O Rio Grande do Sul conta apenas com a metade de policiais militares preconizados pela legislação. Somente 16 mil servidores integram o efetivo da Brigada Militar, quando o número ideal é significativamente superior: 36 mil. Desde que Sartori assumiu o Governo, 3.662 brigadianos se aposentaram, sem contar os que saíram da corporação para atuar em outros segmentos. A baixa também é sentida na Polícia Civil, que teve 250 agentes aposentados desde o início deste ano.
A crise da segurança pública chegou ao ápice na última quinta-feira (25), quando uma mulher, de 44 anos, foi morta com um tiro na cabeça, sem nem mesmo reagir ao assalto, na zona norte de Porto Alegre. Na mesma data, o então Secretário da Segurança Pública, Wantuir Jacini, pediu exoneração do cargo, quando foi constituído o Gabinete de Gestão da Segurança Pública. Enquanto não for nomeado o novo secretário, esse Gabinete responderá pela área e será coordenado pelo vice-governador José Paulo Cairoli.
Numa tentativa de apaziguar a situação falida que se encontra a segurança pública e restituir o controle da criminalidade da Capital, Sartori solicitou ao presidente interino, Michel Temer, ajuda da Força Nacional. Cerca de 200 integrantes devem ser enviados para Porto Alegre, a fim de ajudar as autoridades locais a combater a onda de violência. “Esta será a primeira etapa. Solicitamos, ainda, armas, equipamentos, veículos e também um presídio federal na capital ou para o RS, para ampliar as ações que todos temos nesse campo da área penitenciária de segurança”, disse o governador.
Entre as medidas anunciadas por Sartori, está a contratação de novos servidores, tanto para a Brigada Militar, quanto para a Polícia Civil. O que o governador não disse, entretanto, é que os 530 brigadianos chamados para realizar o curso, começam a atuar somente em abril de 2017 e não suprem, nem mesmo, a ausência de metade dos servidores que se aposentaram.
De acordo com o representante da Associação dos Sargentos, Sub-Tenentes e Tenentes da Brigada Militar, José Luiz Zibetti, as entidades representantes de classe alertam, há 18 meses, sobre a situação que a categoria se encontra. “Quem acha que a situação da região metropolitana não reflete por aqui, se engana. Temos policiais do 3° BOE atuando na Capital há meses, mesmo estando com o efetivo reduzido em Passo Fundo e apresentando um número cada vez maior de crimes”, diz.
Para Zibetti, a situação já vinha se mostrando preocupante, mas chegou ao “fundo do poço” nesta semana. “O governo finalmente acendeu a luz vermelha, finalmente deu um estalo do que está acontecendo e para onde estamos nos encaminhando. Como a segurança pública não vai ser priorizada se ela cuida da vida das pessoas? Como que não vão investir em polícia ostensiva, a responsável por inibir o crime? Não adiante esperar matar para agir. Depois da morte, só fica a dor”, argumenta.
Para o representante do Sindicato dos Escrivães, Inspetores e Investigadores de Polícia do Rio Grande do Sul (Ugeirm), em Passo Fundo, Luiz Fernando Perin, o discurso que o governador tem usado numa tentativa de despreocupar a população, não passa de propaganda enganosa. “Ele só fez uma coisa desde quando assumiu o Governo: tapar o sol com a peneira”, enfatiza.
Segundo Perin, a vinda da Força Nacional é um reflexo do clamor público e não da violência, propriamente dita. “Se a sociedade não cobrar do Governo, nada vai mudar. Nós, enquanto servidores, estamos nessa luta há mais de um ano, mas o governador bate de frente e não atende aos pedidos de socorro da segurança pública. Agora, se a sociedade começa enxergar a verdadeira situação que nos encontramos e cobrar de quem tem responsabilidade sobre isso, aí sim pode existir mudança positiva”, completa.
Deputado Juliano aponta soluções para reverter a crise
O assassinato de uma mãe, enquanto buscava o filho na escola, foi só o estopim da crise no Estado, que é não só da segurança, o fato suscitou na saída do secretário de Segurança Pública do Estado Wantuir Jacini. O deputado, Juliano Roso (PCdoB), oposicionista ao governo é enfático ao lembrar que a crise na segurança não começou ontem “o secretário pediu para sair, porque sabe que não se pode combater a criminalidade, sem efetivo da Brigada Militar e da Polícia Civil, sem estrutura, sem salário descente”.
Juliano chama atenção para o desmonte da segurança, apontado pelas estatísticas, atualmente o número de Brigadianos na ativa é menor que em 1985. O deputado critica o modelo de governo de Sartori, ao afirmar que o governador escolheu o do Estado mínimo. “ É um governo de improviso, que vem liquidando com os servidores públicos, o que reflete no recorde de pedidos de exonerações na Brigada Militar. Enquanto isso, perdem-se vidas em tragédias que se repetem todos os dias. Não existe saída sem a retomada do papel central do Estado como indutor do desenvolvimento e sem a valorização dos servidores”.
O deputado aponta soluções para reverter a atual crise, segundo ele, são necessários recursos e esses virão com o combate a sonegação fiscal, ao contrabando e a pirataria, sem aumento de impostos. “Nesse momento de crise e de dor que a sociedade gaúcha vive é preciso unir forçar para juntos combatermos e vencermos essa crise”, finaliza Juliano.