Caso Bernardo: Pai é o 1º a depor em Três Passos

O depoimento teve início por volta das 10h30min.

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Leandro Boldrini narrou o relacionamento em família e afirmou inocênciaLeandro Boldrini narrou o relacionamento em família e afirmou inocência
Leandro Boldrini narrou o relacionamento em família e afirmou inocência
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Leandro Boldrini, pai de Bernardo Uglione Boldrini, foi o primeiro dos quatro réus a depor nesta manhã, no Salão do Júri do Foro da Comarca de Três Passos. O depoimento teve início por volta das 10h30min. "Tenho a cristalinidade que a acusação é falsa. Eu não participei disso", declarou Leandro, referente às acusações. "Os autores são os outros denunciados. Laudos, imagens mostram isso. Eu não tenho nada a ver com isso", afirmou o pai de Bernardo ao Juiz de Direito Marcos Luís Agostini, titular do processo. Complementando a resposta, o acusado respondeu supor "que está sendo denunciado a partir da 'intuição' do Ministério Público e da Polícia Civil".  Ao final do depoimento, que se encerrou às 13h45min, Leandro Boldrini se dirigiu ao Juiz e declarou: "Estou preso injustamente. Eu tô aqui para falar a verdade. Vou falar quantas vezes necessárias. Olhando nos seus olhos, com amor no coração pelo Bernardo: me destruíram. Cadê o Bernardo? Eu sou inocente, Doutor". Leandro lamentou por seus erros, que classificou de "injustificáveis": "Todo mundo erra. Tentei buscar o melhor. Sou uma pessoa esclarecida e jamais compactuaria. O senhor tem total autoridade para fazer justiça. Eu só quero que justiça seja feita. Estou lá há um ano, sobrevivendo. A mídia me massacrando, por sensacionalismo comercial. A justiça tem que ser justa, correta. Sou inocente."

Midazolam

O médico Leandro Boldrini explicou que o Midazolam é medicamento usado para sedativo nos exames de endoscopia e de colonoscopia, para dar tranquilidade ao paciente e o "efeito de amnésia". Ele não tem função de tirar dor. O medicamento ficava guardado na sala de endoscopia. Nas últimas semanas (até o desaparecimento do filho), não deu falta do medicamento. Informou que precisa de 'receita azul - tipo P' para a sua indicação. E que havia formulário na clínica e no hospital onde trabalhava. No consultório, a sala ficava fechada. Informou que ele, Graciele, uma funcionária e mais os colegas tinham acesso ao local. A secretária também tinha acesso. O controle do medicamento era "extremamente rigoroso". As receitas ficavam nas bancadas de atendimento e da secretária. Para ele assinar um receituário, era através da secretária dele. Ao Juiz, Leandro Boldrini negou que a assinatura no receituário (que teria sido usado por Edelvânia para a compra de Midazolam) fosse dele. Explicou que o cálculo da aplicação de Midazolam se dá por fatores, como o peso e o estado físico do paciente. Em crianças, o médico disse que é utilizado também.

Vídeos

Leandro confirmou que costumava fazer vídeos no celular para registrar momentos bons entre família. Sobre os que foram juntados aos autos, mostrando brigas entre o casal e Bernardo, inclusive com gritos de socorro do menino, afirmou: "Esses vídeos foram feitos com o intuito de registrar aquela agressividade para procurar ajuda médica, psicológica". O Juiz questionou sobre um vídeo que mostra declarações de Graciele dizendo para o enteado que ele não sabia do que ela era capaz e que ele iria "para baixo da terra". Leandro disse que lembra desse momento. "Mas jamais me passou pela cabeça de que ela fosse fazer isso", afirmou. Mas disse que foi nessa ocasião que resolveu buscar ajuda para o comportamento do filho. À Promotora, Leandro confirmou que o vídeo onde Bernardo aparece manuseando um facão foi mostrado na polícia porque interpretou como "uma ameaça". E afirmou que Bernardo tinha um descontrole emocional. Sobre a discussão do menino com Graciele, Leandro Boldrini afirmou que "foram agressões mútuas". Negou que houvesse agressões físicas.

Dia do desaparecimento

Leandro falou sobre a sua rotina no dia em que Bernardo desapareceu, em 4 de abril de 2014. Pela manhã, trabalhou na clínica, almoçou em casa com a mulher e os filhos. Bernardo estava muito alegre e eufórico. Leandro disse que achou que o "puxão de orelha que o Dr. Fernando e a Dra. Dinamárcia deram nele estava dando resultado". Disse que dormiu e depois foi para o consultório. Sabia que Graciele compraria uma televisão em magazine de Frederico Westphalen. Mas Bernardo não iria junto. O médico tinha uma cirurgia marcada naquele dia. Ele recebeu uma mensagem SMS no celular, do banco, avisando da compra da TV. Quando Graciele chegou, a TV estava no banco traseiro da caminhonete da família. Havia também um aquário. À noite, Leandro chegou em casa em torno de 20h30min. O Juiz perguntou se Graciele falou sobre Bernardo. "Ela disse que o levou junto para não ficar em casa fazendo barulho". Leandro conta que pensou: "Sinal de que estão se dando bem". Graciele contou que foi abordada por um policial rodoviário e que foi multada. Na sequencia, ela relatou que estava dando banho (na filha) e escutou alguém chegar. Era Bernardo, que informou que posaria na casa de um amigo. A madrasta questionou se ele tinha permissão do pai, o menino confirmou que sim. A Promotora de Justiça perguntou se o médico não reparou que, ao retornar, Bernardo não estava junto com a madrasta. "Estranheza é uma coisa que quando tu confia numa pessoa não chega a ser um fato concreto", respondeu.

As ligações que fez para o filho, a partir daí, "não se completavam", caíam na caixa de mensagem. Diz que ele ligou ainda na sexta à noite e que costumava fazer isso. Disse que não pensou em ligar para a casa do amigo de Bernardo. No sábado e no domingo, ligou mais de uma vez para o filho. Afirmou que, no domingo, se preocupou porque, pelo trato, Bernardo deveria estar às 19h em casa. Era o horário-limite para o filho retornar. Como não voltou, Leandro foi na casa do amigo de Bernardo. Quando foi procurar o filho, foi informado pela família que Bernardo não tinha estado lá na sexta. Como, às vezes, o menino trocava o destino, achou que pudesse estar em outro amigo. "Pode ser que tenha ficado na casa de alguém que não tenha contato, que amanhã ele apareça na escola", relatou Leandro.

Ele contou que foi na polícia e fez o Boletim de Ocorrência. Continuou tentando ligar para o filho, mas sem sucesso. Afirmou que também ligou para várias pessoas para saber o paradeiro do menino. Não percebeu comportamento diferente em Graciele. Confirmou que, naquele final de semana, o casal foi numa festa em Três de Maio. E disse que fez uma cirurgia eletiva depois do desaparecimento de Bernardo.

Soube da morte do filho quando já estava preso. "Fui conversar com a Graciele. Perguntei: 'Você tem participação nisso?'" A madrasta confirmou. Leandro disse que entrou em desespero. "Eu chorei. Fiquei indignado com ela. Quando vi o vídeo (da ida dela a Frederido Westphalen), foi cruel."

História de vida

Aos seus defensores, Leandro Boldrini contou um pouco da sua origem, Nasceu em Campo Novo. Pai é agricultor e a mãe dona de casa. Trabalhou na lavoura até a sétima série. Os irmãos só fizeram o Ensino Médio. A vontade de ser médico nasceu quando o pai teve uma cólica renal intensa e precisou de atendimento médico, quando Leandro era uma criança. A família sempre o apoiou. Ele foi para Santa Maria, passou em primeiro lugar no curso de Medicina. Foi aplicado, nunca rodou em nenhuma disciplina. O pai não era uma pessoa de falar. "Nunca ganhei um abraço, um colo. Mesmo assim, me passou bons valores. Minha sinceridade, meu peito aberto de estar aqui falando em público ganhei do meu pai, da minha família". Negou que faça uso de drogas. Advogado perguntou se, na prisão, fazem uso de drogas, ele respondeu que, onde está, não teria como, nem se quisesse, porque o acesso é muito restrito.

Fonte: TJRS

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