Megaoperação para oitiva de quadrilheiros

Começou ontem oitiva judicial de vítimas e testemunhas da Operação Monarcas, que em fevereiro prendeu 18 pessoas por envolvimento no roubo de carros e tráfico de drogas na região. Trabalho segue hoje mas só termina dentro de 15 dias

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Bruno Todero e Eder Calegari/ON

A oitiva de vítimas e testemunhas de acusação e defesa da maior quadrilha desbaratada em Passo Fundo nos últimos anos movimentou o Centro de Passo Fundo nesta terça-feira. Cerca de 40 homens, entre policiais e agentes penitenciários, em quase uma dezena de viaturas, chegaram ao Fórum por volta das 8h30 para o início da audiência de instrução de 18 pessoas, que foram presas na Operação Monarca, desencadeada pela Polícia Civil em fevereiro deste ano, acusadas de envolvimento em crimes de roubo e furto de veículos, extorsão e tráfico de drogas.
A fase de oitivas iniciou pela manhã, com cerca de 10 vítimas, e se estendeu durante a tarde de ontem, com o depoimento de 15 policiais que participaram das investigações e ajudaram nas prisões. Hoje, os trabalhos reiniciam às 14h, quando testemunhas de defesa e outros policiais serão interrogados pelo juiz.  

Os 18 envolvidos, entre eles quatro mulheres, chegaram ao Fórum em quatro viaturas de transporte de presos da Susepe e participaram dos trabalhos durante grande parte do tempo, sendo retirados do salão onde aconteceu a audiência durante o depoimento das vítimas. Segundo o juiz da 1º Vara de Execuções Criminais, Ricardo Arteche Hamilton, eles só serão interrogados dentro de aproximadamente 15 dias, quando deverão estar concluídas as oitivas das testemunhas e vítimas. Enquanto isso, 17, dos 18 presos, vão continuar recolhidos no Presídio Regional de Passo Fundo, onde ficaram presos desde a operação. O outro integrante do grupo aguarda o fim do processo em liberdade, beneficiado por um habeas corpus.

Hamilton acredita que a sentença para os 18 réus só será proferida dentro de aproximadamente 60 dias. Isso porque, concluída a audiência de instrução, será dado prazo para manifestação da defesa e da acusação. Além disso, o fato de envolver tantos presos, a maioria assistidos por advogados diferentes, pode atrasar o andamento do processo. Ainda assim, de acordo com o magistrado, o tempo decorrido entre a prisão dos envolvidos e o provável anúncio da sentença é considerado rápido para os padrões da Justiça no Brasil.
Sobre o forte aparato de segurança, Hamilton informou que foi um pedido seu o apoio do Batalhão de Operações Especiais da Brigada Militar na operação. O objetivo foi garantir mais segurança para os próprios réus e para as centenas de pessoas que trabalham ou que utilizam o serviço do Fórum durante o dia.

“Acabou o oba-oba da extorsão”
A prisão dos 18 envolvidos nas duas quadrilhas, em fevereiro, praticamente acabou com o crime de pedido de resgate para devolução de veículos roubados ou furtados na cidade. A informação é do delegado Adroaldo Schenkel, que comandou a Operação Monarca e conversou com a reportagem na tarde de ontem. “Depois das prisões, verificamos durante cerca de 60 dias que reduziu consideravelmente os roubos de carro na cidade. Nesse mesmo tempo, não houveram mais casos de pedido de resgate. Recentemente, tivemos uma nova onda de roubo de veículos, mas sabemos que é outro grupo que está agindo”, disse o delegado.
Schenkel falou também sobre a realização da Operação Monarca, considerada a segunda maior da história da Polícia Civil de Passo Fundo, perdendo apenas para outra realizada pela Defrec em 2005, quando 25 pessoas envolvidas com tráfico de drogas foram detidas. Segundo o delegado, a quadrilha desarticulada em fevereiro e que agora está prestes a receber a sentença era caracterizada pela excelente organização e estrutura. “Era um grupo importante, bem estruturado, cuidadoso nas ações, o que dificultou a investigação e a conclusão dos trabalhos. Acima de tudo, era um grupo experiente. Tinha integrantes com duas ou três condenações”, revela.
Segundo o delegado, o envolvimento dos acusados nos crimes foi tão bem fundamentado, em um inquérito de mais de mil páginas, que a prisão dos mesmos foi mantida, mesmo depois de passados quatro meses. “O importante que acabou o oba-oba do resgate de veículos, que é uma criação de Passo Fundo. Não se houve falar no Estado de situações como acontece aqui”, afirmou.
Sobre as condenações que podem ser atribuídas aos réus, Schenkel disse que cada processo é analisado em separado, havendo membros denunciados por mais de cinco crimes e outros por apenas dois.

Entenda a Operação
A Operação Monarca foi desencadeada na manhã do dia 12 de fevereiro deste ano, após um período de seis meses de investigações. A polícia cumpriu 38 mandados de busca e apreensão. Os 18 presos são acusados de envolvimento em crimes de roubo e furto de veículos, extorsão e tráfico de drogas. O trabalho foi realizado pela Defrec (Delegacia Especializada em Furtos, Roubos, Entorpecentes e Capturas), com apoio das delegacias de Passo Fundo, Carazinho, Cruz Alta, Lagoa Vermelha, Erechim e Soledade. Foram 106 agentes envolvidos, oito delegados e 32 viaturas empregadas.
Cinco veículos foram recolhidos pela polícia naquele dia, além de armas. Uma quantidade em pedras de crack também foi apreendida pelos policiais durante as abordagens. Entre os acusados, cinco homens com idades entre 18 e 38 anos foram presos por extorsão (pedido de resgate após roubo e furto de veículos) além de um menor, que já havia sido recolhido ao Case. As outras 12 pessoas, entre eles quatro mulheres com idades de 35, 37, 49 e 52 anos, foram presas acusadas de tráfico de drogas.
Durante o período de investigações, foram flagradas entregas de entorpecentes nas cidades de Lagoa Vermelha, Sananduva, Tapera e Ibirubá. Segundo o delegado Adroaldo Schenkel, os dois grupos tinham relação entre si e atuavam em toda a cidade. "Durante as investigações da Defrec, em um curto espaço de tempo, foram identificados pelo menos 22 veículos furtados e roubados e que eram objetos de extorsão aos proprietários", destacou.

Os acusados
Entre os presos, estão desempregados, uma técnica de enfermagem, um aplicador de películas em automóveis, motoboys, donas de casa, motorista, e um auxiliar de produção. Um homem de 38 anos, que concorreu a uma vaga na Câmara de Vereadores em 2004, também foi detido. Ele é acusado de ser o chefe do grupo envolvido com roubo de carros.

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