Sem investigações, sem inquéritos e sem prisões

Até a próxima sexta-feira (04), apenas casos considerados graves serão atendidos pela Polícia Civil

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Em frente ao presídio, agentes penitenciários cruzam os braços, em greveEm frente ao presídio, agentes penitenciários cruzam os braços, em greve
Em frente ao presídio, agentes penitenciários cruzam os braços, em greve
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Quatro dias. O tempo pode parecer mínimo, mas, muitas vezes, é o suficiente para se apurar a autoria de um delito, concluir um inquérito policial e pedir a prisão dos suspeitos, afim de evitar novos crimes. Desde a última segunda-feira, a Polícia Civil parou, assim como os trabalhos oferecidos pela corporação.

Segundo o representante do Sindicato dos Escrivães Inspetores e Investigadores de Polícia (Ugeirm), Luiz Fernando Perin, somente uma equipe, que equivale aos 30% dos servidores previsto em lei, estão trabalhando. “Existem alguns crimes de gravidade que merecem ser investigados com maior urgência, como o caso do latrocínio na última sexta-feira, e está sendo. Só que é uma equipe apenas, trabalhando somente em um caso, entre tantos outros que são registrados, diariamente, numa cidade inteira”, pontua.

Conforme Perin, enquanto a polícia está de braços cruzados, muitos criminosos atuam fervorosamente. “Sem dúvida que a nossa greve é ruim para a sociedade, afinal, como ficam as famílias que foram afetadas por crimes?”, questiona e acrescenta: “São prisões que deixam de ser requeridas pelos delegados, por falta de investigação dos agentes, são delinquentes que continuam atuando e fazendo novas vítimas. Nós sabemos que a sociedade não merece isso, mas alguma coisa precisa ser feita por nós, em relação ao descaso que estamos enfrentando por parte do Governo”, diz.

O representante do Ugeirm deixa claro que não são, apenas, os dias de greve que afetam o trabalho realizado por eles. “Não adiante querer exigir do policial civil que ele volte a trabalhar com o mesmo ânimo que trabalha quando recebe seu salário em dia”, afirma. Segundo Perin, a preocupação e a insegurança em relação ao pagamento, mudam o foco do servidor. “Nós temos que começar a pensar em qual conta vamos pagar primeiro: se é a escola do filho, o mercado, a água ou a luz, de modo que não conseguimos nos concentrar no trabalho e manter o foco, como sempre mantivemos anteriormente”, conclui.

Outras dificuldades

Além do parcelamento salarial, os servidores ainda enfrentam outras dificuldades. Entre falta de verba para manutenção de viaturas, gasolina e, até mesmo corte da tinta usada para imprimir ocorrências e inquéritos policiais, como já ocorreu neste ano, os policiais que trabalham sobreaviso, deixaram de receber as horas extras.

Perin trabalha na Delegacia Especializada em Homicídios e Desaparecidos e relata com propriedade sobre o corte das horas. “Nós fazemos um trabalho extra, fora de horário de expediente. Normalmente ganhávamos um mínimo de horas por este serviço. Agora já não ganhamos mais, porém, somos exigidos pelo Governo, para fazê-lo”, explica.

Para não deixar a sociedade desamparada, em relação aos crimes de homicídio e desaparecimento de pessoas, foram tomadas medidas internas na delegacia. “Hoje, devido ao trabalho imediato que realizamos, de cada 10 homicídios, nove são elucidados. Ou seja, nove famílias obtém uma resposta sobre o motivo e em relação ao autor, justamente por essa atribuição extra, que fazemos sem receber, fora de expediente”, completa.

Susepe

A responsabilidade de conduzir os detentos até o Fórum, para comparecer às audiências agendadas é da Susepe, porém, o serviço de escolta não é realizado durante os quatro dias de greve. Segundo o representante sindical da Amapergs, José Oscar Fechner, cerca de 10 audiências diárias foram remarcadas devido a paralisação. Os processos, portanto, ficam atrasados.

As atividades internas mais básicas, como pátio e alimentação, continuam as mesmas, contudo, hoje (02), o número de visitantes será reduzido. Somente um visitante por preso é permitido entrar, ao contrário dos dias normais, quando até três pessoas podem visitar um único apenado.

De acordo com Fechner, a princípio a greve deve encerrar na sexta-feira, contudo, a decisão ainda pode ser alterada. “Enquanto isso, nós continuamos com braços cruzados, mesmo que ocorram problemas dentro da casa prisional. Se isso ocorrer, vai ser necessário a intervenção da Brigada Militar, por que nós estamos em greve”, salienta.

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