Conhecido no mundo do crime e pelos policiais como ‘Tapejara’, desde 2003, este homem intercala a rotina de prisões e liberdades. Só nos últimos dois anos, foi solto duas, das três em que foi capturado. Por enquanto, ainda está preso. A ficha corrida de ‘Tapejara’ é extensa. Os últimos episódios de prende e solta começaram em novembro de 2013, quando foi preso pelo crime de roubo. Quatro meses depois, já estava nas ruas. Não demorou muito para ele ser alvo de novas investigações e, dois meses após receber a liberdade, foi capturado mais uma vez, pela prática do mesmo crime. A prisão preventiva durou cinco meses, sendo contemplado, ao final deste tempo, com a liberdade.
De outubro de 2014, até março de 2015, a polícia voltou a investigá-lo, pois notou aumento no número de assaltos em uma região onde o criminoso atuava anteriormente. Como se esperava, foi preso em flagrante, logo após assaltar um pedestre. A história de ‘Tapejara1 é somente uma, entre tantas outras conhecidas pelas polícias – Civil e Militar -, pelo Ministério Público, pelo Poder Judiciário, pelo Sistema Carcerário e pela sociedade que, cansada de ser vítima, não compreende de que forma uma pessoa como o ‘Tapejara’, com uma extensa ficha policial e, até mesmo, criminal, retorna às ruas tão facilmente.
Círculo vicioso
“É um círculo vicioso. Um prende e solta, que sempre se repete e que contamina mais pessoas. Assim vai multiplicando e multiplicando, de modo que cada vez prendemos mais – o que aumenta o número de inquéritos, de processos e de presos dentro dos presídios”, desabafa o policial civil e presidente da Associação de Policiais Civis da Sexta Região, Rafael Moraes.
A preocupação é compartilhada, também, pelo delegado titular da 1ª Delegacia de Polícia, Diogo Ferreira. “O maior problema não é só voltar para o convívio da sociedade e delinquir, como sempre acontece, mas o recrutamento”, salienta. Em cinco anos de profissão, o delegado já vivenciou inúmeros casos em que grupos criminosos foram presos, mas em função da soltura de um dos integrantes, mais pessoas acabam aliciadas ao mundo da transgressão. “Prende-se um grupo e, durante um tempo, se tem tranquilidade na área em que atuavam. Passa um tempo, os fatos voltam a ocorrer. Pode contar que se o grupo não foi solto, alguns deles, ao menos, foram”, afirma.
E, é justamente quando o grupo se desmembra, que ocorre o problema referido. “Quando é roubo, precisam de mais um pra ajudar a roubar, quando é tráfico, precisam de mais gente para o esquema. Sempre recrutam outro, ou menor de idade, ou que já havia se desligado e é convencido a retornar para o meio ilícito”, argumenta.
Em números extraoficiais, Diogo joga alto: “Pelo menos 90% dos que prendemos, já têm antecedentes e atuam no mesmo modus operandi”, diz. Na Brigada Militar, segundo o comandante do CRPO-Planalto, tenente-coronel Fernando Carlos Bicca, que acompanha as prisões e opiniões dos brigadianos por meio de uma rede interna, a situação é a mesma. “É muito frequente o fato de as pessoas serem presas várias vezes, liberadas e presas novamente, pelo mesmo delito”, frisa.
A rotina do "prende e solta"
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