Caso Bernardo: oito testemunhas são ouvidas

Para esta quinta-feira, 27, está programada a oitiva de outras 11 testemunhas no Fórum de Três Passos.

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Oito testemunhas de defesa foram ouvidas nesta quarta-feira, 26, em Três Passos, durante mais uma audiência de instrução do processo criminal referente ao assassinato do menino Bernardo Uglione Boldrini, ocorrido em 4 de abril deste ano. A Promotora de Justiça Silvia Jappe participou da audiência, presidida pelo Juiz de Direito Marcos Luís Agostini, e que também contou com a presença do Assistente de Acusação, Marlon Taborda, e dos Advogados de Defesa dos réus Leandro Boldrini, Graciele Ugulini, Evandro Wirganovicz e Edelvânia Wirganovicz.

Pela parte da manhã foram ouvidas quatro pessoas. O primeiro a falar foi um Agente do Presídio Estadual de Três Passos. Ele discorreu sobre a rotina dos réus no período em que estiveram recolhidos na penitenciária (atualmente apenas Evandro Wirganovicz permanece no local). Questionado sobre o comportamento dos acusados, o homem disse que especialmente Graciele Ugulini não demonstrava abatimento com a situação. Ele também revelou que, em determinada ocasião, a madrasta de Bernardo tentou, sem sucesso, manter contato por bilhete com Leandro Boldrini. Na sequência foi ouvida uma Professora aposentada que apenas fez um relato sobre a relação que manteve enquanto paciente com Leandro por conta de um procedimento cirúrgico.

A terceira testemunha a ser ouvida pela manhã foi uma técnica de enfermagem que trabalhava com Leandro Boldrini no hospital da cidade. Ela era assistente do médico durante a realização de exames de endoscopia e colonoscopia e confirmou que a semana em que Bernardo sumiu foi a mesma na qual ela notou a ausência de uma grande quantidade de ampolas do medicamento midazolam, substância encontrada no corpo da vítima. Segundo ela, o único médico da sala onde ocorriam os procedimentos que usava essa medicação injetável era Leandro, uma vez que outro colega utilizava o remédio em forma de comprimidos. Questionada pela Promotora sobre os efeitos da medicação em uso excessivo, a técnica de enfermagem respondeu que no hospital não era utilizado em crianças, pelo risco de ocorrer uma parada cardiorrespiratória. Ela também revelou que certa vez presenciou Graciele Ugulini dizer que Bernardo Boldrini “era esquizofrênico, era o diabo”. A mulher disse, ainda, que no dia da audiência realizada no Fórum da cidade para discutir a guarda do menino, a madrasta estava nervosa e falou para a secretária do consultório de Leandro “que tinha vontade de contratar um matador de aluguel para matar o guri”.

Logo em seguida foi a vez da babá que trabalhou durante um ano e meio na residência de Leandro Boldrini (no período em que a mãe de Bernardo, Odilaine Uglione, estava viva) prestar depoimento. Ela relatou que, nos últimos meses antes da morte do menino, voltou a manter contato com ele. Disse que nos encontros ele estava mal vestido, aparentava estar desnutrido e “tinha uma tristeza no olhar”. “Quando o pai não estava ele dizia que não podia entrar em casa”, lembrou.

Na parte da tarde, mais quatro testemunhas prestaram depoimento. Três delas eram médicos colegas de Leandro Boldrini. Todos disseram não ser íntimos amigos do réu e que mantinham com ele uma relação profissional. Um dos médicos informou que no dia seguinte ao desaparecimento de Bernardo esteve na residência da família para prestar solidariedade. Ele foi questionado pelo MP sobre como estava o casal. “Graciele estava sorridente, tranquila e Leandro não estava tão abalado quanto era de se esperar”, frisou. Outro dos médicos disse conhecer o pai da vítima desde que ele veio morar em Três Passos. Na última vez em que viu pai e filho juntos, relatou que percebeu uma relação fria entre ambos.

A outra testemunha ouvida foi a psicóloga que atendeu Bernardo Boldrini nos anos de 2011 e 2013. Ela disse que reiteradas vezes tentou manter contato com o pai do paciente para sugerir uma presença maior dele na vida do filho. “Entendia que faltava isso à criança”, disse. Em função disso, acredita que o tratamento foi interrompido pela família após três atendimentos em 2011. No ano de 2013, foi dela a iniciativa de propor a retomada do tratamento. “Via claramente que ele estava descuidado”. Ela afirmou que Leandro não acompanhava as sessões de terapia e que, em algumas delas, Graciele esteve em seu consultório com o menino. Conforme a profissional, tratava-se “da típica família reconstituída na qual a madrasta não aceitava o enteado”. A Psicóloga também relatou que Bernardo usava roupas inadequadas à temperatura, não fazia corretamente a higiene bucal e claramente sofria de falta de atenção e carência afetiva em alto grau, em uma clara situação de abandono afetivo. “Em 40 anos de profissão foi o pior caso no qual atuei e com o pior desfecho”, salientou.

De acordo com a Promotora de Justiça Silvia Jappe, os depoimentos desta quarta-feira foram de grande relevância, pois apesar de serem testemunhas arroladas pela defesa, várias confirmaram a má relação de Bernardo com o pai e a madrasta e deram detalhes sobre a situação vivida pelo menino.

A defesa de Leandro Boldrini desistiu de outras cinco testemunhas que seriam ouvidas hoje. Para esta quinta-feira, 27, está programada a oitiva de outras 11 testemunhas no Fórum de Três Passos.

Fonte: Ministério Público

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