O amanhecer de segunda-feira não garantiu aos servidores estaduais inspiração suficiente para começar a semana com o pé direito. Ainda revoltados com a decisão do governo estadual de parcelar os salários referentes ao mês de julho, trabalhadores de diversas categorias resolveram parar as atividades e manifestar a insatisfação com a medida em todo o Estado. Em Passo Fundo a situação não foi diferente. Policiais militares e civis, agentes penitenciários, bombeiros, trabalhadores das áreas da saúde e educação se uniram a familiares e à comunidade para demonstrar a revolta com a situação. Durante todo o dia foram realizados protestos, especialmente em frente aos órgãos estaduais existentes no município.
Em frente ao 3º Regimento de Polícia Montada da Brigada Militar (3ºRPMon) a mobilização dos policiais começou ainda antes do sol aparecer. Muitas pessoas que passaram pelo local antes do trabalho manifestaram apoio aos policiais. Buzinando ou abanando, o gesto simples serviu de indicador sobre o apoio da comunidade aos servidores paralisados. “Apoio sim. O governador parcelou o pagamento do pessoal, e os servidores vão poder parcelar suas obrigações financeiras? É bem simples, por isso que eu apoio”, afirma o representante comercial Vinícius Becker que participou do ato em frente ao 3ºRPMon.
Brigada Militar
Tanto a entrada principal, quanto a secundária, localizada na lateral do 3 RPMon foram bloqueadas pelos manifestantes, formados por familiares de policiais. Segundo a sargento Miriam Canova da Rosa, presidente da Associação Beneficente Antônio Mendes Filho, o objetivo da ação, é mostrar que existe união entre os servidores públicos. “Nós estamos realizando uma paralisação pacífica e ordeira, mas queremos receber nosso salário de forma integral. Nós prestamos um trabalho de excelência dentro das condições que nos são oferecidas. Trabalhamos com amor a camiseta. Por isso, pedimos apoio da comunidade”, apela. O bloqueio ocorreu até às 18h30, quando os manifestantes liberaram os portões.
O tenente José Luiz Zibetti, presidente da Associação dos Subtenentes e Sargentos comenta que o sentimento dos policiais em relação ao pagamento, é de “terrorismo”. O tenente explica que, embora o salário venha parcelado, os descontos em folha, não. “Quem vai pagar os juros das contas?”, questiona. Zibetti diz que o medo enfrentado pelos funcionários, é que o parcelamento se estenda aos meses seguintes. “Estamos cobrando um direito previsto na Constituição. Trabalhou 30 dias, recebeu seu salário, não trabalhou, não recebe. Nós trabalhamos e, portanto, estamos lutando por nosso direito”, conclui.
Da mesma forma, o quartel do 3º Batalhão de Operações Especiais teve a entrada bloqueada. Servidores de serviço, passaram a manhã no quartel. A orientação para todos, era atender, somente, ocorrências graves, com reféns. Até o meio-dia, nenhuma viatura circulou nas ruas da cidade.
Corpo de Bombeiros
As portas do quartel do Corpo de Bombeiros permaneceram fechadas durante toda a manhã. Nenhuma ocorrência que não demandasse emergência, deveria ser atendida, conforme informaram os servidores de serviço.
Polícia Civil
Policiais civis estiveram em frente ao quartel, no primeiro momento da manhã. Posteriormente, deslocaram-se para a Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento, onde trancaram a entrada para a população, com fitas de isolamento. “Decidimos por não registrar boletins de ocorrência, a não ser os de crimes graves contra a vida – latrocínio e homicídio”, diz um dos representantes do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia Civil do RS – Ugeirm, Luiz Fernando Perin.
Embora as delegacias tenham ficado abertas durante todo o dia, no horário de expediente, nenhum procedimento de polícia judiciária – intimações, depoimentos, prisões e operações – foi realizado no horário de expediente. “Nossa vontade não é estar aqui, em paralisação. Gostaríamos de irmos para as delegacias fazer o nosso trabalho, como sempre, mas isso não vai ocorrer, se não recebermos”, salienta.
Da mesma forma que os militares, policiais civis temem a continuidade do parcelamento. “Acreditamos que o Governo não vai ter dinheiro para nos pagar integralmente no próximo mês, já que programou o restante do pagamento para dias próximo ao que recebemos normalmente. Se isso ocorrer, pode ser que, mesmo não tendo nada definido, comece uma greve”, comenta.
Presídio
No Presídio Regional de Passo Fundo, os agentes penitenciários também aderiram aos protestos e não realizaram algumas atividades externas. Conforme o representante do Ampergs Sindicato, que representa a categoria, José Oscar Fechner, com a paralisação, de nove audiências marcadas para a segunda-feira, seis tiveram de ser desmarcadas. Dentro da casa prisional, as atividades dos agentes da Susepe e da Brigada Militar que realizam a guarda foram mantidas normalmente. Além disso, as informações sobre as paralisações podem ter motivado uma tentativa de fuga que ocorreu na madrugada de ontem no presídio. Três apenados foram pegos em cima do telhado quando tentavam fugir.
Educação
O dia que deveria ser de retorno às aulas, depois do recesso de inverno, foi de portões fechados nas escolas estaduais. Como anunciado ainda durante a manhã pelo diretor do Núcleo de Passo Fundo do Cpers Sindicato, Orlando da Silva, todos os educandários do município paralisaram as atividades na segunda-feira (3). Na porta das escolas, ao invés de cartazes de boas vindas, os alunos se depararam com avisos de paralisação. Além disso, os professores se manifestaram em frente à 7ª Coordenadoria Regional de Educação (7ªCRE) com gritos que deixavam clara a indignação com o governo do Estado: “Sartori a culpa é sua. Hoje a aula é na rua”. O ato em frente à CRE foi seguido de uma caminhada até o Fórum. À tarde, os professores se reuniram em frente à Catedral, caminharam até o IPE e, em seguida, até a 6ª Coordenadoria Regional de Saúde, onde se uniram com outras categorias. Nesta terça-feira, os professores irão às escolas, porém as atividades devem acontecer com períodos reduzidos e cada escola deverá fazer reuniões internas para definir o que será apresentado nas assembleias municipal, no dia 12 de agosto, e estadual, dia 18 de agosto, sobre os rumos da mobilização dos servidores.
Saúde
A 6ª Coordenadoria Regional de Saúde de Passo Fundo atende mais de 60 municípios em toda a região. Ontem, aproximadamente 100 funcionários dos diversos setores paralisaram as atividades em apoio às manifestações. Durante o dia os serviços de vigilâncias sanitária, epidemiológica, ambiental em saúde e de saúde do trabalhador, assistência farmacêutica, e setores de planejamento e administrativo não funcionaram na coordenadoria. As ações desta terça-feira devem ser definidas em assembleia realizada pelo Sintergs.