Novo quartel e a sede do Governo do Estado

82 anos de história(s) ?EUR" Parte 3

Por
· 3 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Gerson Urguim/ON e Redação ON

Após a participação na Revolução Constitucionalista de 1932, o 3° Regimento de Cavalaria participou também, em 1939, do patrulhamento das fronteiras com a Argentina após a deflagração da 2ª Guerra Mundial. Após este período, o quartel construído na hoje Vila Rodrigues tornou-se pequeno e obsoleto para o tamanho e importância do Regimento.

Em 1950 teve início o processo de construção do novo quartel, e para isso foram criados serviços de olaria, pedraria, extração de areia, dentre outras atividades.

O relatório anual do Regimento, no ano de 1954, aborda a questão da construção do novo quartel, exaltando o uso da mão de obra dos próprios soldados. “O que foram os trabalhos de construção feitos pelas mãos dos soldados tercerianos é obra que não se traduz em palavras”, registra o documento. Três anos antes, o Regimento também foi responsável pela construção do destacamento do Corpo de Bombeiros, onde anteriormente funcionava o Presídio Municipal, na Rua Independência.

A inauguração do quartel aconteceu no dia 10 de dezembro de 1954 e contou com a participação de diversas autoridades da época, inclusive do então governador do Estado Ernesto Dornelles. A mudança do antigo quartel para a nova sede do Regimento ocorreu três dias depois.

De acordo com o atual comandante do 3° RPMon, tenente coronel Fernando Carlos Bicca, a mudança de quartel era mais do que necessária à época. “As instalações ocupadas até a década de 1950 eram instalações precárias, com muitas construções de madeira, por exemplo. Os tempos modernos exigiam uma nova configuração do nosso quartel, que precisava abrigar mais gente e necessitava de uma estrutura condizente com a importância da unidade e que pudesse dar condições de conforto para as pessoas que serviram naquela época”, afirmou.

Capital do estado por três dias

Dez anos após a inauguração do novo quartel, o 3° RPMon voltaria a ser o centro dos fatos. No Rio de Janeiro, então capital federal, em 1° de abril de 1964, era deflagrado o Golpe Militar, que manteria os generais no poder até 1985. Com a queda do presidente João Goulart, houve, em Porto Alegre, uma forte manifestação contra o golpe, liderada por Leonel Brizola, que, três anos antes havia feito parte do movimento da Legalidade.

Na data do golpe, Brizola encontrava-se em Porto Alegre, levando o então governador Ildo Meneghetti a deixar a capital do Estado até que os ânimos se acalmassem e a possibilidade de um levante popular reduzisse. “Por ocasião do golpe, o governador tinha medo de uma guerra civil, de um levante armado. Passo Fundo foi escolhida porque o governador tinha fortes aliados políticos aqui e recebeu total apoio do prefeito, na época o Mário Menegaz. Ele já havia vindo a Passo Fundo na posse do prefeito em 1963 em uma demonstração de apoio”, disse a professora mestre em História, Sandra Mara Benvegnu. 

Ainda de acordo com a professora, há uma dúvida em relação ao local em que o governador passava as noites durante os três dias em que o Governo do Estado esteve instalado em Passo Fundo. “Algumas fontes não souberam precisar o local em que o governador passava a noite. Alguns acreditam que ele tenha pernoitado no próprio quartel da Brigada Militar”, afirmou.

 

A versão de quem acompanhou os fatos

O capitão da reserva, Elmary Souza Silva, que ingressou na Brigada Militar em 1961, estava servindo justamente no Palácio Piratini, no dia em que o governador e sua comitiva deixaram a Capital rumo a Passo Fundo. “Nós estávamos sem saber o que acontecia. As notícias eram desencontradas. Ninguém ficou sabendo para onde ele havia ido. Foram solicitadas tropas de Porto Alegre para fazer a escolta. Esperávamos qualquer coisa, inclusive que o palácio fosse atacado. Havia essa preocupação na tropa”, explicou.

Foram três dias de tensão dentro do quartel. Para o tenente José Ubirajara Silva, que na época trabalhava no quartel como engraxate o momento era delicado, apesar de, na época com 12 anos, não compreender a magnitude do evento. “A gente via os caminhões que eram trazidos para dentro do quartel para que as tropas embarcassem imediatamente caso fossem solicitadas. Havia pilhas de munição espalhadas por todos os lados. Víamos grupos de soldados reunidos pelo pátio, alguns pareciam indiferentes, riam enquanto conversavam, mas outros pareciam realmente preocupados, vi inclusive alguns soldados chorando, já que não sabiam o que estava por vir”, contou.

Após três dias, e com os ânimos menos exaltados na Capital, a comitiva do governador Meneghetti retornou a Porto Alegre no dia 4 de abril de 1964.

Gostou? Compartilhe