Eder Calegari/ON
"Ela havia saído para trabalhar e não voltou para casa." O relato é do marido de Vera Lucia Constantino Ansolin, 59 anos, que morreu atropelada na Av. Brasil, no bairro Petrópolis, na manhã de ontem, quando havia saído do trabalho - em uma casa de família - e retornava para casa. A mulher se despediu do marido no final da tarde anterior quando foi passar a noite na casa onde cuidava de crianças.
No chão, restaram o corpo sobre o meio-fio do canteiro da avenida principal da cidade e as compras que a mulher havia feito em uma padaria em frente ao local do acidente. Emocionado, o marido assistiu de perto ao trabalho da perícia e da polícia que durou mais de uma hora, até que o corpo fosse recolhido e a pista liberada pela Guarda Municipal de Trânsito. A preocupação também era com os dois filhos da mulher. Sem saber como telefonar para comunicar o ocorrido, o marido lamentou que eles morassem na Região Metropolitana e que ele não tinha o número dos telefones para avisá-los.
Sobre o acidente
O atropelamento foi na sinaleira, próximo ao cruzamento da Av. Brasil com a rua Olavo Bilac. O Golf conduzido por um auxiliar de expedição, de 27 anos, vinha no sentido Petrópolis-Centro e se chocou com a vítima quando ela já estava quase concluindo a travessia.
O Corpo de Bombeiros foi acionado, mas a mulher já estava sem vida, pois havia sido arrastada por quase 10 metros. Policiais da Delegacia de Trânsito, que está responsável pelo caso, também estiveram no local. Segundo informações da polícia, o condutor do automóvel deve responder por homicídio culposo, ou seja, quando não há intenção de matar. O veículo foi recolhido ao pátio do guincho e também passou por perícia.
O caminho arriscado para a escola
Próximo ao local do atropelamento da mulher de 59 anos, fica a Escola Estadual Arcoverde. Mais de 1.100 alunos estudam na instituição e boa parte deles mora do lado oposto da avenida e precisam atravessar diariamente a pista. A diretora Maria de Fátima Ribeiro Mendes afirma que existe risco quando as crianças atravessam a rua devido à velocidade dos veículos, que por vezes excede o limite de 50 quilômetros por hora estipulado para a via naquele trecho. "Orientamos as crianças a percorrer o trajeto utilizando a faixa de segurança, porém sabemos que muitas atravessam por outras ruas que cortam a avenida, o que representa um risco", destacou.
A falta de agentes de trânsito
Moradores da região reclamam da falta de agentes de trânsito no bairro. "Nas escolas particulares existe a presença constante de agentes da Guarda Municipal de Trânsito. Eles param os carros, nem que seja para uma única criança atravessar. Nas escolas públicas, ao contrário, esse cuidado não existe", argumentou um auxiliar de farmácia, enquanto acompanhava o atendimento do acidente.
O que dizem as autoridades
Bombeiros
O major Gilcei Leal da Silva, comandante dos bombeiros, acredita que o número de veículos circulando na cidade (em torno de 100 mil), aliado à imprudência ou desatenção de alguns motoristas e pedestres, pode estar associado ao aumento dos acidentes no perímetro urbano de Passo Fundo. Major Silva ainda aponta o respeito à sinalização e a aplicação efetiva de multas como fatores determinantes na condução adequada do trânsito urbano.
Guarda de Trânsito
O diretor da Guarda Municipal de Trânsito, César Variza, afirma que não há prioridade para as escolas particulares, em se tratando da distribuição de agentes. "O que existe é uma carência desses profissionais e fica impossível manter agentes em todas as escolas da cidade nos horários de pico. Damos prioridade às instituições que tem maior número de alunos, as que concentram maior movimento e as que não tem dispositivos controladores de trânsito como sinaleiras ou lombadas", argumentou.
Ainda segundo o diretor, existe a previsão de que, em breve, sejam nomeados os agentes aprovados no concurso público realizado no ano passado, o que pode contribuir para uma fiscalização mais efetiva. "Solicitamos 30 novos agentes, esperamos ser contemplados", finalizou o diretor. Atualmente, cerca de 40 agentes se revezam em quatro turnos. A concentração é maior pela manhã e à tarde, quando ficam nas ruas 16 agentes em cada turno.
O que diz a secretaria
O titular da Secretaria de Transporte, Mobilidade Urbana e Segurança, Adelar Aguiar, disse que não é adequada a instalação de lombada física ou de redutores de velocidade nas vias de alto fluxo, porque pode haver efeitos colaterais, como trepidação e danos aos prédios próximos. Apesar disso, o secretário garantiu que o equipamento será instalado no local, distante cerca de 50 metros da sinaleira, já nos próximos dias.
Houve também registro de outros casos na tarde de ontem. Em um deles, uma menina de 15 anos teve lesões no fêmur em acidente na Moron, Centro. Ela permanece no Hospital São Vicente de Paulo. Em outra colisão, na mesma rua, envolvendo três carros, duas mulheres tiveram escoriações e foram encaminhadas ao Hospital da Cidade. No final da noite de ontem já havia recebido alta.