"Foi um único tiro que tirou ele de mim"

Esposa de vítima morta em frente a uma boate conta que casal não tinha o hábito de sair à noite

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Michele mostra as fotos tiradas no show, enquanto vivia os últimos momentos com o maridoMichele mostra as fotos tiradas no show, enquanto vivia os últimos momentos com o marido
Michele mostra as fotos tiradas no show, enquanto vivia os últimos momentos com o marido
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A noite da última sexta-feira (21) foi atípica para um casal que vivia junto há cinco anos e que não tinha o costume de sair à noite. Os dois mudaram a rotina naquela data, para se distrair. Eles se divertiram durante horas, até que acabaram separados por um tiro. Fatal. “Foi um único tiro. Só um tiro que tirou ele de mim”, lamenta Michele de Moura, sobre a morte do marido, Luiz Augusto de Almeida.

Depois de chegar a um consenso, Michele e Luiz Augusto arrumam-se rapidamente e saíram às pressas para assistir ao show da dupla sertaneja, Jorge e Mateus, no ginásio Teixeirinha. “Eu ganhei os ingressos e o acesso ao camarim da dupla. Não sabia se íamos, porque a gente não tinha esse costume de sair à noite. O Guto gostava de mato, natureza, lugares mais tranquilos e nunca queria ir paras as  festas. Eu que sempre insistia pra sair”, conta.

No espaço reservado para camarote, os dois cantaram, tiraram fotos e fizeram amizade até com o vendedor de bonés e chapéus que estava por lá. “O vendedor disse que era difícil encontrar um casal que brincasse como nós e falou que queria nos encontrar no show Wesley Safadão de novo. O Guto já tinha se animado até pra ir no Cabaré ”, comenta, com um sorriso no rosto.

Quando o evento terminou, Michele pretendia ir para casa. Luiz Augusto foi quem resolveu aproveitar o  restante da madrugada, junto com a mulher. “Ele sugeriu que  a gente conhecesse a boate que tem na Sete de Setembro, porque conhecia um dos caras que coloca som lá. Eu não estava com vontade, mas não quis contrariar”, lembra.

Os dois estacionaram o carro e caminharam alguns metros, próximo a uma aglomeração de pessoas, que estavam em frente à casa noturna. Luiz comprou o ingresso masculino e se dirigiu, de mãos dadas com a companheira, para a porta de entrada. “Ele estava do meu lado, com os braços erguidos pro segurança revistar. Daí escutei um estouros e achei que fosse rojão. Ele virou pra rua, pra ver o que era e me empurrou pra dentro da porta”, relembra, em lágrimas.

Quando voltou para perto do marido, em questão de segundos, viu o sangue no ombro dele. “Ele me segurou pelas mãos, olhou nos meus olhos e disse ‘amor, eu te amo’. Depois caiu no meu peito. Morreu aqui (aponta para o peito) nos meus braços”, chora. A ambulância socorreu Almeida até o hospital, mas ele morreu no caminho. O tiro atingiu o ombro direito da vítima, mas desviou, até o coração.

Um futuro
“Eu não sei o que vou fazer daqui pra frente”, diz, Michele, ao pensar em um sonho que foi interrompido. O casal tinha muitos planos junto, pessoais e profissionais. Enquanto Michele trabalhava como babá de um menino que também se chama Augusto, o marido era encanador. Tinha empresa própria e dois funcionários.


Mesmo não trabalhando no mesmo emprego, quem cuidava das finanças e do pagamento dos funcionários, era Michele. “Às vezes apertava o orçamento e eu perguntava pra ele como íamos fazer. Me respondia que ele só trabalhava e o que eu fizesse, estava bom. Ele confiava”, relata.
Os dois pretendiam trabalhar juntos. Ela deveria fazer engenharia ou arquitetura e, enquanto cursasse a faculdade, ajudaria com as instalações de canos. “Eu disse que precisava aprender, fazer um curso e ele respondeu que iria me ensinar. Só que eu não podia usar calça justa no trabalho”, ri, ao lembrar. 

O que fica
Com 31 anos, Almeida deixa, também, dois filhos: um menino de 11 e uma menina de 5 anos. Os filhos não moravam com o pai, mas estavam com ele sempre que podiam. O filho chegou na casa dos avós, onde Luiz Augusto morava, durante a entrevista. Ele queria algumas fotos que tinha com o pai, além de outros objetos. Lembranças de alguém especial, que não voltará a ver.

Gre-Nal
Gremista fanático, Almeida não perdia jogos do grêmio. Enquanto Michele trazia lembranças à tona, mostrava fotos do marido e objetos com símbolos do  Grêmio. “Esse final de semana teve jogo, mas dessa vez ele não pôde assistir”, conclui.

Investigação
A Equipe da Delegacia Especializada em Homicídios e Desaparecidos (DEHD) já chegou ao nome do suspeito. De acordo com o chefe de investigações, Volmar Menegon, o atirador estava dentro da boate, minutos antes. “Ele teria se envolvido em uma briga lá dentro e foi tirado pra fora, pelos seguranças”, diz.
Depois retornou ao local, armado. Na carona de um veículo Gol, disparou tiros em direção a porta da boate, sem qualquer preocupação com o aglomerado de pessoas que estavam próximas. Ele fugiu.

 

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