Inquérito investiga divulgação de imagens

A divulgação de fotos de corpos de vítimas de mortes violentas, causam trauma aos familiares e podem terminar em processos criminais e cíveis

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Você já imaginou perder um familiar ou amigo bastante próximo em um acidente de trânsito e, horas depois ao fato, receber no celular imagens do corpo da vítima? O resultado desta ação é excessivamente traumático para quem já está em um momento de luto, explica a psicanalista, Aline Colussi Lazaretti. “É como se fosse uma trama de tecidos sendo rompida. Vem de forma bruta, em excesso, e o psiquismo é incapaz de absorver. A imagem vai ficar pra sempre”, salienta.

No último final de semana do mês de janeiro, dois homens morreram durante uma colisão entre uma motocicleta e um automóvel, na estrada entre Passo Fundo e Coxilha. No mesmo dia, imagens dos corpos já circulavam nas redes sociais e eram disseminadas via WhatsApp, discriminadamente. Para a psicanalista, os responsáveis pelas fotos e sua disseminação, são incapazes de reconhecer o outro como semelhante. “É como tratar o outro como um objeto de curiosidade e não como um ser humano”, diz.

No dia seguinte ao fato, mais fotos das mesmas vítimas circularam nas redes, porém, com um agravante: foram tiradas de dentro da sede do Instituto Médico Legal (IML), localizada no campus da Universidade de Passo Fundo (UPF). Familiares das vítimas registraram uma ocorrência e o inquérito já foi instaurado para investigar o fato. De acordo com o delegado Diogo Ferreira, que esta respondendo temporariamente pela 2a Delegacia de Polícia, o caso é tratado como crime. “Tirar uma foto para consumo próprio é uma coisa, distribuir é outra”, pontua.

Conforme o delegado, se o responsável pela divulgação das imagens for funcionário do IML, o mesmo pode responder criminalmente por violação do sigilo funcional ou, até, por vilipêndio de cadáver (desrespeito ao cadáver). Já em relação as fotos que são tiradas nos locais dos crimes, Diogo menciona ser mais difícil responsabilizar o indivíduo. “Nesses locais cabe ao órgão responsável, isolar uma área suficiente para que a população não se aproxime a ponto de conseguir tirar uma foto da vítima” conclui.

Para a psicanalista, independente do local onde as fotos foram tiradas, a atitude não se justifica. “É se desprender de uma relação de empatia com quem morreu e com seus familiares, para simplesmente chamar a atenção de todos para o fato de ter visto primeiro”, explica. Seguindo na mesma linha de pensamento, Aline chama atenção para outra questão: “A sociedade está caminhando de uma maneira individualista e indiferente, como se fosse qualquer coisa, o que não é”, completa.

IGP

De acordo com o diretor do Departamento de Perícias do Interior, Marco Curcio, o corregedor do Instituto Geral de Perícias (IGP), está no município e investiga, junto a Polícia Civil, a divulgação das fotos. “As imagens foram feitas, aparentemente, dentro do IML. Como a sede está localizada na UPF, nós estamos analisando muitos pontos, como horários de funcionamento e grade de trabalho dos funcionários”, comenta. Curcio frisa que outras pessoas tem acesso a sala, como funcionários de funerárias, alunos da instituição, e, também, funcionários da própria universidade. “Se a divulgação partiu de um funcionário do IGP, o mesmo vai responder, além de criminal, administrativamente e pode, inclusive, ser exonerado do cargo” finaliza.

 

 

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