano da Silva, que mostrou-se confuso ao responder alguns questionamentos. Perguntado se havia cometido o crime e se conhecia Volnei, disse que não. Questionado sobre porque confessou o crime ao ser preso, em janeiro de 2004, alegou que foi pressionado a mentir. Hamilton então indagou quem o teria pressionado, mas Adriano respondeu que não iria se manifestar a respeito.

A maior dúvida surgiu quando o magistrado perguntou se Adriano havia encontrado com a vítima no dia do crime. O réu pediu ajuda ao advogado para responder. Disse que o próprio menino havia se oferecido para fazer um programa sexual e que teria pagado R$ 8 para o mesmo. A versão é diferente da que foi dada em juízo, quando o maníaco alegou que havia praticado o ato sexual depois que o menino estava morto. A prova de que Adriano abusou sexualmente de Volnei foi o laudo pericial, que encontrou sêmen do réu nas cuecas do menino.

Advogado o considera um homem bom
Antes da audiência, o advogado Inácio Guerreiro, que assumiu a defesa de Adriano em agosto de 2007 (até então o réu era assistido pela Defensoria Pública), atendeu a imprensa, onde revelou que defenderá a tese de que Adriano da Silva não matou Volnei, e que o único crime do mesmo neste caso teria sido o vilipêndio (desrespeito ao cadáver). “Como o vilipêndio não está na denúncia, se os jurados aceitarem minha tese, ele estará absolvido neste processo”, explicou. Contudo, a tese caiu por terra no momento em que Adriano confirmou que manteve relações sexuais com o menino ainda vivo.
Perguntado sobre a versão que o próprio Adriano lhe confidencia, disse que o réu nega todos os crimes. Para o defensor, Adriano é uma pessoa inteligente e capaz de retornar as ruas normalmente quando terminar de cumprir as penas impostas, daqui menos de 23 anos. “Se ele for tratado pode voltar normalmente sim. Quantas pessoas cometeram crimes mais horrendos do que ele e voltaram a ser normais?”, questionou o Guerreiro.

As condenações de Adriano
Mesmo com a anulação do julgamento no caso Volnei, Adriano da Silva já soma mais de 183 anos de condenação por outros oito assassinatos. Isso obriga que ele cumpra a pena máxima estipulada pela legislação brasileira, que é de 30 anos de detenção em regime fechado, já reduzida a progressão de pena de 1/6 do tempo a que o réu tem direito. Como já cumpriu sete anos da pena, deverá ser liberado daqui a 23 anos.
2001 – 27 anos de reclusão por latrocínio em União da Vitória, Paraná.
2006 –21 anos e cinco meses pela morte de Alessandro Silveira, 13 anos.
2006 - 29 anos, três meses e 20 dias pela morte de Júnior Reis Loureiro, 10 anos.
2006 - 21 anos, dez meses e 20 dias de reclusão, pelo assassinato de Luciano Rodrigues, 12 anos.
2007 - 21 anos, oito meses e 40 dias de prisão pelo assassinato de Leonardo Dornelles dos Santos, nove anos.
2007 - 24 anos de reclusão pela morte de Daniel Bernardi Lourenço, 13 anos, em Sananduva.
2007 – 21 anos e cinco meses pelo assassinato de Douglas de Oliveira Hass, 10 anos, em Soledade.
2008 - 22 anos pela morte do menino Éderson Leite, 11 anos, em Lagoa Vermelha.
2010 – Adriano da Silva ainda será julgado, no dia 6 de outubro deste ano, pelo assassinato do menino Jeferson Borges Silveira, desaparecido em 29 de setembro de 2003, então com 12 anos.

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