“Pai, por favor, me ajuda, faz tudo o que eles estão pedindo”. Sem saber que estava sendo vítima de um golpe, um homem, de 69 anos, acreditou no apelo e permaneceu por 12 horas em contato telefônico, atendendo todas as exigências dos bandidos, para livrar o filho de um falso sequestro. Ele chegou a realizar três depósitos, para diferentes contas, todas fora do Estado, somando um prejuízo de R$ 4,3 mil. Além de comprar aproximadamente R$ 300 em recargas para celulares e repassar os códigos.
O drama do idoso, morador de um bairro em Passo Fundo, e cuja identidade é mantida em sigilo, teve início por volta da meia noite de quinta-feira, da semana passada. Pelo código de área, a ligação anunciando o sequestro foi feita provavelmente do interior de um presídio do Rio de Janeiro, para o telefone convencional, na casa da vítima. A partir dali, os bandidos passaram a comandar todos os passos do idoso.
A primeira exigência é de que ele fornecesse o número de seu celular para dar continuidade às negociações. Para dar mais realismo ao golpe, outra pessoa simulava ser o filho dele e, aos prantos, clamava por ajuda. “Pai, eu confio em ti, me ajuda, não desliga o telefone” dizia o bandido. Convencido de que o filho, o qual reside em Porto Alegre, realmente estava em poder de seqüestradores, o pai seguiu à risca cada exigência. Uma delas era passar a noite fora de casa para não contar nada aos familiares.
Antes de ir para um hotel, ele embarcou em um táxi e foi até a Estação Rodoviária de Passo Fundo, onde sacou R$ 300. Após, passou em uma farmácia e comprou R$ 200 em créditos para celular. Os bandidos permaneceram a noite toda em contato com a vítima. O idoso ainda comprou mais duas recargas no valor de R$ 50 cada e rasgou os comprovantes. Pela manhã, efetuou novos saques, em mais de um banco. Os três depósitos, para diferentes contas fora do Rio Grande do Sul, foram feitos de uma agência lotérica. Desesperados com o sumiço dele, familiares acionaram a polícia, que iniciou as buscas. No final da manhã, policiais da 1ª DP o encontraram em um shopping, no centro de Passo Fundo, quando se preparava para sacar mais dinheiro.
Ajuda policial
Temendo desapontar os falsos sequestradores, o homem ainda relutou em aceitar a ajuda da polícia e dos próprios familiares. “A ficha somente caiu quando disseram que o filho estava vindo de Porto Alegre, em razão do sumiço dele. Então percebeu o golpe. Eles passaram a noite toda em contato, inclusive, fornecendo informações para os saques e depósitos” disse a delegada Claudia Crusius, que responde interinamente pela 1ª DP, e comandou o trabalho. O idoso precisou ser medicado no hospital.
A polícia vai solicitar a quebra de sigilo bancário para tentar identificar os proprietários das contas em que foram efetuados os depósitos, além de rastrear as ligações para descobrir o nome dos donos dos celulares. De acordo com a delegada Claudia, esse tipo de golpe normalmente é aplicado de dentro de presídios de outros estados. Como dica, ela recomenda a verificação do código de área ao atender a ligação, procurar entrar em contato com o filho e outros familiares, para confirmar a informação, e nunca, fornecer informações pessoais. “Quanto mais dados são repassados, mais argumentos eles terão para convencer a vítima ” explica a policial.