Polícia Civil desarticula esquema de fraude

Pelo menos 20 medidas cautelares e 20 mandados de busca e apreensão foram cumpridos na manhã de ontem, durante a Operação Bilhetagem

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Quase um ano depois de iniciar as investigações sobre o esquema de fraude nos caixas de coletivos urbanos do município, a Polícia Civil desarticulou o grupo criminoso responsável pelo desvio de dinheiro na Coleurb, empresa que presta serviços públicos. A “Operação Bilhetagem” ocorreu na manhã de ontem (12), em toda a cidade, e contou com a participação de mais de 100 policiais civis de Passo Fundo e região.
De acordo com o delegado titular da 1ª Delegacia de Polícia, Diogo Ferreira, foi possível apurar que, devido ao esquema ilícito dos funcionários, a empresa contabilizava um prejuízo de até R$ 200 mil por mês, valor suficiente para se adquirir até seis novos ônibus por ano. “É preciso deixar claro que esse ‘rolo’ reflete diretamente na planilha de valores dos vales-transportes. Ou seja, a população que realmente precisa utilizar os serviços, é quem paga pelos reajustes, consequentes dos desvios”, salienta.

Os 20 mandados de busca e apreensão foram cumpridos na residência dos funcionários suspeitos (motoristas e cobradores). Após, todos foram conduzidos até a delegacia para prestar esclarecimentos. Uma espingarda calibre 12 e cinco munições do mesmo calibre foram apreendidas na casa de um dos investigados. Este foi preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo. Duas espingardas de pressão modificadas, um simulacro de pistola, mil vales-transportes e R$ 6.500,00 em espécie foram apreendidos.
O Poder Judiciário não determinou prisão preventiva para o grupo, que deve responder criminalmente por peculato (desvio de verba pública), associação criminosa e extorsão, entretanto, os 20 integrantes do “botarpassagens” – nome dado para o esquema pelos próprios envolvidos –, devem cumprir medidas cautelares. “Eles estão proibidos de se aproximar das testemunhas e devem se recolher a domicílio durante a noite”, explica.
A medida foi tomada com base nas ações dos investigados, já que, segundo Ferreira, outros funcionários, principalmente os contratados recentemente, eram pressionados com ameaças, constrangimentos e, atém mesmo, agressões, para participar do esquema. “Uma das formas de ameaça que mais nos chamou a atenção foi um assalto encomendado pela organização criminosa, para intimidar um cobrador que havia se negado a participar do golpe”, conta.

Investigações

As investigações iniciaram em junho do ano passado, pela equipe da 1ª Delegacia de Polícia, depois que a diretoria da empresa protocolou o crime. De acordo com o assessor jurídico da Coleurb, José Mello de Freitas, a situação vinha sendo contornada internamente, até o momento em que alguns contratados informaram sobre as ameaças. “Quando chegou ao nosso conhecimento o fator ameaça, procuramos a polícia”, assegura.
Após ouvir testemunhas e descobrir que a organização contava com um aparato de armas para ameaçar os delatores, as investigações foram intensificadas. Câmeras de monitoramento foram instaladas nos veículos de determinadas linhas. A análise criteriosa das imagens serviu para comparar o pagamento dos usuários às planilhas entregues para a empresa ao final do turno. “Foi possível comprovar inequivocamente que entre os cobradores monitorados, ao menos 90% aplicaram o golpe”, diz.
Anteriormente à investigação, outros funcionários já haviam sido demitidos por justa causa, inclusive reconhecido na Justiça do Trabalho, devido à fraude nos caixas. Segundo Freitas, a empresa ainda não tem a precisão de valores desviados, mas está ciente de que é um montante. “Fizemos a troca de um cobrador quando desconfiamos do fato. Somente na linha onde houve a troca do suposto envolvido para outro sem envolvimento, somamos uma diferença de R$ 150,00 a mais em dois dias”, comenta. As investigações devem continuar por mais um tempo, já que, de acordo com Ferreira, é provável que exista envolvimento de outros funcionários.
O “Rolo”
Também denominado como “Rolo”, pela organização, o golpe consistia na troca de passagens estudantis e vales-transportes comprados em pontos de venda ilegal e por valores inferiores ao tabelado, por dinheiro do caixa. “Além de impactar diretamente na fixação do valor final das tarifas do transporte urbano, que afeta a todos os cidadãos, também estimula a prática de roubos e do tráfico de entorpecentes – já que as passagens roubadas são trocadas por droga nas bocas de fumo –, gerando resultados lesivos a toda sociedade”, completa o delegado.

 

O valor tabelado, hoje, é de RE 3,00
Cobrador obtém um vale-transporte por R$ 2,50
Usuário paga pelo serviço com dinheiro e o cobrador oferece outro vale como troco.
O funcionário da empresa vende a passagem, que pagou menos, pelo valor integral e obtém o lucro
O dinheiro do vale vendido dentro do ônibus, fica para o envolvido no esquema.

 

Medidas
A empresa suspendeu os servidores ainda ontem. Eles ficarão afastados durante os próximos dias, para que a assessoria jurídica da Coleurb possa analisar o inquérito policial. Após a análise, os funcionários podem ser demitidos por justa causa.


Na jaqueta de um cobrador, foi localizado uma abertura nas costas, escondida. Dentro do bolso embutido, estava um pacote com cerca de 60 vales. O funcionário usava a jaqueta para esconder as passagens que vendia diariamente e o dinheiro obtido com o desvio. “Funcionários de empresas de ônibus não precisam andar com vales-transportes, pois não pagam pelo serviço”, pondera Ferreira.

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