"Entraram na minha casa como se fosse um cabaré"

Família acusa policiais do 3° BOE de invadirem festa de aniversário e destruírem banheiro em oficina mecânica em Ipiranga do Sul

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Uma festa de aniversário que se realizava em Ipiranga do Sul, a cerca de 70 quilômetros de Passo Fundo, transformou-se, durante a noite de sábado (26) em um pesadelo para 70 pessoas que participavam da comemoração em uma oficina mecânica. Uma ação violenta de integrantes do 3° Batalhão de Operações Especiais terminou com pessoas lesionadas, um cômodo destruído e acusações por parte da família envolvida e dos convidados.

O princípio de toda a confusão seria uma briga ocorrida em um baile que acontecia a poucos metros do local em que as pessoas comemoravam o aniversário. No baile, um jovem teria se envolvido em uma confusão com um dos seguranças e fugido para a oficina, onde seus pais eram convidados do aniversário, inclusive, as imagens das câmeras de vigilância da oficina captaram o jovem retornando ao local, e, logo atrás dele um integrante do 3° BOE. O jovem teria sido perseguido por policiais do 3° BOE, que estavam em frente ao local onde o baile acontecia e como o jovem correra para a oficina os policiais entraram no local na tentativa de capturá-lo.

A partir daí, o que as imagens do circuito interno de vigilância da oficina mecânica mostram é uma confusão generalizada, onde nem mesmo as mulheres foram poupadas. De acordo com Tailor Spegiorin, aniversariante e proprietário da residência e da oficina mecânica, a ação dos policiais foi desmedida e violenta. “De repente começaram a aparecer policiais dentro da minha casa. Eles chegaram pela parte de trás e aquela porta só abre por dentro. Quando a porta abriu, bateram nela. Quando eu entrei o guarda que estava saindo me agrediu. Entraram na minha casa como se estivessem entrando em um cabaré. Foi um pânico total”, disse.

Ainda conforme Spegiorin, um dos policiais, ao perceber ser informado que a ação estava sendo captada pelas câmeras de vigilância ainda ameaçou o proprietário. “Fiz sinal pra ele parar, que as câmeras estavam filmando. Neste momento ele levou a mão até a pistola. Achei que fosse me matar”, afirmou.

Também através das imagens das câmeras de vigilância é possível ver o momento em que o filho de Spegiorin é atingido por um tiro de taser, arma que dispara choques elétricos. O jovem foi empurrado por um familiar para que parasse de discutir com os policiais, nesse momento, enquanto estava de costas e desequilibrado, é atingido. Segundo ele, após ser dominado por um dos policiais ainda recebia choques, mesmo imobilizado

A partir daí os convidados partiram para cima dos policiais, que usaram gás de pimenta para tentar controlar a situação.
Os militares também entraram no banheiro na tentativa de localizar o rapaz envolvido na briga no baile e teriam entrado em luta corporal com ele, destruindo o box e móveis, além de terem efetuado um disparo de arma de fogo que furou o piso. “Quando a coisa acalmou um pouco me dirigi ao policial que coordenava a guarnição e perguntei o que, afinal de contas, eles queriam, já que haviam invadido a minha casa, quebrado várias coisas e nos agredido. Eles disseram que queriam o rapaz que havia feito confusão no baile e que nós estávamos protegendo-o. Como eles não quiseram entrar de novo na casa comigo para encontrar o rapaz, eu entrei com outro policial, que é aqui de Ipiranga do Sul. Encontramos o rapaz, entreguei ele aos pais e depois para os policiais. Precisava bater, quebrar coisas e dar tiro dentro da minha casa? Era só ter pedido que eu entregaria o rapaz para eles”, contou Spegiorin.

Ainda de acordo com Tailor, além das agressões sofridas pelos amigos e familiares, outro fator foi o mais chocante em toda a ação truculenta dos policiais. “O que mais me dói não é o fato de terem dado choques no meu filho. Foi eles terem arremessado o berço com a minha neta de 3 meses em cima do colo da minha mãe e da minha sogra que estavam na cozinha assistindo a novela como se fosse um saco de lixo, como se fosse um bicho. Minha nora está lesionada, minha esposa apanhou de cassetete, dois cunhados ficaram machucados, eu estou com as mucosas lesionadas pelo spray de pimenta”, declarou.

Exames e MP
Os agredidos realizariam exames de lesões corporais ontem (segunda-feira) e hoje (terça-feira). Também hoje (terça-feira), Tailor deve formalizar uma denúncia junto ao Ministério Público de Getúlio Vargas. “Não estou trabalhando hoje, não tenho condições físicas nem psicológicas. Não houve registro de ocorrência. No dia do incidente o pessoal do BOE ao plantonista aqui de Ipiranga do Sul que não era para fazer o registro. Eles estão preparados para invadir locais, capturar bandidos, criminosos, isto seria o trabalho deles, não invadir uma casa com 70 pessoas de bem em uma comemoração. Se fosse um lugar com bandidos e criminosos, tudo bem, mas uma ação destas não tem lógica, não tem cabimento”, desabafou.

Contraponto
Procurado pela reportagem durante a tarde de segunda-feira (28), o comandante do 3° BOE, tenente coronel Adair Zanotelli afirmou que deve se pronunciar sobre o episódio durante a tarde de terça-feira (29).

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