O crime que desencadeou uma onda de protestos e se transformou em espécie de marco na luta contra a violência doméstica em Passo Fundo, será julgado na próxima sexta-feira (12). No banco dos réus estará Michel de Morais Rodrigues, 23 anos, acusado de matar com golpes de faca, a sogra e ativista Sílvia Aparecida de Miranda, 36 anos.
A partir de amanhã (10), até o dia do julgamento, um grupo de mulheres permanecerá todas as tardes de vigília em frente ao fórum para lembrar do caso. O ato marca o encerramento dos 16 dias de ativismos pelo fim da violência contra a mulher.
O assassinato de Sílvia aconteceu em 25 de outubro de 2012, no bairro Jaboticabal. Por volta das 23h50min, ela foi até a casa da filha, ambas residiam na rua Valter Vargas, e encontrou o acusado descontrolado e bastante violento. Na tentativa de defender a jovem, ordenou que ele deixasse o local. O rapaz investiu contra a sogra, que saiu da casa, mas foi perseguida e atacada com vários golpes de faca. Sílvia caiu nos braços de uma vizinha. Levada imediatamente ao Hospital São Vicente de Paulo, não resistiu aos ferimentos, principalmente na região do coração e pulmão, e morreu durante a madrugada.
O acusado teve a prisão preventiva decretada pela Justiça. Ele permaneceu recolhido no Presídio Regional de Passo Fundo por mais de um ano, mas aguarda julgamento em liberdade. Michel responderá por homicídio qualificado (motivo torpe). A sessão do júri inicia às 13h30min, no fórum de Passo Fundo e será presidida pelo juiz Orlando Faccini Neto.
Filha mudou versão sobre o crime
Arrolada como testemunha de acusação na primeira audiência na 1ª Vara Criminal, realizada em março de 2013, a filha de Sílvia e companheira do acusado, surpreendeu a todos ao mudar a versão dada à polícia. A situação fez com o advogado Leandro Scalabrin, que trabalhava para a jovem, de 19 anos, renunciasse imediatamente de sua defesa.
No primeiro depoimento, ela havia descrito uma rotina de violência física e psicológica ao lado do acusado. Sobre a noite do crime, contou ter encontrado suas roupas cortadas e espalhadas pelo quarto. Pouco tempo depois, Sílvia chegou ao local e, durante a conversa entre as duas, o réu interferiu e iniciou uma discussão. Também confirmou que o companheiro armou-se ‘provavelmente com um canivete’ e investiu contra sua mãe’ em frente à residência.
Já na audiência, a jovem mudou a versão dos fatos. Negou a briga entre o companheiro e a mãe e declarou que Sílvia havia atacado o genro com pedradas. Conforme a nova versão da filha, o réu tentava se defender quando Sílvia caiu sobre o canivete que ele tinha em mãos. A jovem assumiu ainda ter rasgado suas próprias roupas dentro da casa.
“Acontece que o laudo de necropsia comprova que Sílvia levou cinco e não apenas uma facada. Uma delas atingiu o coração, três embaixo do braço esquerdo e uma nas costas. Foi um caso clássico em que a mãe tentou proteger a filha e acabou sendo vítima” explicou o advogado Leandro Scalabrin, em entrevista ao ON, logo após a audiência.