Conflito acirrado

Moradores de Erval removem índios de acampamento às margens da RS 480

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Agricultores do município de Erval Grande e índios caingangues trocaram empurrões e pontapés, ontem à tarde, em frente ao prédio da Funai, em Passo Fundo. O conflito vinha se desenhando desde o último domingo, quando um grupo de aproximadamente 13 famílias indígenas saiu de São Miguel de Faxinal, em Água Santa, e decidiu montar acampamento às margens da RS 480, em Erval. 

O motivo da mudança, segundo o líder indígena Jacir de Paula, 50 anos, é a reinvindicação de uma área de 20 mil hectares existente naquele muncípio. A Funai já recebeu a documentação para abertura do processo. Inconformados com a presença dos índios , os cerca de 5 mil habitantes iniciaram, ainda no domingo, uma mobilização para retirada das famílias daquele local.

“Fizemos várias reuniões, procuramos o Ministério Público, encaminhamos um ofício ao Daer, mas não obtivemos resposta. Não sabemos da existência de terras de antepassados indígenas em nosso município” disse o vereador Adilson Morona, 41 anos. Na manhã de ontem, os moradores decidiram agir por conta própria. Por volta das 8h30min, iniciaram um protesto bloqueando a RS 480, em frente ao acampamento. O trânsito era liberado a cada 30 minutos. O comércio em Erval fechou as portas. Apenas a secretaria de saúde manteve o atendimento.

Uma hora depois do início do bloqueio, cerca de mil moradores se aproximaram do acampamento pedindo a saída das famílias. Sem acordo, os agricultores começaram a desmontar os barracos. Os pertences dos índios eram colocados na carroceria de um caminhão. As famílias tiveram de embarcar numa van e foram trazidas para Passo Fundo. Escoltados por uma viatura da Polícia Rodoviária Estadual, e acompanhados por carros particulares de agricultores, eles chegaram em frente ao prédio da Funai, por volta das 13h45min. Um grupo de Índios já aguardava no local.
Assim que indígenas e agricultores desembarcam o clima começou a ficar tenso. Após xingamentos e ofensas verbais, um grupo começou a trocar empurrões e pontapóes. Houve correria por entre os veículos que transitavam no local. Os índios chegaram a retirar ferramentas (enxadas) da carroceria de um veículo da prefeitura municipal que transitava pela rua Uruguai. Agricultores se armaram com pedaços de madeira encontrados nas proximidades. Os ânimos foram contidos com a chegada do policiamento da Brigada Militar. Ninguém ficou ferido.

“A gente estava acampado na beira da rodovia. Não invadimos nenhuma área. Estamos apenas reivindicando nossos direitos de maneira correta. Nossos barracos e objetos foram destruídos” protestou o líder Jacir de Paula. Já o vereador Morona disse que a retirada ocorreu para segurança dos próprios índios. “Já tivemos mortes aqui no município vizinho (Faxinalzinho), queremos evitar novos conflitos” afirmou.

O comandante do 3º RPMon, tenente coronel Fernando Carlos Bicca, conversou com representante de ambos os lados e os convenceu a participarem de uma reunião na delegacia da Polícia Federal de Passo Fundo. Enquanto isto, o caminhão com os pertences das famílias foi levado para o quartel da BM. A reunião durou cerca de uma hora. Ao final, a Funai sugeriu, por medidas de segurança, que o grupo retornasse para o acampamento de Água Santa. “Decidimos voltar para Água Santa, mas amanhã (hoje) vamos conversar com outras lideranças para avaliar a situação. Não vamos desistir da luta” disse Jacir de Paula.

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