Baixo efetivo, muito trabalho

Com um reduzido número de policiais e uma demanda excedente, as delegacias distritais adotam a prioridade como estratégia de serviço

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Pilhas de ocorrências para investigar são encontradas sobre a mesa dos policiais civisPilhas de ocorrências para investigar são encontradas sobre a mesa dos policiais civis
Pilhas de ocorrências para investigar são encontradas sobre a mesa dos policiais civis
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Em um único dia, as delegacias distritais do município – 1ª e 2ª Delegacias de Polícia –, chegam a receber até 10 ocorrências cada uma, entre tráfico de drogas, furtos e roubos de pedestre, à residência, a estabelecimento comercial e a coletivo urbano para investigar, sem contar outros crimes. Apesar do esforço policial, somente as que envolvem delitos mais graves, como morte ou agressão física e verbal, as que chegam com alguma informação do paradeiro dos objetos ou com indicativo de autoria, serão investigadas.

Essa prioridade na investigação é uma estratégia adotada pela Polícia Civil, com seu reduzido efetivo policial, para atender as mais de 190 mil pessoas que residem em Passo Fundo. “Hoje, temos um número bastante reduzido de policiais para as nossas necessidades. Nós conseguimos atender de forma mínima, as ocorrências”, relata o delegado da 2ª Delegacia de Polícia, Claudio Belcamino. O titular da 1ª DP, Diogo Ferreira, concorda. “Na medida em que despachamos os crimes mais graves e de maior repercussão, tocamos as demais ocorrências”, completa.

Sem qualquer restrição, Belcamino fala sobre a preocupação que enfrenta diariamente em relação ao efetivo. “Na investigação, quando tenho a equipe completa trabalhando, são quatro policiais. Mas eles, como qualquer outro trabalhador, tiram férias, licenças e folgas para compensar as horas extras de serviço. Porém, o que me deixa ainda mais inquieto, é saber que dois deles, já têm tempo de trabalho e podem se aposentar a qualquer momento”, diz.

Segundo o representante do Sindicato dos Escrivães Inspetores e Investigadores de Polícia (Ugeirm), em Passo Fundo, Luiz Fernando Perin, existem 650 aprovados no último concurso da Polícia Civil no Estado, que não foram chamados. “Esse número de aprovados não supriria a demanda de todo o Estado, mas melhoraria esse quadro de efetivo que temos hoje”, argumenta.

Embora a previsão legal de servidores para as distritais seja de 30 policiais mais um delegado para cada uma, as delegacias contam com menos de 15 trabalhadores, que se dividem entre investigação, serviço de cartório e secretaria. Um déficit de 60% no efetivo. “Infelizmente é uma realidade geral na Polícia Civil, não um caso específico da 2ª DP. Inclusive, existem delegacias em situação mais grave que a nossa, na região metropolitana, com cinco ou seis funcionários”, acrescenta Belcamino.

Com dados históricos, Perin aponta a gravidade do problema que a segurança pública enfrenta atualmente. “Em 1985, o efetivo policial era de 6.289, para atender oito milhões de habitantes. Hoje, são 5.563 policiais para 11,5 milhões de habitantes no Rio Grande do Sul. Ou seja, temos menos policiais para quase 40% a mais de população”, salienta.

O número reflete diretamente no atendimento da sociedade, atingida pela criminalidade que aumenta dia a dia. “Se existe apenas um policial designado para investigar roubos a estabelecimentos comerciais e roubos a pedestres que ocorrem de um lado da cidade e outro para investigar os mesmo crimes, porém do outro lado, é óbvio que nem todos os delitos serão investigados e consequentemente esclarecidos. É humanamente impossível”, diz Perin. 

Mas o representante da Ugeirm esclarece que essa carência na investigação, não depende somente do trabalho policial, mas, principalmente do Estado, que realiza campanhas e incentiva as vítimas ao registro de ocorrência, a fim de obter a estatística, contudo não oferece o retorno que a sociedade merece. “Não existe a possibilidade de uma pessoa sozinha, investigar os três ou quatro roubos que chegam à delegacia, diariamente. Não tem como. Uma boa polícia se faz com qualidade, mas também com quantidade. Isso, inclusive, é instrução na Academia de Polícia: não existe uma célula de segurança com um só elemento. Sempre precisamos atuar em dois, no mínimo. Isso significa que polícia também é número. Que precisa, sim, de agentes”, ressalta. 

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