‘Mudou tudo’. A frase curta e objetiva disparada pela titular da 1ª Delegacia de Polícia, delegada Daniela de Oliveira Minetto, quinta-fera, ao receber o laudo extraoficial de necropsia, indicando que três dos oito tiros efetuados por um policial do Batalhão de Operações Especiais (BOE), atingiram as costas do PM Alexandre dos Santos Bueno, 31 anos, ecoou na Brigada Militar. Em entrevista sexta-feira à tarde, o comandante do 3º RPMon, que também responde interinamente pelo CRPO-P, coronel Fernando Carlos Bicca, admitiu ampliar o leque de hipóteses sobre as circunstâncias da morte do militar.
“Até então vínhamos tratando o caso como legítima defesa, baseado nos relatos dos policiais. Ainda que não seja oficial, o laudo aponta para outras possibilidades. Não temos interesse em esconder nada. Temos um inquérito policial e um civil para apurarmos a verdade. Mas todos têm a presunção da inocência, e o policial também” declarou.
O documento entregue à delegada determinou a guinada no caso, mas antes dele, já havia uma série de questionamentos sobre pontos apresentados na versão da BM. Um dele diz respeito à placa do Corolla perseguido pela guarnição. Enquanto o PM era atendido no Hospital da Cidade, o comando divulgou que se tratava de um veículo preto em situação de roubo. Na quinta-feira, o comando BOE chegou a afirmar à reportagem que a placa não havia sido anotada, no entanto, voltou atrás e disse que tinha a numeração. Questionado novamente sobre o assunto, Bicca disse ‘supor’ que não ocorreu a identificação do veículo. “Talvez eles não tenham conseguido aproximação do carro para anotá-la, mas é uma suposição apenas” alegou.
Os quatro policiais envolvidos na abordagem foram afastados por tempo indeterminado. Segundo o comandante, a decisão foi uma medida de proteção. “Eles passaram por um evento traumático precisam ser trabalhados. Não é todo dia que um policial se envolve em ocorrência de morte, ainda mais contra um colega de profissão” justificou.
Bicca disse que só vai se manifestar sobre o procedimento da guarnição após a conclusão das investigações. Para ele, não é possível avaliar se houve excesso na ação, apenas pela quantidade de tiros disparados (oito contra nenhum de Bueno). Para o militar é preciso levar em consideração outros elementos da situação.
O mesmo vale para a informação de que a guarnição não teria informado à Sala de Operações do Regimento de que estava em perseguição. “Não afirmo, mas também não nego. Não tive tempo de me deter neste fato. O encarregado do inquérito vai averiguar” declarou.
Bicca criticou a destruição da cena do fato, que impossibilitou realização da perícia. A versão da BM é de que ela teria ocorrido enquanto os policiais se retiraram para levar o policial baleado até o hospital. “Vamos verificar de quem é esta responsabilidade. Se for dos policiais eles responderão por isso” comentou.
Denúncias
O coronel voltou a afirmar que Bueno vinha sendo investigado por envolvimento em supostos assaltos, com base numa série de denúncias. No entanto, segundo ele, ninguém se prontificou em depor oficialmente contra o policial. O comandante reconheceu não haver provas que permitissem o afastamento do soldado de suas funções.
Ainda conforme o militar, atualmente o soldado não respondia por nenhum inquérito. “Ele respondeu recentemente pelo caso envolvendo a morte de duas pessoas durante perseguição com a Brigada Militar, na BR 285, entrada do bairro José Alexandre Zachia. Na época, ventilou a possibilidade de ter sido uma execução, mas o laudo pericial afastou essa hipótese” comentou.