O acidente na boate Kiss em Santa Maria trouxe à tona a discussão sobre a prevenção contra incêndios. Além de equipamentos em bom estado de conservação e em condições de uso, é preciso que exista pessoal treinado para usar estes materiais e também para organizarem as evacuações. Porém, é importante lembrar que essas regras valem também para prédios residenciais, comerciais e industriais.
Conforme o primeiro sargento Carlos Alberto Carvalho Maciel, da Seção de Prevenção de Incêndio (SPI), do Corpo de Bombeiros de Passo Fundo, existe um trabalho de inspeção nesses locais, além da exigência de cursos de treinamento de funcionários para o correto uso de extintores. “A nossa lei estadual só excetua habitações unifamiliares, habitações onde reside uma única família. Se tiver uma casa de dois pisos com dois apartamentos, já não é unifamiliar e entra na mesma legislação”, explica o sargento Maciel, que é um dos oito integrantes da equipe que trabalha exclusivamente com prevenção contra incêndios.
De acordo com ele, quando não é unifamiliar, a edificação precisa apresentar corrimão em todas as escadas, saídas de emergência compatíveis com o número de pessoas moradoras do local ou funcionários, para-raio e escadas de emergência. “Aqui em Passo Fundo os prédios residenciais, a cada dois anos, são inspecionados, e os prédios de indústrias e comércios têm inspeção anual, seja por solicitação do empresário, seja por notificação nossa. Nos residenciais, temos um trabalho muito bom com os administradores de condomínios, que fazem este trabalho e solicitam a inspeção conosco”, explica o bombeiro.
Porta corta-fogo
Esta é uma das exigências em prédios, mas o que muitas vezes acontece é que as portas são mantidas abertas, quando deveriam ser conservadas fechadas. “Se o objetivo da porta corta-fogo é enclausurar a escada, deverá estar fechada. O objetivo de uma escada de emergência é que, se ocorrer um incêndio, você vá para a escada e esteja isolado, protegido da edificação que está queimando” completa. O sargento explica que, se a pessoa do terceiro andar, por exemplo, deixar essa porta aberta para ventilar ou entrar luz e começar a acontecer um incêndio, as pessoas que estiverem acima do terceiro andar não conseguirão passar pela escada. “Isso acontece porque a fumaça vai entrar nessa escada e sabemos, tanto é que nessa ocorrência em Santa Maria foi o que aconteceu, que o problema maior é a fumaça, que deixa o indivíduo cego e asfixia. Por meio do fogo você até consegue passar rápido, correndo, mas no meio da fumaça, não consegue, a pessoa não consegue enxergar e fica asfixiada”, argumenta.
Treinamento
Outra obrigação é ter pessoas que tenham treinamento para o uso de equipamentos de combate ao fogo em todos os turnos que a empresa funciona. “Existe uma norma da Brigada Militar e do Corpo de Bombeiros, que diz que a cada 750 metros quadrados deve haver uma pessoa treinada, mas nunca menos que duas pessoas. Então, num estabelecimento com 750 metros quadrados, deverá haver duas pessoas treinadas e assim é a cada 750 metros deverá ter mais uma pessoa treinada”, afirma.
Estabelecimentos que trabalham 24 horas, em cada turno deverá haver o mínimo de pessoas treinadas. “Então, num contingente de 30, 40 funcionários, certamente de 8 a 10 deverão ter esse treinamento”, ressalta.
Quem passa pelo treinamento passa a ser um brigadista. Em suma, o treinamento consiste em ensinar o brigadista a usar o extintor de incêndio, aplicar primeiros-socorros, usar o hidrante, ter noção de como funcionam a iluminação de emergência e o alarme de incêndio. “Como o curso é de apenas 4 horas, é feito um apanhado geral das normas, mas mais especificamente se ensina como usar o extintor de incêndio e que tipo de extintor usar em cada situação, se pode ser de água ou pó”, explica.
Entretanto, ainda não faz parte dos itens, o treinamento de evacuação, necessário para que as pessoas possam sair de forma organizada e o mais rápido possível. “Esse treinamento de evacuação ainda não está sendo cobrado, mas existe a previsão legal de que se deve fazer em locais de reunião de público, como prédios de bancos”, comenta o sargento.