A aproximação de um veículo desconhecido causa desconforto aos moradores das propriedades rurais do interior de Passo Fundo e região que já foram vítimas da ação de marginais. Os olhares desconfiados e a distância segura antecedem a recepção calorosa, bastante comum no campo. Essa insegurança passou a fazer parte, mais incisivamente, nos últimos anos, depois que os crimes se tornaram mais frequentes e violentos. Dona J.G.C, de 60 anos, estava em frente a propriedade, que fica na localidade de Bela Vista, quando a reportagem chegou. Hesitante, informou ser a dona da fazenda. A idosa relatou a tensão e o medo que passou durante quatro horas intermináveis, sob a mira das armas de cinco criminosos, numa noite fria de inverno. Os marginais, segundo ela, invadiram a residência no último sábado de julho do ano passado, logo depois das 19h. Eles permaneceram dentro da moradia até quase meia-noite.
Exausta de tantas ameaças e assistindo o marido de 70 anos ser agredido, viu a quadrilha retirar todos os objetos de dentro da casa, desde eletrodomésticos, até talheres, roupas e comida. “Eu lembro que eles levaram algumas caixas de leite. O que pegou as caixas, falou debochando que ia levar o leite para as crianças”, conta. Além de todos os bens materiais roubados, o crime tirou a qualidade de vida da idosa. Depois de oito meses, a vítima passa por tratamento com remédios e terapias. “Tem noites que eu não durmo bem, tem horas que eu caio no sono para fugir deste medo e, as vezes, parece que aqueles homens encapuzados já vão chegar. É horrível”, relata.
Foram os momentos de pavor vivenciados e o medo de um retorno dos marginais, que levou o casal a procurar alguns meios de prevenção, como travas e grades em todas as portas, além de câmeras de vigilância e alarmes que estão sendo providenciados. “Quando começa a cair o dia, eu preciso ver tudo fechado, trancado. E quando recebemos visita, nos finais de semana, chega perto das 16h e eu já começo pedir para irem embora, porque na minha cabeça os ladrões já vão chegar”, angustia-se. Com lágrimas nos olhos, a idosa menciona, ainda, ter perdido toda a sensibilidade. “Eu não sinto mais emoção nenhuma, não vejo mais graça em nada. Não quero ter que passar por isso nunca mais, pois, se eu passar, eu não aguento. É muito triste”, desabafa.
Mais vítimas
A mesma insegurança é vivenciada por outra família de Bela Vista. Dona O.C.S, de 61 anos, e o marido, são caseiros de uma propriedade na localidade e também vivenciaram a tensão de um assalto, em novembro de 2013. Desde a noite em que quatro criminosos arrombaram a porta e renderam o casal, a rotina foi alterada. Antes, faziam questão de deixar a casa aberta, diferentemente do que ocorre agora: portas e janelas sempre fechadas. A vivência levou os agricultores a estarem sempre trancados dentro de casa. Na época, os ladrões levaram um trator, um caminhão e uma motocicleta. “Eu estou sempre fechada. Quando escuto algum barulho, eu espio antes, e não abro a porta sem ver quem é”, relata. Para a idosa, o horário de maior atenção em relação aos barulhos é ao anoitecer, “porque foi a hora que eles vieram aquele dia”, completa.