O Rio Grande do Sul conta com mais de 5 mil pessoas desaparecidas no ano de 2013. Deste total, mais da metade é composta por crianças e adolescentes. Por outro lado, se o número de registros policiais envolvendo o desaparecimento de pessoas é alto, o índice de localização de desaparecidos também é relevante, chegando, ainda conforme os números da Secretaria de Segurança Pública, a 82,6% dos casos. Os dados são da Secretaria de Segurança Pública do Estado.
Apesar do alto índice de localização destas pessoas, os números de pessoas que nunca mais retornaram para suas famílias, é de mais de 4 mil nos últimos dez anos. Para tentar esclarecer o que acontece com os desaparecidos a Secretaria Nacional de Justiça do Ministério da Justiça, em parceria com o Escritório das Nações Unidas Sobre Drogas e Crimes (UNODC), elaborou um relatório que foi divulgado no último dia 18 de outubro em Brasília e trouxe revelações surpreendentes, como, por exemplo, a de que Passo Fundo faz parte de uma das rotas de tráfico de pessoas no Brasil. Outros municípios como Santa Maria, Porto Alegre, Uruguaiana e Caxias do Sul e Região Metropolitana também foram citados no estudo. Na tentativa de tentar entender o problema e prestar auxílio às famílias que têm um ente desaparecido, o Ministério dos Direitos Humanos orientou a Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Estado a criar em março de 2013 a Frente Parlamentar de Apoio à Pessoa Desaparecida, coordenada pelo deputado Aldacir Oliboni (PT).
Conforme o deputado, somente no Brasil, existem 28 rotas de tráfico de pessoas, boa parte delas encaminhando especialmente mulheres para o Exterior e isto acaba influindo diretamente nos números. “Muitas pessoas acabam aceitando propostas audaciosas, especialmente do mundo da moda, que geralmente são para fora do país e acabam se decepcionando. A idéia da Frente Parlamentar é realizar audiências públicas nestas áreas consideradas rotas de tráfico. O fundamental é que imediatamente após a constatação do desaparecimento seja feito o registro policial destes casos para que a procura comece o mais rápido possível. A maior parte destas pessoas que não são localizadas, muitas vezes, são vítimas de tráfico para exploração sexual”, afirmou.
Ainda de acordo com Oliboni, será lançada também uma cartilha contendo orientações para prevenir e informar a população quanto ao procedimento em caso de desaparecimento de um familiar que não é localizado. “O que a gente percebeu é que o maior número está na questão do tráfico para a exploração sexual, conflito familiar e há, inclusive, casos de tráfico de órgãos”, afirmou. Também segundo o deputado, a situação no Estado é tão alarmante que o Rio Grande do Sul deve, em novembro deste ano, aderir à Campanha coração Azul, da Organização das Nações Unidas que tratará da questão do tráfico de pessoas.
Apesar da questão do tráfico de pessoas chamar a atenção, em Passo Fundo a grande maioria dos casos termina com a localização ou retorno do desaparecido à família. Na maioria das ocorrências registradas, há um conflito familiar. Para o inspetor Volmar Menegon, chefe de investigações da 1ª Delegacia de Polícia, as ocorrências registradas em Passo Fundo, na grande maioria das vezes, resultam na localização do desaparecido. “Em 98% dos casos, as pessoas se afastam, perdem o contato com os familiares por poucos dias e depois reaparece. Esta pequena parte em que não há a localização é que preocupa, já que, geralmente termina com a pessoa desaparecida morta. A gente consegue perceber quando um caso é grave, em que há de fato um desaparecimento, quando a família nos procura e passa a ajudar na investigação. Os familiares pressentem quando há uma tragédia”, declarou.
Também conforme Menegon, ocorrências em que há encontro de cadáver sempre gera uma peregrinação das famílias até a delegacia para constatar se o corpo encontrado não é do familiar desaparecido. “As pessoas nos procuram sempre nestas circunstâncias. Cada vez que aparece um morto sem identificação as pessoas nos procuram. O grande problema é que se a pessoa não aparece, ela não é vítima de nada, não há como estabelecer o que aconteceu, se a pessoa simplesmente foi embora ou algo assim”, disse.
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